'Não conseguia ficar sozinha e voltava': qual o impacto da relação ioiô?
"O amor é uma loucura e toda loucura tem um motivo". Foi essa a legenda escolhida por Rafaella, influenciadora e irmã do jogador de futebol Neymar, para anunciar mais um retorno no seu relacionamento com o também jogador Gabriel - o Gabigol, do Flamengo. O casal vive um relacionamento ioiô desde 2015. Entre diversas idas e vindas, eles já terminaram e voltaram cerca de três vezes.
A dupla não é o único casal no mundo com esse tipo de histórico. Outros casais também vivem no ritmo de vaivém em seus relacionamentos. Essa rotina de rompimentos não é um bom sinal. "Geralmente existe uma carga de insegurança e dependência, pois a pessoa acaba sempre voltando para aquele lugar que já conhece, mas muito desse lugar não é real. Não tem um investimento saudável da relação", diz a psicóloga Carolina Freitas, especialista em Sexualidade da Plataforma Sexo sem Dúvida. "Algumas pessoas mantêm esse comportamento por causa do famoso 'sexo de reconciliação'. Se todo o movimento da relação é feito focado nisso, não é bacana", completa.
E, como não é surpreendente, a mulher acaba carregando o "peso do fracasso" da relação muito mais do que os homens, tendo que lidar com o julgamento de família e conhecidos pela instabilidade em sua vida amorosa.
"Esse vai e volta pode significar manipulação de um dos lados, que acaba sempre cedendo às demandas e tendo uma relação pesada e sofrida. De alguma forma, a mulher acaba desqualificada por nunca dar certo. Faz parte de uma questão do machismo estruturado que vivemos" Lelah Monteiro, psicóloga de casais e sexóloga
E por consequência deste peso, a insegurança também se torna um fato determinante na vida desta mulher. "Geralmente é por isso que se aceita voltar. Ali é a zona de conforto, mas isso atrapalha a mulher, que precisa cuidar de si mesma. Se não fizer isso, como vai tentar outra paquera e outro relacionamento? Algumas vezes, a situação é até abusiva, o que é um grande impacto para a autoestima", diz Carolina. O medo de nunca mais encontrar alguém a que a entenda ou que a aceite, faz com que muitas mulheres se mantenham nessa situação.
Saber identificar quando é momento de parar com esse vaivém é determinante. Se toda vez que o casal retorna, nada muda, entram em um ciclo vicioso que nunca será quebrado. Por isso é preciso atenção. "Quando a pessoa começa a fazer o que não quer, como abrir o relacionamento, por exemplo, a pedido do outro, só para manter a pessoa é um sinal claro que está na hora de dar um basta. Vale prestar atenção também em quando foi que ela pensou: 'essa será a última vez' e cedeu novamente. Experimente viver novas histórias", diz Lelah.
Universa conversou com mulheres que viveram a experiência de ter um relacionamento ioiô e, spoiler: dá para ter um final feliz, sim.
'Eu não conseguia ficar sozinha, tinha medo de morrer assim'
"Tive dois relacionamentos ioiô. Um aos 17 anos e outro em seguida desse, com 20. No primeiro, nós brigávamos muito. Terminamos e voltamos umas quatro vezes. Era um relacionamento bem abusivo e tóxico. Ficamos juntos por três anos. Só consegui colocar um ponto final mesmo aos 20.
Ele era muito ciumento, tinha ciúmes até das minhas amigas. Se ele me ligasse e eu estivesse em algum lugar já ficava emburrado. Quando terminávamos, ele ameaçava se matar e a família ligava atrás de mim. Quando eu pensava que ia ficar livre, lá vinham mais ligações me culpando pelas coisas. A mãe dele costumava ficar do meu lado, mas as irmãs me odiavam.
Em seguida, aos 20 anos, comecei um outro relacionamento. Algumas situações me incomodavam, nós brigávamos... A gente terminava e depois voltava. Ele chegou a ficar comigo e com outras pessoas e sofri muito. Inclusive, eu até o bancava. Ele não trabalhava, então eu comprava comida, tênis, uma vez comprei um celular!
Sempre emendei um relacionamento no outro, então em 2019, quando terminei um noivado, decidi que tinha que ficar um ano sem estar em um relacionamento. Eu não conseguia ficar sozinha, tinha medo de morrer assim. Agora, é o contrário: não consigo mais me envolver. Estou na terapia trabalhado tudo isso", Franciele Santana, 27 anos, estudante de psicologia, Ribeirão Preto (SP)
'O relacionamento me destruiu'
"Meu relacionamento foi com um antigo amigo da escola. Nos vimos novamente em um reencontro anual do colégio e começamos a ficar. Tudo foi muito rápido. Em dois meses, ele já estava morando na minha casa. Tivemos muitos altos e baixos. Nós brigávamos, terminávamos, ele pegava as coisas e ia embora. Depois voltava.
Costumávamos discutir porque ele era o tipo de contar pequenas mentiras. Em vez de dizer que saiu do trabalho às 16h, falava que era às 18h. Eram coisas simples, mas que geram desconfiança. Na nossa última briga, por exemplo, vi que um dos emojis que ele usava muito era o de beijinho, mas pra mim ele nunca tinha mandado. E ele não me respondia.
Ficamos três anos nessa vida de insegurança, de termina e volta. Em setembro, ele me pediu em casamento na frente da minha mãe e do meu irmão. Eu fiz de tudo pela relação, mas fico me perguntando se foi o suficiente, se eu sou a chata e se deveria ter cedido mais. Faz um mês que bloqueei ele em todas as redes, após nosso término em dezembro.
As pessoas viam que eu estava em um namoro instável e me perguntavam como eu aceitava . Não sei responder. Sei que esse relacionamento me destruiu. Eu já não era muito segura, agora acho que não tenho nada de legal para oferecer. ", Vivianne Do Valle, 44 anos, autora do blog Vamos ser Sinceras, São Paulo (SP).
'Precisávamos dessa distância para entender que queríamos ficar juntos'
"Conheci meu marido em 2012. Na época, ele namorava e nós tínhamos muitos amigos em comum. Quando ele terminou um relacionamento de cinco anos, em 2013, nos encontramos novamente em um churrasco e percebemos que tínhamos muito em comum. Ficamos pela primeira vez em novembro desde ano, mas em apenas três meses, terminamos. Ele ainda se sentia ligado à ex e não estava pronto para uma relação. Um mês após o primeiro término, ele foi ao aniversário da minha filha e mais uma vez voltamos a ficar. E de novo, após pouco mais de três meses, ele quis terminar ainda por se sentir envolvido pela ex.
Falou que não queria bagunçar as coisas e nem me machucar. É claro que machucava, mas eu preferia que ele fosse sincero comigo. Nesse período eu fui viver minha vida, cortei relações mesmo. Apesar de nos vermos por conta de amigos em comum, não ficamos mais.
Em setembro de 2014, me mudei para a Bahia para morar com meu pai e até retomamos uma amizade. Coisa de 'Oi' e 'tchau', sabe? Um pouco depois da minha mudança, foi a vez dele, que decidiu ir morar na Bélgica. Com um oceano de distância entre nós, passamos a nos falar todos os dias. Foram seis meses longe um do outro e de muita conversa - mas apenas como amigos.
Quando eu voltei para São Paulo, em maio de 2015, ele já tinha voltado. Foi me buscar no aeroporto e não nos largamos mais. Vamos completar sete anos juntos. Precisávamos dessa distância para entender que queríamos ficar juntos. Se tivéssemos forçado a barra lá no começo, acho que não teríamos o relacionamento que temos hoje", Paola Maggiore, 36 anos, empresária, São José dos Campos (SP)
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