'Tento ser delicada nos pedidos': mulheres falam como é ser chefe do marido
O negócio de Roberta estava indo na contramão da crise da pandemia: chegou a crescer 300% enquanto a área de atuação do marido, audiovisual, estava completamente parada. Lia pagava mais para a sua funcionária do que o marido ganhava por mês, para ter um trabalho bem mais flexível. Já Gisele, sentiu que precisava de uma ajuda extra para alavancar ainda mais sua empresa. As três, então, resolveram oferecer uma vaga de emprego aos maridos.
Mas o que resolve um problema, às vezes, pode gerar outro: como fica equilibrio entre casamento e relação profissional? Universa conversou com mulheres que são donas de seus próprios negócios e têm os parceiros no time para entender como fica a relação de trabalho e a relação conjugal quando ela precisa delegar tarefas, fazer pedidos e, às vezes, mandar mesmo. Spoiler: se souber equilibrar, dá tudo certo.
"Sou eu quem determina as prioridades e ele sabe disso"
"No início, ter meu marido como novo sócio da empresa, mesmo que minoritário, foi bem desafiador. Abri meu negócio, a Casulo de Anjo, marca especializada em sacos de dormir para crianças, há seis anos, mas meu marido, o Vitor, se tornou meu sócio apenas há 2. Ele era diretor de fotografia, mas a área dele foi muito impactada pela pandemia e ficou completamente parada, enquanto o meu negócio chegou a crescer 300% no mesmo período.
Com essa deslanchanda da Casulo e a área do meu marido sem previsão de volta, ele veio trabalhar comigo. Foi uma época que precisei contratar mais funcionário também, porque como empreendedora, eu trabalhava quase sozinha.
Trabalhar em casal é muito desafiador, principalmente porque parece que o trabalho não acaba. Você sai do escritório, mas durante as refeições, por exemplo, segue falando de trabalho.
No nosso primeiro e segundo ano juntos, foi assim. Depois de identificarmos isso, percebemos que controlar melhor os horários e saber dividir trabalho, família e vida a dois.
O que acho bacana dessa nossa relação profissional é que temos talentos e características muito diferentes Eu lidero a parte comercial, vendas, produção, comunicação, pois sou jornalista e entendo a essência da marca. Já o Vitor, traz inovação para o negócio. Eu sou de colocar as coisas em prática. O Vitor tem mil ideias.
Como eu tenho a expertise da empresa, sou eu quem determina as prioridades. E ele sabe disso. A tomada de decisão é minha. Eu tinha muita dificuldade de ouvir. Todo empreendedor tem orgulho e isso pode prejudicar o negócio.
Apesar de eu tomar a decisão final, eu ouço e respeito as opiniões do Vitor. Não sou poderosa e absoluta. Tem que ter um respeito. E nós como empreendedores, não podemos achar que sabemos tudo", Roberta Pitta, empreendedora e fundadora da Casulo de Anjo trabalha com seu marido, Vitor Carvalho, há dois anos
"Tento ser delicada nos pedidos de correção de trabalhos"
"Quando o Daniel, meu marido, começou a trabalhar comigo, nosso filho não tinha nem nascido ainda. Já faz seis anos. Ele era funcionário de uma empresa de tecnologia e eu vivia no pé dele para me ajudar a fazer coisas.
Até que um dia falei para ele: 'Tenho uma pessoa que trabalha pra mim, que ganha mais que você, e que não tem que ir de ônibus todos os dias pro centro da cidade. Você topa trabalhar comigo?'. E foi assim que ele virou um funcionário da minha empresa. Para a gente é ótimo. Passamos mais tempo juntos e é muito bom para a qualidade de vida, ainda mais para quem tem filho pequeno. Mas tem suas desvantagens.
Às vezes, damos umas discutidas por conta do trabalho e isso abala um pouco o momento. Não tem como não concordar no expediente e seguir tudo igual na vida do casal. Rola um certo bode, tem horas. Mas acho que as vantagens são maiores.
Como sou do signo de virgem e tenho uma personalidade mandona naturalmente, tenho que me controlar e ser gentil com ele. Porque tenho que pedir que ele faça coisas o tempo todo, eu dou ordens. Mas ele é meu marido. Então falo mais delicadamente com os pedidos de refação de trabalho e correção.
Tenho que amenizar minha personalidade. Tenho esse embate comigo. Acho que o Dani sente falta das amizades e do ambiente corporativo. Eu saio bem mais. Mas temos uma parceria muito forte, de fazer tudo o que for preciso pela nossa empresa. Recomendo contratar o marido. Não sei se outra pessoa da família, mas com marido, funcionou muito pra mim", Lia Camargo, influenciadora e fundadora do site Just Lia, que trabalha com Daniel Mearim, seu marido, há 6 anos.
"Separar o pessoal do profissional é muito importante"
"Trabalho há 25 anos com desenvolvimento de pessoas e liderança, principalmente lideranças femininas. Minha inspiração para abrir meu negócio foi minha própria vida: era líder, sou mãe de três filhos e sei que conciliar maternidade e carreira é muito difícil.
Bati muito a cabeça e percebi que minha missão era ajudar outras mulheres a não sentirem culpa e transformarem seus talentos em sucesso. Queria inspirar a vida profissional de outras como eu. Minha empresa estava precisando de braços para me ajudar, então conversei com meu marido para trazê-lo para a minha empresa. Ele tem um olhar de gestão criativa, cuida das redes sociais, site e comunicação visual.
Ele faz isso muito bem e já fazia para outros clientes, mas meu negócio estava crescendo de uma maneira considerável e o convidei para trabalhar comigo. Alguns homens não iam gostar dessa ideia de trabalhar na empresa da mulher, mas ele topou, entende e apoia meu projeto.
A gestão do dia a dia é tranquila, mas no papel de chefe tivemos que fazer algumas negociações no começo para entendermos nosso papel. Conduzo meu negócio dentro do meu olhar, mas ele é uma peça-chave em ações do dia a dia e na administração. É difícil para todo mundo entender.
Tem que ter essa negociação constante, porque somos pessoas que pensamos de forma diferente. O mesmo acontece com um líder que tem seu time: você tem que ouvir as ideias, porque elas podem ser bacanas, mas tem horas que preciso me posicionar e dizer: 'quero assim porque eu acredito nisso'. É algo estratégico.
Separar o pessoal do profissional é muito importante, talvez seja até o maior desafio. Trabalhamos juntos há três anos e o time cresceu. Meu marido é um aliado muito importante que entende meu negócio. O papel de cada um está bem alinhado.
Ano passado, quando lancei o livro 'A Coragem de se apaixonar por você' (Editora Gente), ele ficou o tempo todo focado no papel de marketing e eu no de autora", Gisele Miranda é mentora em Carreira e liderança feminina da GGF Consultoria, e trabalha com seu marido, Higor Rodrigues, há três anos.
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