'Brincar com amor do outro' ou 'espaço de reflexão': 'dar um tempo' é ok?
"Quero dar um tempo". Ouvir essa frase do parceiro pode ser um choque. Muitas vezes, nem imaginamos que o namoro ou casamento está em crise, por isso, somos pegas de surpresa por tal pedido. Afinal das contas, tempo para quê?
"É preciso entender o motivo desse pedido de distanciamento. Qual o intuito? É para viver outras histórias? Não é? É por causa de um projeto de vida diferente? Isso precisa ficar claro para que possa favorecer a retomada do casal", diz a psicóloga e educadora sexual e colunista de Universa Ana Canosa. A proposta de se separar por um período nem sempre vem com a explicação dos motivos e nem com regras a seguir, por isso, pode ser muito angustiante para quem ouve o pedido.
A pior de todas as sensações é o desconhecido: esse tempo tem um limite? Limites e regras são fundamentais para aliviar o sofrimento daquele que não queria a separação. Quando o parceiro apenas propõe a separação temporária esse é um dos primeiros questionamentos que aparecem. "Se há um prazo, o outro se acalma, mas sem isso, gera uma sensação de insegurança e aflição ainda maior. Se for possível determinar um tempo para pensar nessa relação, ajuda muito", diz a psicóloga Cilene Dantas Bamberg.
Distância não cura tudo
Muitas brigas, discussões e a falta de habilidade de se entender podem ser alguns dos incentivos para alguém do casal pedir um tempo. Mas os especialistas garantem: a distância não cura tudo. "Se for para resolver problemas de convivência e comunicação, não vai funcionar ficar separado, por exemplo", diz Ana Canosa. Para solucionar algumas questões do relacionamento, o diálogo é imprescindível - e vocês não vão fazer isso separados.
Se a pessoa que pediu o tempo deixar claro qual o motivo da separação é preciso conversar para entender se, o que o incomoda, tem solução. "Relacionamentos são feitos de pilares: sexo, parceria, confiança, convivência, planos em comum... Às vezes, o casal se separa porque algum destes pontos está ruim. E com a separação, fica a saudade e eles voltam. Só que se o problema não for analisado durante essa distância, as brigas da volta serão maiores ainda", alerta Cilene.
Insegurança e pontos finais
Se os pedidos de tempo do parceiro são constantes, não tenha dúvidas: a insegurança irá surgir. O medo do que o outro vai fazer e pensar, e o que o levará a mais um pedido de distanciamento, pode tornar um dos lados da relação cada vez mais submissos, e o colocar em uma posição nada positiva na relação amorosa. Por isso, é tão importante conseguir reconhecer o momento de colocar um ponto final definitivo na relação.
"Às vezes, o sexo da volta é tão intenso que a pessoa perde de vista que existem mais coisas acontecendo ali. É preciso colocar na balança e perceber que a estatística de conflito está maior do que a fase sem", diz Cilene
"É importante cuidar da autoestima neste momento. Para conseguir terminar de vez, a pessoa precisa se sentir bem e segura. Ter a maturidade de segurar um ponto final definitivo", diz Cilene. Para a psicóloga, ela precisa ponderar porque essa relação está instável e cheia de brigas, olhar para o todo e perceber que, neste período, ela teve mais perdas do que ganhos e que isso está abalando a vida dela de outras formas.
Para Ana Canosa é importante conseguir olhar como a pessoa se sente quando está separada. "Por que vocês conseguem ser felizes separados? A pessoa tem que entender que não está aprisionada a essa situação", diz. Se o tempo sozinha está melhor do que a tensão de ficar junto, está na hora de se abrir para novas oportunidades.
Universa falou com mulheres que viveram a experiência de dar um tempo em um relacionamento. Para uma, deu certo. para outra, o sofrimento causou traumas para a vida.
"Se não estava mais bem pra ficar comigo, podia ter terminado"
"Eu e meu primeiro namorado ficamos juntos por quase 6 anos e posso dizer que o final foi bem traumático para mim. Estávamos planejando nos casar quando a mãe dele faleceu. E isso fez com que ele mudasse completamente. Ele me falava que precisava de um tempo e sumia. Não atendia ligações, eu ia atrás e não encontrava...
Comecei a ficar enlouquecida. Ele só pediu um tempo, não me disse quanto. Eu ficava querendo respostas. Achava que ele tinha outra pessoa, comecei a criar vários cenários na minha cabeça. Não entendia o que estava acontecendo. Ele sumia, voltava, às vezes queria fazer algo para mim...
Comecei a me sentir insegura. Eu estava acostumada com uma pessoa e com a nossa vida de amor e planos, mas tudo desmoronou. Fiquei alguns meses sem sair, mas como ele não dava sinal, comecei a voltar com a minha vida. Mas o trauma ficou. Na minha opinião, fazer isso é brincar com o sentimento do outro. Se não quer mais, deixe claro. Diz que quer viver sua vida, que não quer mais dar satisfação. Mas não fica nesse some e aparece brincando com o que o outro sente.
É claro que a perda da mãe impactou em seu comportamento, mas a personalidade dele também tem seu peso de responsabilidade. Se não estava mais bem pra ficar comigo, podia ter terminado. Faltou consideração" Priscila Torres, 37 anos, comerciante e modelo, Rio de Janeiro (RJ)
"Não teve uma ruptura definitiva, sempre conversamos"
"Meu relacionamento teve dois 'tempos'. Nos conhecemos em junho de 2012, ficamos e logo começamos a namorar. Não demorou muito para precisarmos nos distanciar pela primeira vez. Quando nos conhecemos, eu estava há seis meses solteira, depois de um relacionamento de cinco anos. Estava tudo muito recente e eu não sabia bem o que queria. Não estava pronta para engatar outro relacionamento.
Depois de dois meses separados, ele me chamou para sair novamente. Começamos a ficar novamente e ele me deu um ultimato: quando eu estivesse pronta para namorar, eu que falasse. Falei e ficamos juntos de 2012 até 2018, inclusive, morando juntos.
A segunda vez que precisei pedir um tempo foi mais sério. Estávamos há anos no conforto do relacionamento, vivendo aquela mesmice e eu não sabia se gostava do conforto ou da relação. Passei por uma crise e eu fiquei bem em dúvida. Mais uma vez, pedi para nos distanciarmos. Morávamos em Santa Catarina e nesta mesma época consegui um emprego na Serra Gaúcha e me mudei pra lá, sozinha.
Ao ficar longe, não só cada um em uma casa, mas em uma distância física que era difícil realmente de se ver, percebi que sentia falta de estar com ele, da presença, do que tínhamos construído e que, sim, gostava dele.
No período que ficamos separados, não definimos regras sobre se poderíamos, ou não, ficar com outras pessoas. Eu, por exemplo, não fiquei. Sempre procuramos resolver nossos problemas na conversa. Não teve uma ruptura definitiva, sempre conversamos. Para mim, foi bom. Acho que crescemos como pessoas e como casal.
Morei um ano em outro estado e ficamos seis meses longe um do outro. Mas decidimos que eu largaria meu emprego e voltaria para Santa Catarina. Eu estava triste, longe dele, da minha família e amigos. Voltei e já morando juntos novamente, bem quando a pandemia começou. Para que não tivéssemos mais essas crises, criamos estratégias para sair da rotina. Uma vez por mês temos nosso jantar romântico e tiramos uma noite só pra gente fazer algo legal." Carolina Oliveira, 31 anos, arquiteta, São José (SC),
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