Giovanna Lancellotti: 'Nem um terço da minha vida está na internet'
A atriz Giovanna Lancellotti é cria da internet. Como ela mesmo conta, mesmo antes de ficar conhecida como atriz, já era bem ativa nas redes sociais e tinha mais de 100 mil seguidores no Twitter. Aos 28 anos, ela afirma que é da geração que já nasceu conectada, mas aprendeu a não se expor tudo nas redes socias para não abrir portas indesejadas. "Gosto de por um certo limite no que exponho. Até porque quando acontece alguma coisa, as pessoas se sentem no direito de palpitar na sua vida, de se intrometer, de dar muita opinião", afirma, em entrevista a Universa.
Essa troca de influências da internet é um dos temas do filme "Incompatível", que estreia nesta quinta-feira (28) nos cinemas. Na história, a jovem Thaís, interpretada por Giovanna Lancellotti, decide terminar o noivado de seis anos após assistir aos vídeos de conselhos amorosos de Patricia Bacchi (Nathalia Dill), que ensina a testar se sua parceria é compatível com você. Indignado, Fábio (Gabriel Louchard), o ex de Thaís, resolve se vingar e acabar com a popularidade da youtuber.
Para além das cenas divertidas, o filme propõe diversas reflexões. Entre elas, o quanto nos deixamos influenciar sobre o que personalidades da internet vendem como verdade absoluta e como isso pode fazer alterações profundas nas decisões pessoais que tomamos. "Precisamos estar atentos e ter autoconhecimento para avaliar se aquilo que estão falando na internet faz sentido ou não. Tem coisa que é interessante pro outro e, pra nós, não. E está tudo certo, afinal somos pessoas diferentes", fala Giovanna.
O longa ainda aborda indiretamente a pressão que as celebridades da internet e as pessoas públicas em geral sentem para fazer um verdadeiro diário de suas vidas no Instagram - e como, muitas vezes, elas postam uma vida perfeita quando, na verdade, estão cheias de problemas, como qualquer outra pessoa. Confira abaixo o papo com a Giovanna.
UNIVERSA Como é a sua relação com a internet? É possível encontrar um bom equilíbrio entre vida real x vida virtual?
GIOVANNA LANCELLOTTI Eu sinto que encontrei um equilíbrio, sim, mas ainda me cobro quando fico muito tempo no celular. Muitas vezes estou vendo TV e percebo que não prestei atenção em metade do programa porque estava nas redes sociais. E normalmente sem ver nada de interessante, só rolando o feed e vendo fotos dos outros, acompanhando a vida dos outros.
Mas eu vivo muito mais minha vida offline do que a online, muito mesmo! Minha vida não está nem um terço na internet. Porém ainda acho que perco muito tempo com essa coisa de acompanhar a vida alheia.O que eu acho muito ruim, porque não é nem um tempo gasto no sentido de produzir coisas pra mim.
Várias vezes percebo que já fiquei uma, duas horas no Instagram e me obrigo a sair, fazer outra coisa. Me dá aflição perceber que passei muito tempo seguido online.
Você se sente muito cobrada a postar coisas que vão além do seu trabalho? Como um look do dia, um registro do treino na academia, as fotos da última viagem que fez?
Considerando especialmente o fato de eu ser uma pessoa pública, acho que minha relação com a internet é bem equilibrada. Tenho dias bem falantes, em que abro caixinhas de perguntas, converso com as pessoas e respondo comentários.
Mas não sou essa pessoa que divide tudo, que conta que acabou de acordar, o que tem pra fazer naquele dia. Não faço esse "diário de bordo".
Gosto de por um certo limite no que exponho. Até porque quando acontece alguma coisa, as pessoas se sentem no direito de palpitar na sua vida, de se intrometer, de dar muita opinião. Acho que isso, muitas vezes, pode acontecer por conta da abertura que é dada.
Se você está dando essa abertura, desabafando, contando detalhes da sua vida pessoal, você praticamente está dando o direito dessas pessoas, que estão consumindo esse conteúdo, exporem a opinião delas. E eu não quero chegar nesse ponto.
Por isso tenho dias mais falantes, depois fico uma semana sem postar, e pra mim está tudo bem. Funciona desse jeito.
E sobre relacionamentos? No filme, quando a personagem da Nathalia Dill começa ou termina um namoro, se sente obrigada a fazer quase que um "pronunciamento oficial" para os seus seguidores. Como isso funciona com você?
Eu sou bem desencanada em relação a isso e não costumo ceder a esse tipo de pressão. Por mais que as pessoas estejam falando, eu consigo manter meu foco.
Eu estava há um tempão solteira antes de voltar a namorar. Mas no início, quando conheci meu atual namorado [Giovanna namora o empreendedor Gabriel David, diretor de marketing da Liesa, a Liga das Escolas de Samba do Rio], nem era um namoro direito, só estávamos ficando. Como eu ia anunciar alguma coisa? Não tinha como. E olha que as pessoas comentavam!
Mas deixei especularem até eu ter certeza, até estar segura da minha decisão. Aí sim eu falei. Nesse caso, não vejo problema. Mas quando a coisa não está certa ainda, você não tem que dar satisfação - especialmente quando a outra pessoa não é uma pessoa pública, como era meu caso, tem que ir com calma. Às vezes ela não quer essa exposição toda.
Você acha que estamos exagerando ao considerar tudo o que é dito na internet como verdade absoluta?
Acho que algumas pessoas, sim, ficam ligadas até demais no que está rolando no Instagram. Seguem esse movimento de ter que fazer o que todo mundo está fazendo, seguir determinada trend, postar uma foto de um jeito específico só porque todo mundo está postando também. Quando, na verdade, pode ser uma coisa que no fundo você nem quer.
Temos que estar atentos e termos autoconhecimento para avaliar se aquilo faz sentido ou não para nós. E está tudo certo, afinal as pessoas são diferentes, têm perfis diferentes. Temos que estar atentos às nossas próprias decisões.
No caso da Thaís, por exemplo, a minha personagem, ela abriu mão de um relacionamento por causa de algo que viu na internet sem considerar se poderia se arrepender depois. As coisas não podem ser tão simples assim.
Nesse caso, era melhor levar a conversa pra terapia, pra um amigo, chamar alguém pra pedir conselho, do que procurar dica na internet.
Sua relação com as redes sociais sempre foi tranquila desse jeito?
Sim! Eu sempre fui muito ativa na internet. Quando entrei na Globo, em 2011, já tinha mais de 100 mil seguidores no Twitter. Acho que o Instagram nem existia, ou pelo menos não tão forte como é hoje.
Antes de ser conhecida como atriz eu já era uma pessoa conhecida da internet. Então é algo que sempre fez parte da minha vida. Não tive que me esforçar para estar ali ou me moldar muito para caber naquele espaço. E isso faz parte da minha geração.
Tenho 28 anos, as pessoas da minha idade foram criando perfis nas redes sociais conforme elas foram surgindo. Pra mim, sempre foi um processo natural.
Uma coisa que comecei a fazer recentemente e que não fazia antes foi usar o TikTok, aprender as tais dancinhas. Na pandemia, não tinha nada pra fazer, então acabei me influenciando. Virou um passatempo. Pra mim, que estava entediada, era muito válido perder horas do meu dia para aprender uma dança nova. Ajudava a distrair.
No seu Instagram, você também faz esquetes de humor, como as dublagens de áudios da sua mãe. De onde veio a ideia?
Foi durante a pandemia. Estava com Covid, trancada em casa, e tive a ideia de fazer vídeos dublando de forma cômica os áudios de WhatsApp que recebo da minha mãe. Pensei "preciso arrumar alguma coisa pra fazer". Estava sozinha em casa quando ela me mandou um áudio muito engraçado e me veio essa inspiração. A gente vai se reinventando através da internet.
Dá pra fazer boas e pequenas esquetes, usar a criatividade, gravar várias coisas num dia só. Em um dia, você grava vários conteúdos, posta e eles logo chegam ao público. O que é algo impossível de fazer no cinema, por exemplo.
"Incompatível" foi rodado antes da pandemia. Como é pravocê agora rever o filme e acompanhar a estreia nos cinemas?
Parece que ele é mais atual hoje do que quando foi filmado. Porque esse tema, da vida virtual, depois de termos passado pela pandemia, se tornou ainda mais presente nas nossas vidas.
Durante a pandemia, vimos cada vez mais influenciadores surgindo - especialmente aqueles que são "donos da verdade".
Acho que o filme chega aos cinemas em um momento ideal tanto pelo tema quanto pela segurança que já estamos sentindo para sair de casa normalmente.
"Ricos de Amor", sucesso mundial da Netflix, e "Incompatível" são comédias românticas. Você gosta do gênero?
Eu adoro comédia! Na minha vida pessoal, sou muito comunicativa, gosto de fazer umas "tiradinhas" quando estou conversando, então é algo que naturalmente levo para o meu trabalho.
Em cada situação vou descobrindo meu jeito de trazer a comédia para perto. Tenho vontade de explorar cada vez mais esse gênero e trabalhar mais nesse sentido. Acaba sendo uma característica minha. Eu sempre quero levar um pouco de comédia, inclusive para as personagens que não são tão cômicas.
Eu me identifico muito com as comédias românticas. Por mais que algumas pessoas achem que são filmes óbvios, existem tantos roteiros diferentes, que se desdobram em tantos lugares diferentes? Eu adoro fazer e assistir. Acho leve, embarco nas histórias e sempre me emociono. Até hoje eu choro quando revejo "10 Coisas que Eu Odeio em Você"!
Em janeiro, estreou a série "Temporada de Verão", na Netflix, e agora "Incompatível" chega aos cinemas. O que mais vem por aí?
"Temporada de Verão" foi uma série rodada na pandemia. Foi bem difícil em termos de protocolos de segurança e tudo mais, mas foi muito legal e fiquei bem feliz com o resultado.
Além de "Incompatível", tenho mais uma estreia no cinema para esse ano. É um filme espírita, chamado "Nada é Por Acaso" - a primeira adaptação de um livro da Zíbia Gasparetto para os cinemas. É uma autora que eu admiro muito, então fiquei muito feliz com o convite para estar no filme. Ele foi rodado no mesmo ano de "Incompatível" e, por conta da pandemia, também será lançado só agora.
E tem a sequência de "Ricos de Amor", na Netflix, que foi anunciada por esses dias e vai começar a rodar em breve. E aí tenho mais um longa pra fazer, esse mais para o final do ano. Então posso dizer que será um ano de muito trabalho, ainda bem.
Como está sendo esse pós pandemia para você?
As coisas estão voltando com o tempo. E algo que achei bom nesse pós pandemia é que sinto que não há mais tanta pressa. Pode até ser que isso volte, mas por enquanto está num ritmo bom.
Antes da pandemia, eu acabava um trabalho e na semana seguinte já estava em outro. Agora não tem sido assim. Tenho tido mais tempo paracuidar da saúde, fazer minhas coisas, viver mesmo, fora o trabalho. Tem sido ótimo!
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