Professor faz jogo da discórdia contra aluna em Santo André: 'Desamparada'
O ano começou com boas expectativas para a vendedora Helen e a filha de 15 anos, moradoras de Santo André, no ABC paulista: pensando no melhor para a adolescente, a mãe a matriculou numa escola que tinha uma maior carga horária. Mas a garota sofreu bullying de alunos do nono ano, com participação do professor, e hoje, afastada, se automutila para esquecer a dor da humilhação.
Era janeiro quando a adolescente entrou na escola Vereda, cuja mensalidade custa a partir de R$ 970, e logo conheceu um colega de classe com quem se relacionou. Mas ao mesmo tempo, passou por um problema de saúde que resultava em episódios de desmaio, e logo foi alvo de fofoca: um grupo da classe disse que ela estaria grávida.
Semanas após o ocorrido, a adolescente recebeu colegas da sala em sua casa para fazer um trabalho em grupo, mas apenas ela e um outro amigo que realmente se esforçaram, e ao apresentar a tarefa ao professor, contou exatamente o que aconteceu. Ela tirou a nota maior que os demais, e foi perseguida por isso. O professor tomou as dores dos outros alunos.
"Esse profissional, de 21 anos, que era um professor substituto, sugeriu um jogo da discórdia na sala de aula, e colocaram o nome da minha filha em vários xingamentos no quadro. Na hora ela me ligou e mandou a foto. Liguei para o diretor, que demitiu o profissional", conta Helen a Universa.
A história só piora: os alunos da escola ficaram do lado do professor e passaram a perseguir ainda mais a adolescente, culpando-a pelo que aconteceu com o profissional de educação. Universa teve acesso a mensagens que ela recebeu nas redes sociais, e os ataques são pesados.
Helen procurou uma delegacia de polícia para fazer um boletim de ocorrência. Mas desistiu ao ouvir de um agente de segurança que ele teria que chamar os colegas de classe de sua filha.
"Fiquei com medo de represália e resolvi dar mais uma chance à escola. Eles fizeram palestra na turma, escreveram uma carta para minha filha, mas ela não aguentou os olhares. Resolvi tirá-la de lá. Ainda pedi que devolvessem o equivalente a R$ 4,5 mil das mensalidades, matrícula e o uniforme que ela nem usou, mas se negaram."
Em meio a toda essa situação, a adolescente, que teve problemas familiares na infância, voltou a se automutilar, como já fazia em outras ocasiões de tristeza, e hoje tem acompanhamento com psicóloga.
"Quando a vi machucada, desabei porque ela não veio falar comigo", desabafa a mãe.
A família de Helen mora em Cotia, a cerca de 1h30 da sua casa, e as duas contam apenas uma com a outra para passar por tudo isso. A vendedora, inclusive, tem trabalhado em casa para ficar mais tempo com a caçula. Por isso ela, que tem ainda uma filha de 23, esperava mais apoio da direção da escola.
"Quero justiça, e não é dinheiro. Quero acolhimento para minha filha, ajuda com a terapia."
A adolescente também espera que os pais conversem mais com seus filhos. Ela falou com Universa ao lado da mãe.
"Não acho que a escola fará alguma coisa, mas que sirva de alerta para os pais. Tenho meus problemas, mas estava havia um ano sem me machucar, e acontece tudo isso. Me sinto desamparada."
O advogado da família, Renato Vidal, da Vidal e Vidal Advogados Associados, lembra que a escola tem o dever de coibir a prática do bullying. E se um aluno for vítima do ato, ele deve procurar a direção e os coordenadores da unidade. Caso nada seja feito, os envolvidos podem ser processados por omissão em relação à coibição do bullying, ele explica.
"O problema, nesse caso, é que o professor adotou uma postura de incentivar e dar ferramentas para a prática do bullying", ele comenta.
O ataque pode configurar num crime de injúria, e por isso, atenta Vidal, é importante que se faça um boletim de ocorrência. As investigações darão suporte para uma possível ação cível de indenização. Caso comprovada, até os responsáveis pelos alunos poderão sofrer alguma sanção, já que eles respondem pelos adolescentes.
O outro lado
Em nota enviada a Universa, a escola Vereda informa que não apenas identificou como tomou todas as providências que considerou cabíveis referente ao caso com a estudante. Diz ainda o texto:
"A instituição salienta que repudia todo e qualquer tipo de violência física ou psicológica e não comenta situações pontuais internas como forma de resguardar seus alunos, menores de idade em fase de formação pedagógica e social."
A escola informa também que quando acontece alguma situação que não condiz com a cultura promovida na unidade, estudantes e colaboradores recebem orientações pedagógicas e/ou sanções de acordo com o seu regimento interno. E que oferece aulas de habilidades socioemocionais, palestras e assembleias semanalmente para os alunos.
"Somado a isso, os colaboradores passam por capacitações, treinamentos e orientações no modelo um a um para que o cuidado com a integridade física, psicológica e social seja diário, valorizando o respeito e a saúde emocional."
Por fim, a escola afirma na nota que é referência em qualidade de ensino, e que não apenas repudia toda e qualquer forma de bullying, como age contra ele. "E continuará firme no seu propósito de combater essa realidade que impacta negativamente crianças e jovens brasileiros."
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