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''Louca' e 'Vá tomar Gardenal' é o mínimo que ouço na Alesp', diz deputada

A deputada estadual pelo PSOL-SP Monica Seixas chegou a se afastar da Alesp após ofensas de colegas - Reprodução/Instagram @monicaseixas
A deputada estadual pelo PSOL-SP Monica Seixas chegou a se afastar da Alesp após ofensas de colegas Imagem: Reprodução/Instagram @monicaseixas

Luiza Souto

De Universa, do Rio de Janeiro

22/05/2022 15h46

"Eu me sinto insegura de verdade. Acho que a qualquer momento posso ser machucada, podem partir para agressões de fato. Não só por parte dos parlamentares, mas dos seus seguidores", atenta a deputada estadual Monica Seixas (PSOL-SP), que ouviu esta semana de outro colega parlamentar que ele iria "colocar um cabresto" na sua boca. Ainda foi chamada de "louca" em outra sessão.

As ofensas começaram na última terça-feira (24), durante votação na Alesp (Assembleia legislativa de São Paulo) sobre a cassação do ex-deputado Arthur do Val, justamente por falas machistas contra mulheres ucranianas.

Num determinado momento da sessão, o deputado Douglas Garcia (PTB) ofendeu a deputada Érica Malunguinho (PSOL), ao dizer que ela é violenta com as mulheres por "se achar mulher". Érica é uma mulher trans.

Em defesa da parlamentar, Monica foi ao microfone lembrar que transfobia é crime, mas teve sua fala interrompida a pedido do vice-presidente da Alesp, Wellington Moura (Republicanos).

Nas redes, Garcia não reconheceu que errou, e questionou: "onde está a transfobia? Chama no VAR", ele escreveu citando o árbitro assistente de vídeo acionado em lances duvidosos no futebol.

Minutos depois, o colega Gilmaci Santos (Republicanos) ainda a chamou de louca e colocou o dedo em seu nariz. Pelo ato, Monica registrou um boletim de ocorrência contra os dois por injúria e calúnia.

No dia seguinte, a Casa votava pela perda de mandato do deputado Frederico D'Ávila (PSL), que chamou o Papa Francisco, o arcebispo de Aparecida Dom Orlando Brandes e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de "vagabundos", "pedófilos" e "safados".

A sessão foi suspensa, mas Monica usou o tempo de discurso para falar sobre saúde pública. Pela mudança de tema, Wellington Moura sentiu-se no direito de falar que colocaria um cabresto na colega. O cabresto é um arreio de corda ou couro que serve para prender ou controlar a marcha do animal, e foi usado contra escravos.

"A gente sofre tanto ou mais violência fora dos microfones quanto as que aparecem, porque eles são desavergonhados mesmo. Desde que me afastei para tratar da minha depressão, 'louca' e 'vai tomar seu Gardenal' é o mínimo que eu escuto todas as vezes que entro no Plenário", fala a parlamentar por telefone a Universa. O medicamento citado é usado no tratamento e prevenção de convulsões em pessoas e animais.

Em nota enviada ao "G1", Moura diz que usou a palavra cabresto no contexto de dizer: "algo que controla, contendo então as palavras dela na qual se utilizava para se manifestar ao deputado Douglas Garcia em um momento em que ela não poderia se manifestar (por questões regimentais)."

"Não ando sozinha"

Na avaliação de Monica, esse tipo de violência acontece com mais frequência contra as jovens parlamentares, as negras e as pessoas trans. "Falaram que tirariam a Érica Malunguinho a tapa do banheiro feminino", ela exemplifica.

Por causa dos ataques, Monica conta que ela, Isa Penna (PCdoB) e Érica andam juntas pelos corredores da Casa, já que os casos são cotidianos. E ainda observa: a violência também é praticada contra mulheres no campo conservador.

"Eles não nos combatem na política, mas com violência de gênero. Eu virei a louca porque eu tenho depressão, a Isa é a vagabunda que se beneficiou do assédio e a Malunguinho é uma mulher trans que não deveria estar naquele espaço", disse ela.

Em dezembro de 2020, a deputada estadual Isa Penna (PSOL) sofreu importunação sexual do deputado estadual Fernando Cury (Cidadania). Durante uma sessão ele se aproximou por trás da deputada, colocou e manteve as mãos em sua cintura, na altura dos seios. Cury foi afastado por seis meses, mas sem perder o mandato. O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) aceitou uma denúncia contra ele por importunação sexual.

Para de fato combater a violência dentro dessas Casas, Monica pede mais empenho do Ministério Público Eleitoral.

O conselho de ética já tem umas 20 denúncias só por transfobia contra a Érica e nada avança, então sinto falta da ação da Justiça. Ela precisa regular nossa permanência e bem-estar na Casa, porque a gente está sofrendo violência política de gênero e também no trabalho.

"Hoje passo bem menos tempo no Plenário do que qualquer outro homem eu penso mil vezes antes de descer. E quando faço isso, estou sempre acompanhada e peço para minha assessoria filmar toda a minha permanência, porque eu tenho medo. Também fico próxima ao Giannazi (PSOL) ou do Paulo Fiorilo (PT), que são dois parlamentares homens com quem eu posso me apoiar. Não ando sozinha."

"Tenho medo real de morrer"

Por causa dessas violências sofridas constantemente, Monica precisou de afastar do trabalho por quatro meses, no ano passado. E viu o preconceito aumentar devido ao seu estado emocional.

O adoecimento emocional, a depressão me pegou de uma forma que me paralisou. E eu tenho medo real de morrer. Fico olhando pela janela para ver se não tem ninguém me vigiando. O pânico associado à ansiedade e à depressão me paralisou. Eles me paralisaram.

"O que está acontecendo no maior parlamento da América Latina é muito sério. Parece que ao mesmo tempo que mais mulheres vão entrando na Casa, os homens reagem com muita violência e brutalidade. Estamos sendo torturadas por estarmos combatendo a violência de gênero", ela conclui.