Estado civil: exausta. Relações modernas afetam saúde mental das solteiras
Atenção, solteiras: vocês estão se sentindo mais cansadas só de pensar em começar algum tipo de relacionamento, seja o mais simples deles? De beijos em uma festa a encontros marcados via aplicativos, parece que todas as escolhas passaram a ser das mulheres. O acúmulo de papéis, de sedutora a tomadora das decisões, está deixando as mulheres exaustas —e acabando com a possibilidade de novos relacionamentos engrenarem com facilidade.
"Quando falamos de relacionamentos a dois, nem daqui a 20 mil anos essa fonte de assunto terá se esgotado. Eles estão sempre se modificando", diz o psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamento pela Universidade de Miami. De tempos em tempos, há novas problemáticas e, atualmente, o empoderamento feminino está em pleno crescimento e faz com que tudo caia nos ombros da mulher.
"A realidade do momento, em geral, acompanha os relacionamentos. Planejar e pedir, por exemplo, que é mais ligado a criatividade, acaba ficando na conta da mulher", diz Gabriela Daltro, psicóloga e sexóloga da plataforma Sexo sem Dúvida. E se estamos cada vez mais empoderadas, mais responsabilidades recaem sobre nós, mesmo que a busca diária seja pela igualdade de gênero.
O que buscamos
Não foi fácil chegar aqui. Foram muitas manifestações, rompimento de barreiras, lutas e lágrimas. E ainda temos muito o que conquistar. Mas não temos um segundo de paz. Quando arrumamos um lado, o outro desarruma. E é isso que está acontecendo agora com os relacionamentos. Qualquer tipo de relação, seja ela amorosa ou profissional, precisa ter um equilíbrio.
"Saímos de um lugar onde éramos submissas para um momento que não precisamos de mais nada. A angústia é achar o meio termo entre a independência e o companheirismo", diz a psicóloga Ligia Dantas. "Somos seres sociáveis e precisamos do outro. Quanto mais independentes somos, menos temos esse sentimento. O nível de exigência da mulher moderna está muito alto. Ela não se submete mais a qualquer relacionamento, e sim, busca o perfeito", completa a especialista.
Ligia ainda destaca o fato de que as mulheres não precisam se submeter a relações que não a satisfazem, já que elas conseguem se bancar em todas as áreas, gerando esse afastamento. Não há mais tempo para esperar para ver o que o outro vai fazer. Eu quero, eu faço.
Homens encostados?
Dá para perceber se você está lidando com um cara de pouca iniciativa logo nos primeiros momentos de contato. "É importante olhar o investimento do outro e ver como ele aborda as questões que precisam de um primeiro passo. Se já na conquista o homem mostra uma passividade, avalie", diz Gabriela. Esse tipo de comportamento é perceptível no início e você não precisa investir em uma relação sozinha.
Segundo Alexander, esse comportamento pode estar também relacionado a personalidade de alguns tipos de homem —já que não dá para generalizar. "Existe o perfil aproveitador, que além de ser passivo ainda tira proveito e vantagens das situações. Há os que não se apaixonam, não se envolvem e não se doam para as mulheres. E tem o inseguro, que pode questionar no que ele é bom mesmo", diz. Esses perfis serão, geralmente, aqueles que deixarão as tomadas de decisão ainda mais na mão das mulheres.
Um novo momento
Mas por que, de repente, os homens resolveram deixar tudo nas costas das mulheres? "Tem o fato de eles estarem acuados, vivemos um momento de transição. Existe uma lacuna entre o empoderamento feminino e a compreensão masculina dos efeitos do machismo e do patriarcado, que também prejudicam os homens sob determinadas regras", diz Gabriela. Até eles estão confusos sobre o que cabe ou não dentro desse momento.
"As regras estão mais fluidas e se flexibilizaram. As mulheres também podem assumir os papéis, têm autonomia e independência. E estamos nos preparando para estar aqui e assumir mais as responsabilidades dos nossos desejos. Mas por outro lado, não estamos preparando os homens para agir de igual pra igual com as mulheres", completa Gabriela. Enquanto a gente avança em direitos, a sociedade não deixa claro que isso não significa que os homens precisam se ausentar de responsabilidades. Então, muitos escolhem o caminho mais fácil.
"Por mais que eles estejam tentando se desconstruir e agir de forma igualitária, ainda é difícil permear esses comportamentos culturais", completa Gabriela. Até o imediatismo dos relacionamentos passam a ser um impeditivo para as mulheres. "É uma era da instantaneidade. Estamos perdendo a capacidade de esperar? De ser encantada? De nos permitir? Quando achamos que chegou o momento, queremos resolver. E esse imediatismo está atrapalhando. Gera esse estresse de não saber a hora que agir e de antecipar as necessidades", diz Ligia.
Em busca da solução
Talvez, uma maneira da mulher resolver esse problema é olhar para dentro. "Será que ela está mesmo aberta para a relação? Ou essa geração está muito voltada para si mesma?", questiona Lígia. Às vezes, estamos tão presas no ciclo de empoderamento que não deixamos espaço para outras coisas. Tudo o que há de melhor sai de nós. Não existe a possibilidade do outro sequer tentar.
Além da autocrítica, analisar o começo do relacionamento pode dar os sinais sobre como serão os próximos capítulos: ele tomará ou não a iniciativa? "Às vezes, você está com um homem introvertido. É preciso observar se o ritmo e o perfil do outro é diferente", diz Gabriela.
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