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Abuso sexual, suicídio, visões de Jesus: o que diz Damares em seu 1º livro

Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos - GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO
Damares Alves, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Imagem: GABRIELA BILó/ESTADÃO CONTEÚDO

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

20/04/2022 04h00

A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves lança hoje seu primeiro livro, "Tudo Começa na Infância'' (ed. CPAD), durante a Assembleia da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil, em Cuiabá (MT).

Universa teve acesso ao prefácio —escrito por Lídia Dantas Costa, presidente da União Nacional das Esposas de Ministros das Assembleias de Deus—, à introdução e ao primeiro capítulo do livro, que reúne experiências pessoais da pastora de 58 anos com a fé e algumas passagens de quando ocupou o ministério, tudo somado a um discurso sobre defesa das crianças e muitas passagens bíblicas.

"Este livro não foi escrito para as crianças. Quero falar com os adultos, com os pais, com os professores, com os cuidadores, com os educadores de crianças, com os líderes, com os pastores, com as pessoas simples e de bem deste país, com todos os que estão empenhados em fazer o bem e a combater o mal". Ela continua, mais adiante: "Preciso compartilhar com você minhas percepções, minhas experiências, minhas indignações (e não são poucas)".

Na introdução e no primeiro capítulo, Damares lembra os abusos sexuais que a vitimaram na infância, cometidos por pastores da igreja que frequentava, e pensamentos suicidas que teve para "se livrar do sofrimento". Ela defende, ainda, que adultos estejam preparados para acolher crianças vítimas deste tipo de violência, mas não menciona educação sexual e diz que "a igreja precisa entrar nessas discussões".

Segundo o sumário do livro, os capítulos seguintes, a que Universa não teve acesso, tratam de temas como adoção, automutilação e aborto.

"Tudo Começa na Infância", primeiro livro da ex-ministra Damares Alves - Divulgação/Editora CPAD - Divulgação/Editora CPAD
"Tudo Começa na Infância", primeiro livro da ex-ministra Damares Alves
Imagem: Divulgação/Editora CPAD

Visões de Jesus

A ministra conta que, aos 4 anos de idade, teria visto Jesus pela primeira vez, na porta de casa. Em sua narrativa, ele veio até ela sobre uma nuvem, desceu, tirou a roupa e entregou a ela, pedindo que lavasse. Damares teria visto a mesma imagem dois anos depois, quando pensou em cometer suicídio (trecho sobre o qual que você pode ler mais adiante).

No livro, ela diz que considera que seu elo com a fé começou naquele momento e que, embora a psicologia classifique experiências como essa como "amigos imaginários", não está convencida de que todos os casos de crianças que têm amigos imaginários sejam apenas imagens fantasiosas.

Abuso sexual

A pastora e ex-ministra relembra momentos de "profundo sofrimento" quando foi abusada sexualmente na infância, por um pastor da igreja que sua família frequentava. No livro, ela conta que a violência durou dois anos e que ela era ameaçada por ele de forma velada: para impedir que ela pedisse ajuda, o agressor dizia que ela iria para o inferno porque era "culpada, suja, pecadora".

Damares diz, ainda, que seu agressor não só "tocou em seu corpo", como "roubou o sonho de uma menina cristã", que era o de "morar no céu com Jesus". "Ele arrancou meu sonho, sepultando-o, que é isso que um pedófilo faz: eliminar sonhos, sepultar destinos. Ele marca as suas vítimas para sempre, desde que não haja uma intervenção, desde que não haja quem socorra", escreve, no primeiro capítulo.

Pensamentos suicidas

Em razão dos abusos sexuais, Damares diz que considerou suicídio. No livro, ela conta que chegou a subir em uma árvore com um punhado de veneno disposta a acabar com a própria vida, mas que teria sido salva por uma visão de Jesus. Na sequência, ela explica que não queria se matar, mas acabar com o sofrimento e a culpa que sentia em decorrência das agressões.

Damares defende que família e igreja devem estar preparados para identificar e acolher crianças vítimas de violência sexual -mas não menciona o papel da escola e nem da educação sexual no combate ao abuso infantil. Ela diz que se alguém próximo a tivesse acolhido, "o rumo de sua história seria outro".

Comportamento das vítimas

Sem mencionar consulta a nenhum especialista ou citar pesquisas e outras fontes confiáveis, Damares Alves descreve uma série de comportamentos de crianças e adolescentes que, segundo ela, seriam consequência de abusos: meninas viciadas em masturbação, dependentes de sexo, e homens que se tornam "maridos opressores, empresários derrotados, pais agressivos, envolvidos com drogas". Ela afirma, ainda, que algumas crianças "se deixam ser abusadas" em troca de um abraço.

"Ministra maluca"

Em outro trecho, Damares critica que, depois de tomar posse como ministra do governo federal, sua reputação foi "jogada na vala comum". Ela diz que foi rotulada como "pastora doida", "ministra maluca", "fascista", "misógina", "racista", "homofóbica", entre outros adjetivos do tipo.

"Como não existe um manual para tornar-se ministro, minha equipe e eu tivemos que aprender fazendo, levando golpes de todos os lados", lembra.

Futuro político

Damares Alves ocupou o cargo de ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos desde o início do governo Jair Bolsonaro (PL), em janeiro de 2019. A pastora, entretanto, anunciou em março que se deixaria a pasta para concorrer nas eleições de outubro, provavelmente a uma vaga na Câmara dos Deputados. Recentemente, ela se filiou ao Republicanos.