Jovem é arrancada de banheiro após ser confundida com homem no Metrô de SP
Uma jovem de 21 anos procurou a polícia na noite de hoje para denunciar uma abordagem da equipe de segurança do Metrô de São Paulo realizada ontem, quando ela, com cabelos curtos, calça jeans e camisa polo, foi confundida com um homem e acabou retirada à força de dentro do banheiro feminino da estação Sapopemba. Uma amiga da vítima, que gravava em vídeo a ação, acabou agredida com um tapa no rosto. Um dos seguranças acabou afastado das funções.
A balconista Júlia Mendes estava retornando de um evento com amigos na noite do domingo quando, já nas dependências da estação Sapopemba, enquanto se preparava para pegar o monotrilho para voltar para casa, teve vontade de ir ao banheiro.
"Fomos eu e um amigo, o Renato, que também estava apertado. Ele entrou no banheiro masculino e eu, no feminino", contou Júlia a Universa. "Logo que entrei, as moças responsáveis pela limpeza começaram a chamar a minha atenção, dizendo: 'moço, moço, não pode entrar aí, não'. Eu então virei para trás e fiz um sinal com a cabeça, para que vissem que eu era uma menina, não um rapaz. Achei que tinham entendido".
Porém, segundo Júlia, as funcionárias além de não terem conseguido perceber o engano, ainda procuraram os seguranças da estação para denunciar que havia um homem usando o banheiro feminino.
Eu estava sentada no vaso, fazendo xixi, com as calças baixadas, quando tomei um susto ao ouvir murros na porta. Era um segurança, gritando para eu sair da cabine. Eu comecei a perguntar por que eu tinha que sair e ele só gritava palavras de ordem, mandando eu sair. Quando eu abri a porta, tinha dois seguranças. Um deles viu que eu era uma menina e pediu desculpas. Mas o outro acabou avançando para dentro da cabine quando eu disse que ele estava me constrangendo.
Júlia Mendes, balconista
A jovem conta que, a partir desse momento, o segurança começou a ficar ainda mais exaltado, gritando que ele estava ali cumprindo o serviço dele e que ele tinha sido alertado de que um homem havia entrado no banheiro feminino. "Eu não tinha reação, aquilo me assustou muito. Eu só dizia que era mulher, que ele estava me constrangendo, mas ele ficava mais e mais nervoso".
Renato, que estava no banheiro masculino, ouviu os gritos e correu até a entrada do banheiro feminino, para explicar aos seguranças que ela era mulher e não um homem. Nesse momento, o segurança mais exaltado saiu de dentro da cabine e partiu na direção do rapaz. Segundo a jovem, o segurança começou a gritar com ele, o desafiando para resolver a questão numa briga de rua.
Outros seguranças então surgiram do lado de fora do banheiro, para tentar apaziguar o mais exaltado. Renato aproveitou o momento para avisar pelo celular ao grupo de amigos que os aguardava na estação e todos vieram acompanhar a ação.
"A Maria Luíza já veio gravando tudo em vídeo com o celular. Nós questionávamos os seguranças por qual razão aquela cena vexatória ainda continuava, já que eu tinha esclarecido que era mulher. Eu também queria saber por que o segurança que me peitou não usava crachá. De todos, ele era o único sem crachá. Em nenhum momento ele reconheceu o engano ou pediu desculpas", conta a balconista.
Ao se ver gravado em vídeo por um celular, o homem teria agredido Maria Luiza com um tapa no rosto.
Os outros seguranças tentavam acalmá-lo, mas não adiantava. Ele estava transtornado. A Maria Luiza chorava, foi um horror. Quando conseguiram afastá-lo de perto de nós, exigimos falar com os responsáveis pela estação, mas só conseguimos tomar um chá de cadeira que nos fez até perder o último trem.
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Universa entrou em contato com a administração do Metrô de São Paulo, para questionar o que havia ocorrido e quais são as orientações dos seguranças ao lidarem com casos como os da garota. Por meio de nota, o Metrô afirmou que o agente de segurança foi afastado e que estaria apurando os fatos com todos os envolvidos.
"A empresa não compactua com nenhuma ação discriminatória e não vai tolerar qualquer desvio de conduta de seus funcionários", conclui o Metrô, na nota.
Denúncia
Júlia e os amigos foram até a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância para denunciar o caso. A intenção era registrar um B.O. por homofobia, mas, na delegacia, o grupo foi orientado a formalizar queixa como ameaça e lesão corporal, pelo fato dos envolvidos não os terem agredido verbalmente com ofensas claras quanto ao gênero.
Essa não é a primeira vez que sofro esse tipo de preconceito, só por usar calça jeans e camiseta. Afinal, o que define uma mulher é a roupa que ela veste? Tem lugares que eu até fico segurando a bexiga para não ter que usar o banheiro público e enfrentar uma humilhação. Espero que o inquérito policial vá em frente e que cada vez menos pessoas precisem enfrentar o que passei. Não desejo isso para ninguém.
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