'Pantanal': as lições de Guta para quem é machista e ainda não notou
Na novela "Pantanal", da Globo, não é só o conflito de perfis entre Tenório (Murilo Benício) e Jove (Jesuíta Barbosa) que incita cenas de embate entre os personagens. A presença de Guta (Julia Dalavia) nas terras do pai também traz lições que colocam as falas de Tenório, quase sempre preconceituosas e machistas, como parte de um problema ainda maior: as violências que mulheres, pessoas LGBTQIA+ e outros grupos sofrem cotidianamente, na vida real.
No folhetim, Guta é uma jovem livre e ciente de que todos têm os mesmos direitos. Por isso, a cada "patada" ou comentário preconceituoso do pai, ou mesmo uma experiência em que ela é assediada, a personagem se coloca com veemência.
Na segunda fase da trama, ela já se mostrou contra o assédio, a homofobia e deu aula para muita gente que é machista mas nem sempre percebe as próprias atitudes discriminatórias. Veja alguns destaques das lições que jovem já deu na novela:
Dizer que "homem tem que ser homem" é homofobia
"De macho não tem nem a cara. Aquele moleque num passa d'um flozô! Um sujeitinho frouxo que, se fosse filho meu, eu afogava! Homem tem que sê homem... E mulher tem que sê mulher", disse Tenório sobre Jove, ouvindo a resposta da filha na sequência. "E se eu fosse lésbica, o senhor também me afogaria? Se eu amasse outra mulher, como seria?"
É neste momento que Guta diz para Tenório que os comentários que ele fez são parte de um problema muito maior: a violência que acontece contra pessoas LGBTQIA+ no Brasil, pela discriminação por causa da orientação sexual ou da identidade de gênero. "E onde a senhora acha que nasce a violência? Toda a opressão contra a comunidade LGBT? É dentro de casa! É porque naturalizamos esse tipo de comentário, esse tipo de 'brincadeira' que o Brasil é o país onde mais se mata LGBTQIA+ no mundo", explica a jovem para a mãe, que acompanhava a conversa.
Ela é livre para transar com quem quiser
Desde que chegou ao Pantanal, Guta demonstra um comportamento mais livre que, às vezes, gera embate com seus familiares locais. A tensão acontece de forma mais acirrada com o pai, Tenório. Em uma ocasião, ele tentou questionar a vida sexual da filha, falando sobre ela "se entregar de graça" para Jove. Ela, então, faz uma piada com a preocupação do pai. "O senhor prefere que eu cobre?" A cena é uma lição sobre como mulheres adultas não precisam estar nas rédeas de ninguém para viverem suas experiências amorosas e sexuais. Nem mesmo dos pais.
Usar biquíni --ou tirá-lo-- não é convite para assédio
Em uma cena no rio, Guta tira a parte de cima do biquíni para se refrescar na água. Ela comenta sobre a energia do lugar com Alcides (Juliano Cazarré), que faz comentários sobre o corpo dela em um tom de assédio; depois diz que fez os comentários porque a jovem estava se "esfregando na cara" dele.
Guta sabe que tem os mesmos direitos de ser livre como qualquer outra pessoa e se levanta para responder ao capataz. "Vim tomar banho de rio e eu tomo banho do jeito que eu quiser." Ainda assim, Alcides se mostra machista ao dizer que "se ela está se mostrando, é porque quer atentar", objetificando o corpo de Guta novamente. Ela, então, diz que quer, na verdade, que ele fique bem longe.
Mulher não tem que "se dar o respeito"
A situação é bem comum: uma mulher está em uma festa e, depois de dançar com um par, outro homem a chama para a pista. Acontece que, em "Pantanal", a cena gerou uma briga entre Jove e Alcides por causa de Guta. Após o ocorrido, no entanto, além de repreender Alcides por causa da confusão, Tenório diz à filha que ela "precisa se dar o respeito"; como se a culpa fosse dela.
Essa é uma ideia comum que atinge as mulheres que sofrem violência ou estão em situações de risco, mas é errada: a vítima não tem culpa do que acontece com ela quando o papo é machismo e outras opressões. "Era só o que faltava para fechar esse show de horror com chave de ouro o senhor colocar a culpa em mim", rebate, com razão, Guta. Ela ainda vai dar muito o que falar.
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