O que é 'empoderamento' feminino? Joice Berth explica sentido do termo

Quando uma mulher passa um batom vermelho para sair ou arruma o cabelo em um black power, ela está contribuindo para fortalecer o "empoderamento"? Para a arquiteta e escritora Joice Berth, uma das pensadoras contemporâneas do feminismo negro, não. Segundo ela, o termo tem uma conotação política e geralmente se refere a uma atitude individual que faz com que uma pessoa se "desamarre" de um hábito ou pensamento para fortalecer a própria voz, imagem e ideia.

Em entrevista à maquiadora Fabi Gomes, no "E Aí, Beleza?", programa de Universa que vai ao ar às quartas-feiras, às 19h, no Canal UOL, Joice explicou que o sentido original do termo é "completamente político". "Se levarmos isso a sério, é um conceito transformador", diz a autora do livro "Empoderamento", da Coleção Feminismos Plurais (Selo Sueli Carneiro com a Jandaíra Livros).

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Para ela, as estratégias de transformar o empoderamento feminino em um conceito ligado à imagem é algo proposto pelo mercado —que, ao mesmo tempo, oprime as mulheres com a ideia do "padrão de beleza".

"É uma jogada de mestre pegar a beleza, que é um ponto nevrálgico na constituição subjetiva das mulheres, e colar com esse desvio do empoderamento. Porque se vende que a mulher está empoderada por usar determinado batom, porque colocou silicone... Intuitivamente, independentemente de estar participando dos debates ou não, as mulheres sabem que não têm poder na sociedade", afirma a arquiteta.

"Só que ficar só na percepção instintiva faz com que algumas pensem: 'Olha, cortei meu cabelo, uso meu black power, tô empoderada'. E é algo além.

Empoderamento envolve beleza, sim, mas ela foi convertida em instrumento de opressão, lucro do mercado que oprime.

Afinal, o que é empoderamento?

No dicionário Michaelis, "empoderamento" é definido como uma ação coletiva desenvolvida por parte de indivíduos que participam de grupos privilegiados de decisões. O significado também aborda uma "consciência social dos direitos individuais para que haja a consciência coletiva necessária e ocorra a superação da dependência social e da dominação política".

Joice avalia que faz parte do jogo do "empoderamento" entender os lugares que cada um ocupa em sociedade e, principalmente, como agimos para impactar na autonomia do outro. "Temos que entender que não é a aparência que nos valida como ser humano produtivo ou capaz. A gente se empodera nas nossas possibilidades", explicou. "E quando esses processos vão crescendo, a gente acaba contribuindo com o grupo, para outras mulheres seguirem caminhos de autonomia."