Larissa Manoela: 'Deixei de me cobrar tanto, sou feita de erros e acertos'
A dramaturgia, a música e outras atividades estão correndo juntas na agenda apertada da atriz Larissa Manoela. Fora as gravações da novela "Além da Ilusão", da Globo, ela está em processo de divulgação do seu novo disco, o "Larissa Manoela A Milhão". Porém, quando se trata de falar sobre saúde feminina e incentivar o autoconhecimento, ela se faz presente. "Para causas nobres, cujo objetivo é ensinar as mulheres a se cuidar, a gente consegue um espaço", disse ela no último domingo (29) durante visita à Escola Municipal Mário Marques, no Jardim Ângela, zona sul de São Paulo, para discutir pobreza menstrual, em uma ação da Cimed, na qual é uma das embaixadoras da campanha #EuSouMinhasEscolhas, com a ONG Plan International e o Grupo Dadivar.
No bate-papo, Larissa falou de suas experiências com a menstruação, a descoberta recentemente da endometriose e de sua visão sobre os tabus que esse tema ainda carrega. "A melhor coisa do mundo é se olhar com amor. Quando comecei a entender que esse processo me faria melhor, percebi como é especial nascer mulher e passar por tantas mudanças significativas ao longo da vida. Vocês também podem e têm de fazer isso. O autoconhecimento é libertador e nos leva para outros lugares", disse a uma plateia formada por mais de 300 crianças e adolescentes.
Em conversa exclusiva com Universa, a atriz comentou sobre sua primeira menstruação, como foi o seu processo de amadurecimento, que, diz ela, chegou com força dos 20 para os 21 anos, além de sua relação com as redes sociais e a exposição da sua imagem.
UNIVERSA: Falar sobre menstruação, autoconhecimento, sexualidade, nunca foi um tabu para você?
Larissa Manoela: Não, sempre tive abertura com meus pais. Minha mãe é pedagoga e deu aula durante anos, então, sabe como esses assuntos se desenvolvem na infância e adolescência. Sei que muitas pessoas não têm essa abertura, por isso, sabendo do reconhecimento e alcance que tenho como artista, gosto de incentivar esse diálogo. Me coloco quase como uma "responsável" para falar de alguns temas, como o direito à higiene menstrual, empoderamento através do autoconhecimento. Quero ser uma referência positiva em um mundo que está difícil e amargo.
Como foi quando você menstruou pela primeira vez. Quais as recordações?
Menstruei aos 12 anos, durante as gravações de "Carrossel" [novela infantil do SBT]. Com o acompanhamento psicológico que tínhamos da equipe do canal, abordávamos esses temas antes deles chegarem. Outro ponto importante é que meu pai também conversou comigo sobre esse tema e ajudou muito na preparação para quando esse marco na vida de mulher chegasse. Acho que os homens precisam entender mais sobre o tema, especialmente os pais, para que as meninas se sintam confortáveis em abordar esses e outros assuntos com eles. Meu pai foi incrível e deixou esse momento muito simbólico, ao me presentear com uma joia. Ao meu ver, esses gestos reconhecem e valorizam essa mudança na vida de uma mulher.
Não só de menina para menina, mas também para mulheres. De que maneira você enxerga esse sucesso entre diferentes gerações?
Fico muito feliz com o carinho das pessoas que me acompanham desde o começo da carreira ou que começaram a ver meu trabalho agora, com "Além da Ilusão". Vejo como as pessoas projetam ou imaginam uma Larissa Manoela e faço questão de estar perto, conversar com meus fãs. Assim, criou um diálogo mais próximo com todos. Poder fazer minhas escolhas e inspirar é muito positivo, porém, desafiador também, especialmente nesse momento de ser a menina/mulher. Eu desejo me autoconhecer e incentivar esse processo nas pessoas, além de falar do poder que nós mulheres, mesmo sendo tão jovem, com 21 anos.
No ano passado, você descobriu ter endometriose. De que forma você lida com essa condição?
A descoberta aconteceu em março do ano passado, no momento que estava fazendo exames de rotina, que faço por causa de um histórico de câncer de mama na família, meu médico pediu exames complementares, por conta das cólicas muito fortes e do fluxo intenso na menstruação. Me contorcia de dor, já cheguei a desmaiar e deixar de gravar por isso. Então, descobri que tenho focos de endometriose e procurei estudar sobre essa doença que é autoimune e inflamatória. Atualmente, a condição está estagnada, não estou menstruando, e faço acompanhamento com exames para ver a parte hormonal. Mudei minha alimentação para diminuir o processo inflamatório, passei a fazer mais exercícios e esse tratamento múltiplo me deu mais qualidade de vida.
Como foi, pra você, crescer e fazer escolhas aos olhos do público, com o Brasil te acompanhando?
Vejo minhas escolhas de forma positiva e assertiva. Todas foram condizentes com o que acredito e consegui construir uma vida com resultados muito bons. Mas, precisei me preservar também. Eu cresci na frente das câmeras e as pessoas estavam sempre de olho em tudo que eu fazia. Então, eu e meus pais nos unimos para fazer o melhor para a Larissa Manoela 'Pessoa Física' e 'Pessoa Jurídica', evitando que toda essa pressão me sufocasse. Passar da infância para a adolescência é um processo cruel, especialmente com a internet. Eu peguei o começo dela, aliás, pois ainda dei muito autógrafo em santinho, papel, CDs. O Twitter foi uma das primeiras redes sociais que eu tive contato e não foi uma experiência muito bacana naquela época.
Em que sentido?
A partir do momento em que você dá de cara com a máxima exposição, na idade que eu tinha, é assustador. Eu era uma adolescente, mas falavam de mim como eu fosse adulta. Era a forma que me vestia, falava, até o uso de salto alto foi alvo de comentários. Na minha cabeça, o tal do salto alto era uma descoberta de figurinos, principalmente do universo do teatro musical; não era uma questão de querer atropelar minhas fases. Ainda teve a questão de falarem da minha testa, dos meus namorados, algo que me machucou um pouco.
Por conta do ódio que já era disseminado naquela rede social, me afastei por um bom tempo do meio digital.
O que fez você voltar? O que te motiva a usar as redes sociais hoje em dia?
Decidi não usar mais porque queria disseminar o amor e estava recebendo ódio. Mas, com o passar do tempo, consegui entender como aquilo tudo funcionava. Só usava meus perfis quando era realmente necessário. Foi em 2021, com a estreia da novela "Além da Ilusão", que "acertei" minha relação com as redes e voltei a interagir. Foram dez anos longe de algo que carreguei como um trauma na minha vida. Agora, consigo mostrar um pouco de mim, de forma real, leve e saudável. O que me fez voltar foi meu amadurecimento quanto ao meu espaço de fala e do respeito ao que o outro pensa. Fico feliz de receber uma onda de amor por lá. Sem contar que o que eu posto é uma forma de falar a verdade da minha vida, pois ainda tem muita gente que espalha informações erradas.
Informações erradas na internet e na imprensa?
Sim. Me acostumei a ver coisas que saíam sobre mim das pessoas que me seguiam, dos haters da imprensa. Sempre dei credibilidade ao jornalismo real, crítico e positivo, no entanto, enfrentei uma onda forte de fake news. Não admito que propaguem coisas sem checar. Não posso ficar presa em casa, com medo de sair e ser fotografada pelos paparazzi. Quero ser e viver como uma mulher normal. Então,
Se vão falar do biquíni que nunca repito, quais os exercícios que faço, a vitamina que tomo; não tem problema, pois encaro isso com mais consciência de qual é a minha realidade
Mudou muita coisa na abordagem da sua imagem depois que você fez 18 anos, não? Como você lidou com isso?
Conforme fui crescendo, entendi que as coisas além do meu trabalho também despertavam interesse das pessoas. Ou seja, o que usava, com quem saía, onde estava e tudo mais. Ainda ouço das pessoas frases como: "Por quanto tempo eu dormi?". Sorte que tive todo aquele processo de amadurecimento anterior, pois foi mais fácil me adaptar a essa nova fase. Além disso, acho que minha maturidade veio mais forte dos 20 para os 21 anos. Confesso que me bateu aquele medo de ter que tomar conta de tudo sozinha, como cuidar da minha própria empresa. Mas, tenho uma equipe incrível, fora meus pais, que estão me ajudando nessa transição.
Sua agenda está sempre lotada de trabalhos e você parece ser uma pessoa organizada. De que forma a pandemia afetou você?
Sou capricorniana, então, quero ter controle e saber de tudo, nos mínimos detalhes. Eu planejo minha semana no papel e no celular, quero entender meus horários, a logística e tal. Mas, com esse episódio que nos fez ver que nada está sob nosso controle, eu repensei algumas coisas.
A vida é um sopro e precisamos aproveitar o aqui e agora. O planejamento é importante, mas dei mais leveza pra ele na minha vida. Se sair do que estava no papel, tudo bem. Está tudo bem não dar conta de tudo, mudar o curso de certas coisas. Eu deixei de me cobrar e me olhar com mais amor e carinho, trazendo o autoconhecimento por meio da terapia, da ioga, dos meus momentos de reflexão e da minha conexão espiritual. Aprendi a separar a palavra 'perfeito'. O feito é melhor do que perfeito e eu sou feita de muitas qualidades, acertos e erros.
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