Elas falam sobre seus casamentos abertos: 'Usar camisinha é única regra'
Cada vez mais, casais estão escolhendo viver relações não-monogâmicas —um termo amplo para práticas que rompem com o padrão 'tradicional', onde o casal só pode se relacionar sexualmente e afetivamente um com o outro. Entre elas, estão o poliamor, o relacionamento aberto e o swing. No caso dos relacionamentos abertos, uma das principais questões posta em xeque é a da fidelidade —para esses casais, está aberta a possibilidade de criar vínculos extraconjugais com outras pessoas. Ou seja: transar com outra pessoa não é visto como uma traição.
A colunista de Universa Mayumi Sato sempre esteve em relacionamentos longe da monogamia. Já a mineira Cristiane, precisou romper barreiras da criação machista para conseguir entender esse novo mundo e ter experiências longe do parceiro de 11 anos. Universa conversou com essas mulheres para entender as escolhas e os julgamentos de se viver uma relação de amor livre.
'Lidar com o ciúme e egoísmo é o maior desafio'
"Estou com meu parceiro há 18 anos, mas passamos a viver uma relação aberta há sete. Ele sempre teve uma visão mais livre, o que para mim, que vim de uma educação machista, era bem diferente. Mas crescemos e aprendemos juntos. Ele já tinha mencionado algo sobre amor livre e depois de vermos alguns materiais na TV começamos a conversar sobre o assunto. Para mim, ainda era algo distante. Na forma que fui educada, a monogamia é imposta sem que a gente questione o que é bom ou não.
Dada uma certa altura da minha relação senti vontade de viver outras experiências, com outras pessoas. Entendi que não seria por tomar a decisão de seguir em frente com isso que deixaria de respeitar e amar o meu parceiro.
A nossa conexão é tão grande que ele mesmo percebeu e me incentivou a ir em frente. Até tomei um susto, mas queria e vivi. Isso me fez uma mulher mais segura em todos os aspectos e trouxe vida para o meu casamento.
Claro que vivemos fases difíceis de adaptação e muitos preconceitos. Ter que lidar com o ciúme e egoísmo é o maior desafio. Às vezes, temos a sensação de posse sobre a outra pessoa e não é assim que as coisas funcionam. Ele sempre foi mais tranquilo, mas já rolou muito ciúme entre nós.
Demoramos para abrir para outras pessoas o tipo de relacionamento que vivíamos. Tínhamos muitos conflitos entre nós e não sabíamos se queríamos viver aquilo junto ou em relações individuais. Para minha família mesmo, me abri há pouco tempo, quando me senti preparada.
No início rolou muito entusiasmo e empolgação, tivemos uma troca maior de experiências. Mas no momento estamos em uma fase mais tranquila. Eu peço alguns conselhos para ele, ofereço alguns com a minha visão feminina.
Nossa troca ficou mais madura e interessante com o tempo. A minha visão hoje sobre esse relacionamento aberto é: eu posso me relacionar só com uma, com várias ou com ninguém. Mas não posso exigir o mesmo dele. Quero apenas vê-lo feliz, livre de posse ou de ciúmes.
A visão da sociedade sobre essa escolha é muito difícil. Quando a mulher se expõe e fala que é livre, incomoda. É vista como vulgar. A liberdade feminina incomoda muito.
E é algo que os homens sempre viveram, mesmo que escondido. Eu mostro minha segurança, mas não aconselho esse tipo de relacionamento porque vejo a dificuldade de compreensão na maior parte das pessoas. Dá para contar nos dedos quem realmente entende e mantém o diálogo sobre isso sem preconceito." Cristiane, Minas Gerais (MG)
'Não dá para esperar que todos concordem com meus valores'
"Eu e meu parceiro estamos juntos há 11 anos e eu, pessoalmente, nunca me relacionei com alguém monogamicamente. Quando nos conhecemos ele já sabia que era assim que eu vivia, por isso optamos pela não-monogamia desde o começo.
Como era a primeira experiência dele, começamos devagar e evoluímos com o tempo. Olhando em retrospecto, acho que foi um processo necessário para estabelecermos uma relação de segurança e confiança entre nós. No começo até tínhamos regras, mas nada muito imposto.
À medida que fomos nos fortalecendo, as regras foram caindo e passamos a precisar lidar com as nossas inseguranças de outro jeito. A única regra que prevalece é: uma vez que temos a possibilidade de sair com outras pessoas, temos que usar camisinha.
Mesmo que a relação seja entre nós. Isso não dá para mudar, é uma questão de saúde. Fora isso, não tem mais nada.
Temos uma vida a dois, mas fazemos questão de manter vidas sociais independentes também. Nós somos o parceiro preferido um do outro para tudo, mas ele viaja muito em turnê com a banda e eu a trabalho. Curto também passar férias sozinha, por exemplo. Gosto desse lado interessante dele, de ter a própria vida e eu não estar envolvida. Faz parte da nossa dinâmica.
Como eu já tinha casado e morado junto com outros dois parceiros, dessa vez decidimos que seremos sempre vizinhos. Já vivemos em três cidades diferentes, às vezes no mesmo bairro, outras na mesma rua e em casas próximas. Para nós, esse estilo de relacionamento está ligado ao fato de nos entendermos e sabermos que somos seres independentes. Por exemplo, ele é bagunceiro, sou organizada. Entendemos que esse tipo de coisa não dá para mudar. Seria um desgaste desnecessário.
Então, a gente se divide entre as casas: ou eu estou lá ou ele está aqui. Essa dinâmica funciona um pouco como não sermos monogâmicos: é com conversa. A relação é um reflexo de como pensamos o mundo como um todo. É a liberdade, autonomia e respeito pelo outro.
Nunca proibimos nada entre nós, mas vai da sensibilidade do momento. Eu sou muito ciumenta e antes fingia que não sentia nada, mas isso é pior, potencializa o sentimento. Se estou em períodos de autoestima mais baixa, ele não me conta as coisas.
Ele já foi mais ciumento, hoje sou eu quem é. Mas de forma geral, prefiro não saber o que ele faz. Não sou muito curiosa, mas quando conversamos é sempre com leveza.
As pessoas acharem que a forma quem vivo é uma bagunça só me ajuda a ter um filtro pra saber com que nunca vou me relacionar. Por exemplo: se alguém acha que casar na igreja é uma obrigação e eu não sou não tem como criarmos uma relação.
Não dá para esperar que todo mundo concorde com meus valores e possa ser um parceiro em potencial. Se quem segue todas as regras sofre críticas, imagina nós. Buscar entendimento e aceitação da sociedade não é algo que conversa com esse estilo de vida", Mayumi Sato, CMO do Sexlog e colunista de Universa.
Veja também: Fernanda Nobre fala sobre seu relacionamento não monogâmico no "E aí, beleza?"
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.