Indígena de 7 anos viaja 100km para treinar futebol: 'Quero ser como Marta'
Aos sete anos, Sofia Rebeca Cunha já tem um sonho para o futuro: entrar para a seleção brasileira de futebol feminino. Para alcançar o objetivo, ela e o pai encaram, duas vezes por semana, um percurso de 100 km, de balsa e motocicleta, a partir da comunidade indígena Vista Alegre, na zona rural de Boa Vista, até o local de treinamento, na área oeste da cidade. "Quero ser igual a Marta", diz.
A menina é descendente do povo Macuxi e se apaixonou pelo futebol aos quatro anos de idade, quando começou a jogar bola com alguns garotos da região, segundo conta o pai, Tancredo Maruai Cunha, 34. Segundo ele, Sofia jogava somente em times masculinos porque não encontrava outras garotas da comunidade adeptas do esporte.
A rotina de treinamento começou há quase dois meses. Sofia viaja quase duas horas de casa até a escolinha de futebol, onde treina por cerca de uma hora. As aulas são pagas por um advogado conhecido na localidade em que a família mora. Cada travessia no Rio Uraricoera custa R$15, valor cobrado pelo dono da embarcação para o transporte da moto do pai. Boa parte do percurso na estrada é coberto por lama.
"Viam o talento dela e a colocavam para jogar no meio dos meninos, e até mais velhos. Ela foi descoberta em um retiro da nossa igreja, um advogado viu ela jogando e falou que a gente poderia colocar em algum time, foi quando eu conheci o atual treinador dela", contou o pai.
Tímida, mas fala com os pés
Sofia é flamenguista, tímida e fala pouco, mas em poucas palavras demonstrou a vontade de conquistar um espaço no futebol mundial. "Eu gosto muito de jogar. Quero ser igual a Marta", pontuou a menina sobre ter como referência a atacante brasileira Marta Vieira da Silva, considerada a melhor jogadora do mundo por seis vezes.
Embora não converse muito, a menina "fala com os pés" quando entra em campo, afirma o treinador Rosivaldo Lima, 54, conhecido entre os atletas como "Peteleco". Ele disse que, ainda em abril, pretende levar a aluna ao Rio de Janeiro para fazer testes numa escolinha de base do Fluminense.
"Às vezes ela chega meio abatida aqui e quando veste o uniforme parece que muda totalmente. Já trabalho há mais de dez anos levando meninos para fora, para o Rio e para São Paulo. Tem gente aí que para desenvolver no futebol só com dez, doze anos. Ela não, já tem o dom", destacou.
Casa sem energia elétrica
A comunidade onde Sofia mora com a mãe, o pai e os três irmãos, não tem acesso à energia elétrica e nem à internet. Sem muitas opções de lazer, a criança passa a maior parte do tempo resolvendo os deveres da escola, que fica próxima à sua casa, e aprimorando o talento no futebol, com os exercícios repassados pelo treinador.
A situação financeira da família dificulta maiores investimentos no futuro da menina. O pai está desempregado e sobrevive de trabalhos temporários na cidade, enquanto a esposa trabalha como vendedora em um mercado da capital. Contudo, mesmo com as dificuldades, Tancredo disse se esforçar para concretizar o sonho da filha.
Ele ressaltou que busca registrar as viagens que faz com a garota para mostrar que a família "nunca baixou a cabeça" diante dos desafios. Em um dos registros, Sofia está sentada em um banco de madeira da balsa, de chinelos e com o capacete da moto no colo.
"Damos apoio. Ela sempre teve essa vontade de se tornar uma grande jogadora e, por isso, estamos correndo atrás disso", ressalta o pai.
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