Procon notifica centro comercial que quis expulsar menino negro de doceria
O Procon de São Paulo notificou na tarde de hoje um centro comercial do bairro de Perdizes, na zona oeste da capital, a prestar explicações sobre a conduta de um segurança acusado de racismo por tentar tirar uma criança negra de uma doceria no local.
A notificação ocorre poucos dias após a mãe do menino usar as redes sociais para contar sobre a atitude do segurança do Instant Center Centro e divulgar um vídeo do momento em que ela questiona a ele o porquê dele ter pedido que o menino se retirasse do local.
De acordo com a nota do órgão, o centro comercial precisará informar quais providências foram tomadas em relação ao segurança que abordou a criança, qual assistência foi prestada aos clientes lesados pela ação do homem, quais são os critérios de contratação dos funcionários e qual a política de treinamento aplicada a eles.
O Procon também pediu acesso aos manuais de procedimentos internos de segurança e abordagem utilizados pela empresa em relação aos idosos, menores de idade e pessoas com deficiência, assim como quais os mecanismos de segurança e vigilância utilizados nos locais de atuação.
O centro comercial tem até dia 5 de abril para responder aos questionamentos do órgão.
Relembre o caso
Na última sexta-feira (25) a jornalista Suzana Barelli, mãe do menino, contou que esperava a criança, que estava em uma sessão de terapia, dentro da doceria localizada no centro comercial para dar um brigadeiro para ele.
Segundos após ir ao encontro da mãe, o segurança do local entrou no estabelecimento dizendo: "Não pode pedir aqui". Segundo a jornalista, o filho entrou e disse: "Oi, mãe", sentou e foi pegar o brigadeiro.
"Nessa hora, o segurança abriu a porta, que estava entreaberta por causa do ar-condicionado, e falou: 'Não pode estar pedindo aqui'", conta Suzana. Dentro do estabelecimento havia apenas a atendente, uma outra cliente e a Suzana. Logo, não teria como ser um erro: a fala foi direcionada a seu filho. "Minha perna começou a tremer e comecei a pensar que eu precisava fazer alguma coisa. Errei até a senha do celular, mas ao conseguir desbloqueá-lo, comecei a questionar o segurança", disse em entrevista ao UOL Universa.
"Eu falava que não estava entendendo, mas o segurança repetia que era ordem do condomínio não permitir pedintes por ali. Mesmo que meu filho fosse um pedinte, não é dessa maneira que se trata um ser humano. Ele viu um negro entrar e aquele negro precisava sair, porque só podia ser alguém pedindo", destaca. Mesmo pequeno, o menino já entende que estava sendo vítima de um crime e, na hora, chamou a atenção do funcionário, dizendo que a cena se tratava de racismo.
Apesar do trauma, ela disse que tanto a funcionária quanto a cliente do estabelecimento foram extremamente acolhedoras ao presenciar a situação. Até a escola da criança, que foi avisada sobre a cena prontamente, começou a trabalhar o tema no colégio, no mesmo dia.
"Meu filho me disse que sentia raiva e que ele não pode ser tratado assim só por ser uma criança preta. Apesar disso, ele me diz que está bem. Tem tristeza, raiva, mas temos que criar nossas defesas e saber conviver com isso", explicou Suzana.
Em nota, o centro comercial afirmou que lamenta profundamente o ocorrido e afirma que a "diretoria da empresa apurou detalhadamente o caso e acionou as equipes internas, bem como a empresa de segurança terceirizada para seguir com medidas cabíveis e necessárias".
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