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'Acreditei que o Brasil poderia torcer para uma travesti', diz adm de Lina

Linn da Quebrada durante o Big Brother Brasil; cantora é 1ª travesti no reality - Reprodução/Globoplay
Linn da Quebrada durante o Big Brother Brasil; cantora é 1ª travesti no reality Imagem: Reprodução/Globoplay

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

10/04/2022 04h00

Durante o "Big Brother Brasil", todo participante tem uma equipe de administradores de suas redes sociais, conhecidos popularmente pela sigla "adms" — eles interagem com os seguidores, organizam as campanhas por voto, têm quase uma personalidade própria no posts. A de Linn da Quebrada é formada por seis travestis, como ela, e quem lidera este grupo é a comunicadora Ana Flor, mestranda em Educação na USP (Universidade de São Paulo).

"Quando ela entrou no 'BBB', acreditei que o Brasil poderia, de fato, torcer para uma travesti", disse, em entrevista a Universa, horas antes de Lina ser indicada a este paredão. "Mas, infelizmente, o fato de ela estar no BBB não significa que o Brasil vai ser menos transfóbico. Ela também recebe muitos ataques e tem sido um desafio complexo filtrar toda essa negatividade".

Ana também contou detalhes do trabalho por trás das redes da multiartista durante o confinamento, disse como lidam com ataques racistas e transfóbicos e o que prevê para o futuro "brilhante" dela depois do reality: "O saldo da passagem dela pelo BBB vai ser muito positivo. A Lina vai colher muitos frutos do que ela plantou e ainda está plantando. Tem uma galera querendo trabalhar com ela. Comercialmente, acredito que também será muito bom".

Ana Flor, comunicadora e mestranda em educação pela USP - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Ana Flor, comunicadora e mestranda em educação pela USP, comanda a equipe de adms de Lina no BBB
Imagem: Reprodução/Instagram

Denúncias de racismo e transfobia

Além de gerenciar todas as redes sociais de Lina, a equipe filtra e tabela todos os ataques transfóbicos e racistas contra a artista - o que, conta Ana Flor, não é uma tarefa fácil, especialmente porque elas têm que lidar com comentários transfóbicos e racistas.

Antes de entrar na casa, Lina deixou um psicólogo e um psiquiatra à disposição da equipe, se precisassem.

"A gente tenta colocar nas redes o que existe de melhor sobre a Lina — ela recebe muito carinho das pessoas, desde crianças e adolescentes até senhoras de 70, 75 anos.

"Mas, infelizmente, o fato de ela estar no 'BBB' não significa que o Brasil vai ser menos transfóbico. Ela também recebe muitos ataques e tem sido um desafio complexo filtrar toda essa negatividade".

A equipe registra em formulários de organização interna todas os ataques, com link e prints - muitos deles são enviados por fãs — que são encaminhados para a equipe jurídica.

"Registramos boletim de ocorrência algumas vezes, mas acreditamos que é mais interessante esperar a Lina sair do 'BBB' para saber quais casos terão continuidade e quais ficarão só no boletim de ocorrência".

Além de racismo e transfobia, a equipe encontrou, recentemente, uma página que usava fotos da artista durante o câncer, que enfrentou no início da vida adulta, para atacá-la. "Fiquei muito sentida com isso porque, apesar de tudo, o 'BBB' é um jogo, e acredito que um jogo deve ter regras, limites".

"Estamos sempre atentas, ela nunca esteve sozinha"

Um pouco antes de ser confinada, Lina chamou Ana Flor para um reunião e expressou seu desejo: que sua equipe fosse toda formada por travestis. "Ela disse que dessa forma se sentiria mais confortável, mais segura. Também deixou claro que elas não precisavam ter formação em comunicação, ela só queria pessoas que pudessem fazer um bom trabalho".

"Existem outras equipes maiores, outros participantes têm mais gente cuidando das redes sociais, mas somos seis meninas muito comprometidas", elogia. Todas já eram fãs da Lina antes do BBB e "se sentem representadas por ela".

"A gente se separa em turnos: algumas acompanham o pay per view de manhã, outras na hora da edição, algumas de madrugada, durante as festas. Tem uma planilha onde a gente se organiza para estar sempre acompanhando a Lina na casa. Às vezes é difícil, porque ela dorme muito pouco, isso faz com que a gente trabalhe mais, mas estamos sempre atentas, ela nunca esteve sozinha".

"Futuro brilhante" após "BBB"

Desde que entrou no "BBB 22", há pouco mais de dois meses, Lina Pereira ganhou muitos seguidores - hoje, soma 2,7 milhões. Além disso, tem sido procurada para parcerias comerciais.

"O saldo da passagem dela pelo 'BBB' vai ser muito positivo. A Lina vai colher muitos frutos do que ela plantou e ainda está plantando".

"Ela já era uma artista consolidada, tinha acabado de lançar o álbum 'Trava Línguas', acho que ela vai trabalhar nessa turnê, potencializar mais a carreira dela. E, comercialmente, também será muito bom. Ela tem um futuro brilhante fora do BBB", prevê Ana Flor.

"Participação da Lina foi pedagógica"

"A Lina fez o Brasil compreender a importância da presença dela. A participação dela foi pedagógica", analisa Ana Flor. "Ela fez com que o Brasil convivesse com uma travesti 24 horas por dia, dentro de casa.

"Ela está na TV, falando com as pessoas — nunca uma travesti teve tanto espaço de comunicação como ela tem.

"Recebemos muitas mensagens de mães, avós e avôs falando sobre filhos e netos LGBTQIA+. Esse é um retorno muito positivo, que mostra como a presença dela tem servido para reflexões. Não era esse o intuito dela, mas ela sabia que esse poderia ser um dos desdobramento da participação no BBB".

Ana acredita que o programa não será o mesmo depois da passagem da Lina. "Ela joga conversando com as pessoas. Infelizmente nós vivemos em um país que nos ensinou durante anos a tratar travestis e pessoas trans de maneira muito violenta. O que ela tem feito é mostrar que existem outras possibilidades".

No vídeo abaixo, Lina fala sobre representatividade. Assista:

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