Veja o impacto do Prêmio Inspiradoras na vida das vencedoras da edição 2021
O objetivo do Prêmio Inspiradoras é reconhecer, fortalecer e dar maior visibilidade ao trabalho de mulheres que atuam para melhorar a vida de brasileiras em três áreas: violência contra mulheres e meninas, câncer de mama e equidade de gêneros. A premiação é resultado de uma parceria firmada entre Universa, a plataforma feminina do UOL, e o Instituto Avon, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos fundamentais da mulher.
Desde que as candidatas da edição 2021 foram premiadas, em um evento híbrido (online e no palco da Casa Natura Musical) em novembro passado, muitas coisas aconteceram na vida das sete vencedoras. Algumas foram assediadas pela imprensa, o que conferiu um novo status para suas iniciativas e causas. Outras avançaram na vida acadêmica, estão lançando livros, documentários ou mesmo viveram um certo frescor no trabalho, depois de tempos duros de pandemia.
Confira a seguir o impacto da vitória na vida de cada uma delas. E se você conhece uma mulher que poderia ser finalista da edição 2022 ou acredita que você mesma seja uma forte candidata, é possível se inscrever para o Prêmio Inspiradoras. Basta preencher a ficha de inscrição.
Esporte e Cultura
"Da Sucata ao Everest" (Editora Dialogar) é o título da biografia que a montanhista Aretha Duarte deve lançar nas próximas semanas (a data ainda não foi marcada). Está em fase de finalização também um documentário sobre suas conquistas. Vencedora na categoria Esporte e Cultura, em 23 de maio de 2021, ela se tornou a primeira negra latino-americana a atingir o topo do Everest, a montanha mais alta do mundo.
O feito vai além do esporte. Parte dos gastos com a viagem ela conseguiu a partir da coleta de materiais recicláveis durante 13 meses. Ao todo, foram 130 toneladas arrecadadas.
O prêmio me deixou mais encorajada, empoderada para acreditar que estou no caminho certo da transformação social e ambiental. Para mim, ficou mais claro ainda que a busca pelo meu sonho gera impacto em todo o meu entorno. A premiação foi o sim que eu precisava para saber que todo o nosso país espera que eu siga escalando em prol da inclusão e da diversidade.
Em Campinas (SP), onde vive, Aretha tem um projeto para instalar paredes de escalada em bairros carentes e, assim, oferecer oportunidades de contato com o esporte para jovens e crianças. Falta agora apoio financeiro. Alô, investidores. "Sigo forte e confiante de que vamos conseguir patrocínio e incentivo fiscal para viabilizar esse meu sonho grande", conta.
Informação para a vida
Com quase três décadas na política, a deputada federal pelo Cidadania (SC) Carmen Zanotto sempre dedicou sua atuação à promoção da saúde. Ela é autora de duas leis (de 2012 e 2019) que garantem agilidade no atendimento ao câncer estipulando prazos máximos para o início do tratamento e a realização da biópsia para confirmação de que há ou não a doença. Por estes trabalhos, ela foi a vencedora do Prêmio Inspiradoras na categoria Informação para a Vida, dedicada a mulheres que promovem a conscientização sobre detecção precoce do câncer de mama e garantia de acesso a exames preventivos, tratamentos e acolhimento.
Feliz por ter vencido junto de outras duas "grandes guerreiras", ela acredita que sua vitória teve reflexo direto na causa em que atua.
As leis dos 30 dias e a dos 60 dias aceleram o tratamento e o diagnóstico do câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A divulgação desses direitos foi o mais importante.
Conscientização e Acolhimento
"Vai ter TRAVESTI na Pós-graduação SIMMMMM." É assim que Dandara Rudsan começa o post para comemorar em suas redes sociais o fato de ter sido aprovada para o curso de especialização em direito do trabalho e direitos humanos do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Federal do Pará.
Mulher travesti, ela foi a ganhadora da categoria Conscientização e Acolhimento por sua atuação à frente do Coletivo Amazônica LesbiTrans, que fundou em Altamira (PA). A iniciativa tem o objetivo de garantir os direitos da população LGBTQI+ na região. Outro importante projeto criado por Dandara é o Núcleo Estratégico de Direitos Humanos e Promoção da Paz (Nepaz), que acolhe mulheres vítimas de violência. Desde a criação, em 2019, o Nepaz já prestou atendimento a cerca de 300 mulheres, principalmente vítimas de homotransfobia e violência doméstica.
Uma das queixas de Dandara é a dificuldade que trabalhos como este, que funcionam fora do eixo central do país, têm de repercutir nacionalmente e, assim, ganhar força e apoio.
O Prêmio Inspiradoras teve um grande impacto para mim, que sou uma liderança amazônica e uma mulher travesti. Ele deu visibilidade para nossa luta. Foi muito concreto o alcance que a pauta que defendemos aqui, em defesa da população LGBTQI+ e das mulheres, teve a partir da premiação.
Depois que venceu a premiação, Dandara foi convidada para dar uma aula online para estudantes de direito das universidades de Massachusetts e de Nova York, ambas nos Estados Unidos.
Inovação em Câncer de Mama
A vitória trouxe não apenas visibilidade para o trabalho da mastologista de Manaus (AM), Hilka Espírito Santo, como renovou os ares para o Serviço em Mastologia da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), da qual ela é gerente. Desde então, ela deu muitas entrevistas para rádios, jornais e emissoras de televisão.
"Para o hospital foi muito bom. Trouxe ânimo para todos que participaram direta ou indiretamente daquela ação. Eu tive uma sensação de resgate da autoestima depois de ter visto o Amazonas passar por tantas dificuldades durante a pandemia", revela.
Em janeiro de 2021, durante o auge da segunda onda da pandemia de Covid-19, quando faltou até oxigênio nos hospitais de Manaus, Hilka mobilizou uma força-tarefa.
Tinha como objetivo levar 22 mulheres com câncer de mama ao Rio de Janeiro para que pudessem realizar cirurgias e dar continuidade ao tratamento. Naquele momento, os serviços de cirurgia estavam interrompidos na cidade.
O sentimento que tenho é que, ao ganhar o Prêmio Inspiradoras, representei todas aquelas mulheres que conseguiram o tratamento. Elas ficaram maravilhadas. Veem a premiação como uma bandeira capaz de mostrar o quanto é importante ter alguém que olhe pelos pacientes.
Para a médica, mobilização que conseguiu fazer deixou um aprendizado: "Mesmo com as dificuldades e a burocracia do sistema público de saúde, é possível fazer alguma coisa. Eu não sou de ficar parada. E muita gente se envolveu para que desse certo", afirma.
Atualmente, o atendimento oncológico está funcionando normalmente e todas as 22 pacientes passam bem. Elas terminaram a fase de tratamento e apenas seguem fazendo acompanhamento médico.
Acesso à Justiça
Lívia Sant'Anna Vaz é promotora de Justiça, em Salvador (BA), onde concentra sua atuação na defesa dos direitos das mulheres negras. Uma das suas principais iniciativas foi a criação do Mapa do Racismo e da Intolerância Religiosa, um aplicativo que leva as denúncias desse tipo de crimes diretamente ao Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Lívia considera que um prêmio como o Inspiradoras não é o reconhecimento da pessoa que o recebe, mas da ação que ela desenvolve com potencial transformação na sociedade.
O grande impacto da premiação é destacar a importância do enfrentamento ao racismo no Brasil. A Lei Áurea completa 134 anos e nós vemos que a liberdade prometida para o povo negro nunca se concretizou. Ao receber esse prêmio, principalmente com o nome Inspiradoras, o que quero, de fato, é que as experiências e ações inspirem outras pessoas a se unirem à luta antirracista.
A promotora observa que o sistema de justiça brasileiro, incluindo todos os espaços, como Defensoria Pública, Ministério Público, Judiciário, advocacia, entre outros, ainda é muito lento na inclusão dessas questões, o que só começou a acontecer recentemente. Ela conta que outros ministérios públicos do país, além do baiano, têm se engajado na discussão sobre racismo, além de começarem a criar núcleos de pesquisas ou promotorias voltadas especialmente para a temática racial, enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial.
"Receber esse prêmio, trazer para a roda a discussão sobre o racismo numa perspectiva do sistema de justiça, numa perspectiva de um prêmio cuja categoria fala de acesso à justiça, é muito importante. Como bem dizia Angela Davis, corroborada por Conceição Evaristo, a liberdade é uma busca constante, especialmente para um povo que nunca teve essa liberdade alcançada", finaliza.
Equidade e Cidadania
Para Luiza Batista, coordenadora-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), a vitória do Prêmio Inspiradoras na categoria Equidade e Cidadania reflete na auto-estima também de suas companheiras. Isso porque ela dá mais visibilidade para a defesa dos direitos das trabalhadoras domésticas.
"Quando a coordenadora-geral ganha um prêmio como esse, representa não só o seu trabalho à frente da Fenatrad, mas a de todas as companheiras que estão comigo na federação e nos sindicatos."
Empregada doméstica, ela começou a trabalhar aos 9 anos, idade em que já sofreu maus tratos da primeira patroa. A consciência de classe e a necessidade de batalhar por direitos vou aparecendo aos poucos, na vida adulta. Há cinco anos à frente da Fenatrad, ela tem conseguido ampliar as parcerias com órgãos como o Ministério Público do Trabalho para combater o trabalho doméstico análogo à escravidão.
O Prêmio Inspiradoras teve um grande impacto porque a minha história e a atuação da Fenatrad repercutiu bastante. Dei uma entrevista para uma importante revista de negócios, na qual geralmente saem empresários e CEOs. Foi representativo ter uma empregada doméstica lá e acredito que aconteceu graças ao Prêmio Inspiradoras.
Representantes Avon
O Prêmio Inspiradoras também teve uma categoria dedicada às Representantes Avon. E a vencedora foi Marielle Rezende, que é engenheira ambiental e coordena um projeto chamado Recicla Vidas Mulheres, em Poços de Caldas (MG). A iniciativa nasceu quando ela começou a atuar como coordenadora técnica do projeto Recicla Vidas, que dá suporte a coletores de material reciclável. Marielle notou que as mulheres precisavam de um apoio especial. A partir de então, passou a idealizar um modo de empoderá-las por meio do trabalho.
O Prêmio Inspiradoras foi um momento de visibilidade. Nos abriu uma janelinha. Houve um reconhecimento local do que fazemos no Recicla Vidas, de modo geral, as pessoas procuraram para conhecer como funciona.
O trabalho de empoderamento das mulheres continua. Um dos objetivos de Marielle é conseguir um espaço para elas, onde possam trocar experiências, receber apoio e ter mais conforto e segurança. O projeto prevê um vestiário feminino. "Ainda continuamos tentando fazer com que esse espaço saia do papel", afirma.
Os principais avanços no Recicla Vidas, de acordo com ela, estão na parte de compostagem, uma maneira encontrada para diversificar o mercado e gerar mais uma fonte de renda para os trabalhadores. "Latinhas de alumínio, por exemplo, que têm valor, não chegam até aqui porque as pessoas recolhem antes. Aos poucos estamos capacitando as pessoas e têm dado resultados", diz.
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