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Professor é afastado por assédio em escola de São Paulo

Alunos de uma escola pública de São Paulo relataram que pararam de assistir à aula do docente - Catherine McQueen/Getty Images
Alunos de uma escola pública de São Paulo relataram que pararam de assistir à aula do docente Imagem: Catherine McQueen/Getty Images

Luiza Souto

De Universa, no Rio

27/05/2022 16h04

Um grupo de dez mães relatou a Universa que suas filhas, estudantes da Escola Estadual Professor José Duarte Júnior, na Cidade Dutra (zona sul de São Paulo), estão sofrendo assédio e perseguição por parte de um professor. A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência feito por algumas delas na Delegacia da Mulher de Santo Amaro. Todas as meninas são adolescentes, menores de idade.

O caso está sendo apurado como suspeita de crime de importunação sexual. Na manhã da última quarta-feira (25), a Secretaria de Educação do estado afastou o profissional, identificado como Rogério Alves. A assessoria de imprensa da secretaria não permitiu que Universa falasse com o professor para que ele pudesse dar sua versão dos fatos, informando que ele não poderia se pronunciar por ainda ser um funcionário público. A reportagem não conseguiu encontrar nenhum outro canal de comunicação com ele, mas o espaço segue aberto.

Em conversa com um pai de aluna, ele teria dito que as jovens "entenderam tudo errado".

Segundo o relato das mães, uma aluna começou a se incomodar com as atitudes do profissional. "Ela nos contou que esse professor ficava abraçando as meninas de um jeito diferente e ainda levava chocolate para elas", descreveu uma das responsáveis.

"Ele chegou a falar para duas alunas que queria vê-las nuas e justificou a fala por ser professor de ciências", relatou outra testemunha.

Com medo de retaliações, as mães pediram para não ser identificadas. Por se tratar de adolescentes, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) também recomenda que a identidade delas seja preservada.

Em uma outra ocasião, há três meses, uma aluna foi à escola vestida com uma bermuda, utilizada durante a aula de educação física, e contou para a família que o professor perguntou como ela havia entrado na escola daquele jeito. A adolescente questionou o porquê da fala e ele respondeu, de acordo com as mães: "Os homens vão ficar mexendo com você, porque você é uma menina gostosinha".

Segundo elas, a aluna ficou constrangida e disse na hora que não gostou da forma como o docente se portou.

Uma outra jovem relatou, segundo as mães, que o professor perguntou sua idade. Ao ouvir a resposta, ele teria dito: "Queria tanto ter 13 anos para namorar com você".

Responsáveis procuraram escola

As adolescentes pensaram em denunciar o professor na coordenação da escola, mas tiveram medo de retaliações. As mães, então, fizeram uma carta descrevendo o que ouviram e encaminharam à direção.

Duas semanas depois, segundo elas, um coordenador da Secretaria de Ensino foi ao local para apurar os fatos. Ele sugeriu que as alunas não mais assistissem à aula do professor em questão e colocou uma psicóloga à disposição das adolescentes.

Assustadas com a recomendação inesperada, algumas alunas pararam de ir à escola, outras mudaram de sala e estão sem aula de ciências. "Acho um absurdo, porque minha filha perdeu aula e ele continuou lá", diz uma das responsáveis.

A denúncia acabou se tornando comentário na escola e, ao debater o tema em sala de aula, sem a presença das alunas, o professor teria dito à turma que queria encontrar uma das alunas sozinha "porque iria bater nela". Um dos estudantes presentes contou para a menina em questão, que teria ligado aos prantos para o pai.

Em outra ocasião, o professor teria encontrado as alunas —que já não frequentavam mais suas aulas— na quadra da escola e gritado com elas.

O que diz a escola

O pai que recebeu a ligação da filha chorando decidiu, segundo relatam as mães, ir à escola para conversar com o professor, que negou tudo.

Na conversa acalorada, presenciada pela vice-diretora da unidade e por outras mães, o grupo que conversou com Universa afirma que o professor se defendeu e disse que costumava ter papos informais com as alunas e que elas haviam entendido tudo errado. Negou que teria feito ameaças, mas confirmou que falou do "short curto" da aluna, argumentando que "no tempo dele não poderia entrar na escola nem com a calça rasgada".

A própria vice-diretora da escola, segundo testemunhas da discussão, teria dito que o professor tem falas e postura inadequadas ao ambiente escolar.

Universa falou por telefone com a vice-diretora, identificada como Naira, mas ela informou que só poderia se pronunciar com autorização da Secretaria de Educação —porque o caso envolve menores de idade e porque os responsáveis haviam, segundo ela, pedido sigilo. A reportagem procurou, então, a pasta, que não permitiu a entrevista sob a mesma justificativa.

Secretaria de Educação afasta professor

Questionada sobre tudo relatado acima, incluindo a atitude de um representante da pasta recomendar que as alunas não mais assistissem à aula do professor, a secretaria afirmou, via e-mail, que repudia toda e qualquer forma de assédio dentro ou fora do ambiente escolar. E explicou que, assim que tomou conhecimento das denúncias, a Diretoria de Ensino Sul 3, responsável pela unidade, instaurou uma comissão para apurar os fatos.

"O docente, que possui duas formas de contrato (efetivo e temporário), terá seu contrato temporário rompido e executará suas funções efetivas em afastamento na diretoria de ensino, fora do convívio com estudantes, até que seja finalizada a apuração", afirmou a assessoria de imprensa na nota, antes de confirmar que colocará um professor substituto da matéria.

O texto informa ainda que a escola colocou psicólogos à disposição dos estudantes e que o caso foi inserido na Placon (Plataforma Conviva SP), um programa que acompanha o registro de ocorrências escolares na rede estadual de ensino.

Universa procurou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, para saber se o professor já havia sido ouvido. Em nota, a pasta informou que "o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pela 6ª Delegacia de Defesa da Mulher para apurar suspeita de crime de importunação sexual. Detalhes serão preservados, por se tratar de crime sexual".

Em 2018, foi sancionada a lei que torna crime a importunação sexual, definida como a prática de um ato libidinoso na presença de alguém, sem que essa pessoa tenha dado consentimento. O projeto havia sido aprovado pelo Senado naquele mesmo ano, após casos de homens que se masturbaram e ejacularam em mulheres dentro de transporte público terem ganhado repercussão nacional.