Prótese de silicone era sonho de adolescência de mulher morta após cirurgia
A engenheira civil que morreu após uma cirurgia de implante de próteses de silicone, segundo familiares e amigos, batalhou muito para conseguir bancar o sonho da adolescência. Júlia Moraes, 29 anos, pesquisou três clínicas até decidir onde faria a cirurgia, em Belo Horizonte.
A morte após o procedimento estético foi uma surpresa para todos. Júlia havia dito que o procedimento era um sonho e que precisou juntar dinheiro e trabalhar bastante para realizá-lo. "Ela falava dessa cirurgia a todo momento. Procurou três médicos antes de decidir. Eu a incentivei muito, porque sabia que era um sonho e sabia do esforço dela", contou a melhor amiga, a auxiliar administrativa Karine Bueno, 23 anos.
A família, no entanto, havia tentado convencer Júlia a fazer o procedimento em um hospital. A Universa, a mãe da profissional contou que uma tia e uma prima dela tentaram dissuadi-la, mas Júlia estava convicta do local escolhido.
A operação foi realizada na clínica de cirurgia plástica Sebastião Nelson, sob o comando do cirurgião Renato Nelson. Universa entrou em contato com o médico para ter um posicionamento sobre o caso, mas o profissional se limitou a reproduzir um comunicado emitido pelo escritório de advocacia que representa a clínica.
Em nota assinada pela advogada Bárbara Abreu, o espaço diz se solidarizar com os familiares de Júlia e afirma ter interesse na elucidação dos fatos (leia a íntegra no fim desta reportagem). A nota ressalta que não há, até o momento, indício de má conduta médica.
Ainda bastante abalada pela morte da filha, a vigilante Patrícia Moraes lamentou e disse que ela foi aconselhada a não concluir o procedimento em uma clínica. "Ela cismou com esse médico. Quis ele. A prima dela que é médica ainda recomendou que ela fizesse em um hospital, mas ela cismou. E deu nisso. Olha, é uma dor que eu não sei nem explicar. Geralmente, os filhos que enterram os pais."
Segundo a mãe, o corpo de Júlia era "perfeito", mas ela nunca gostou dos próprios seios, que considerava pequenos.
A prima que aconselhou a engenheira pediu para não ter o nome divulgado, mas confirmou que pediu a ela que fizesse a cirurgia em um hospital, com todos os recursos e equipamentos, e não em uma clínica. "Não um tinha motivo específico. Eu não conhecia a clínica, não conhecia o médico, só orientei por segurança, mesmo."
Vida pacata
A família de Júlia ressaltou que ela era uma mulher de bem com a vida. Boa filha, benquista no bairro onde residia e querida pelos amigos. A engenheira civil nasceu em João Monlevade, mas havia dois anos estava em Santa Bárbara, cidade do interior mineiro.
A melhor amiga também era sua vizinha e confidente. Karine contou a Universa que ela e a amiga não se desgrudavam.
"Por onde passávamos, ela fazia amizades. Era uma pessoa que acreditava muito em energia. Se ela gostava, era intensa demais. Estava realizada profissionalmente, tinha amor pelo que fazia e agradecia a Deus todos os dias pelo trabalho", relembrou.
A vida da engenheira era tranquila e pacata, continuou a amiga. Segundo Karine, Júlia não estava mais na fase de baladas e aventuras radicais. A melhor balada, apontou a confidente, era reunir os amigos para ouvir músicas, bater papo e tomar vinho.
"E sentir a 'good vibes', como ela dizia. Moramos em uma cidade bem tranquila e sossegada. Nossos momentos de lazer eram passear, ir para pousadas, cachoeiras, andar pela cidade e viver momentos de tranquilidade", continuou.
A jovem lembra que conheceu a amiga durante um processo de luto. E lamenta ter que se despedir dela em um momento de igual tristeza.
"Ela me preparou para viver esse luto da perda dela também. Nós nos agarramos desde o primeiro dia em que nos vimos aqui em Santa Bárbara. Nos encontrávamos todos os dias, sem exceção. A missão de Júlia no meu dia a dia era me ensinar que tudo passa... Era fazer com que eu soubesse dar valor a cada segundo da minha vida. O que me tranquiliza é que ela viveu intensamente."
Parada cardiorrespiratória
Júlia foi submetida à intervenção no dia 8 de abril, acompanhada de uma prima médica, de uma tia e do namorado. Durante o procedimento, ela teria sofrido uma parada cardiorrespiratória.
Segundo Patrícia, a filha precisou ser internada em um hospital por quatro dias, e os exames não identificaram o motivo da piora do quadro clínico dela após a cirurgia. Intubada, ela precisou novamente ser transferida para outro hospital da capital. Patrícia afirma que Júlia não tinha comorbidades e era saudável, mas que, até agora, não há informação sobre o que teria levado à parada cardiorrespiratória.
Após passar quase duas semanas internada, Júlia teve morte encefálica determinada em 23 de abril. Ela foi enterrada na segunda-feira (25).
Confira a íntegra do comunicado emitido pela clínica de cirurgia plástica Sebastião Nelson:
"A clínica se solidariza com os familiares de Júlia Moraes Ferro e somos a principal interessada no esclarecimento de todos os fatos. A vida e bem-estar das nossas pacientes é prioridade e jamais estivemos diante de tamanha fatalidade. Em casos como este, a parte médica fica em posição de extrema vulnerabilidade para demonstrar publicamente a verdade, tendo em vista que para comprovar a correta conduta seria necessário publicar dados, fornecer prontuário e exames da paciente, o que somos vedados em razão do sigilo médico.
Como já é da nossa rotina de cuidados, esclarecemos que toda assistência à Julia foi prestada, tanto nos momentos pré e pós-operatórios, quanto no decorrer do procedimento. Júlia apresentou exames que comprovaram plenas condições para a realização da cirurgia e foi informada quanto aos riscos que todo procedimento médico invasivo apresenta.
Durante e após a cirurgia, a paciente foi o tempo todo assistida pela equipe médica composta, inclusive, por médica anestesista que esteve integralmente ao lado da paciente. O prontuário de Júlia foi entregue imediatamente no ato da solicitação feito pela família.
O cirurgião responsável pelo procedimento é habilitado, tendo cumprido todas as etapas de formação e possui Registro junto ao Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM MG) e título de especialista em cirurgia plástica. Até o momento, não há nenhum indício de má conduta médica.
Aguardamos a conclusão do laudo necropicial do Instituto Médico Legal para novos posicionamentos.
A clínica e seus profissionais continuam à inteira disposição para maiores esclarecimentos."
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