'É bi ou lésbica?': o que namoro de Fernanda Souza ensina sobre sexualidade
Foi com uma foto no Instagram, em que aparece olhando para a namorada Eduarda Porto, que a atriz Fernanda Souza anunciou aos seguidores que tinha um novo relacionamento, na sexta-feira (22). De maneira sensível, a famosa escreveu na legenda do registro sobre a descoberta de ser quem se é. "Se conhecer e acolher cada descoberta sobre si é um processo enriquecedor e transformador".
A revelação gerou notícia na imprensa e comentários nas redes sociais. Parte deles atribuindo que Fernanda teria "virado lésbica" ou presumindo que ela é bissexual. A orientação sexual da atriz não foi revelada por ela. Para o criador de conteúdo sobre bissexualidade Nick Nagari, é aí que mora o perigo.
"A decisão de falar sobre a orientação sexual não é algo preto no branco, e deduzir que ela é bi ou lésbica acaba acelerando um processo que é próprio da pessoa. Se isso é difícil para anônimos, imagina para quem é uma pessoa pública. Parece que ela tem que vir a público com um rótulo pronto".
Nick, que é bissexual, fez um post no Instagram falando sobre o fato de tentarem descobrir mais sobre a sexualidade de Fernanda, sem que a atriz tenha usado algum termo para definir a própria orientação sexual. "O que se sabe é que ela se relaciona com uma mulher, não dá para afirmar que ela é bi só porque foi casada com o Thiaguinho se ela não falou nada sobre isso".
Psicanalista e coordenadora de um grupo de trabalho de diversidade e gênero no Vale do Aço, região metropolitana de Minas Gerais, Camila Mendonça explica que deduzir a orientação sexual alheia é uma forma de apagamento de parte da história e do entendimento de si mesma da outra pessoa. "Se falamos que a pessoa é ou heterossexual ou lésbica, parece que a bissexualidade não existe. E isso é uma forma de violência".
Decepção com homem, "virou lésbica": os comentários da internet
Até esta matéria ir ao ar, a foto de Fernanda e Eduarda já tinha recebido 2,3 milhões de curtidas. Em páginas de fofoca, a exposição também levou ao casal, entretanto, comentários de que "Fernanda se decepcionou com homem" e de que "ela virou lésbica", como se a escolha de amar outra mulher presumisse uma relação direta com algum homem de sua vida.
"Reduzem a sexualidade a uma questão binária. Quando veem duas mulheres, homens perguntam se 'não cabe mais um nessa relação'. É como se elas não pudessem falar do lugar delas", aponta a psicanalista. "Isso acontece porque vivemos em uma sociedade com estrutura machista e extremamente LGBTfóbica".
Nick considera que o namoro entre Fernanda e Eduarda, apesar de não autorizar ninguém a dizer se elas são bissexuais ou lésbicas, ajuda a quebrar essa barreira da visibilidade de pessoas LGBTQIA+.
"Há uma força na foto das duas, porque nossa sociedade heteronormativa não consegue conceber que o homem não é o foco de uma mulher".
Camila considera que o fato de a atriz ter falado do relacionamento é mais uma contribuição na luta para que pessoas LGBTQIA+ sejam vistas. Mas não é porque a atriz é conhecida por seu trabalho que precise, obrigatoriamente, expor sua vida amorosa.
O 'sair do armário' é algo particular, que por vezes envolve coisas muito dolorosas. Mas se a pessoa se sente confortável para isso, tem uma rede de apoio, que também pode ser construída na internet, isso gera uma visibilidade enorme.
"São pessoas LGBTQIA+ como Fernanda falando de suas narrativas para quem até pouco tempo não tinha referências e para outras pessoas que gostam dela. Agora, falar sobre isso não deve ser uma obrigação, senão se torna uma violência dupla".
Amor é amor. Mas, então, é só abandonar os rótulos?
Quem está descobrindo os próprios afetos e desejos, diz Camila, pode se sentir pressionado com as definições. Isso também deve ser levado em conta na hora de expor ao mundo a própria orientação sexual. Ou seja, ninguém precisa ultrapassar o próprio limite para dizer mais sobre sua vida amorosa e sexual.
Mas, caso se sinta à vontade, pode se sentir mais acolhido a partir do momento que vê outras pessoas com as mesmas experiências de vida. "Precisamos falar, sim, dessa pressão. Mas também não desconsiderar a importância dos rótulos porque, com eles, a comunidade consegue se unir e se ver", pontua Nick.
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