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ANÁLISE

Quais serão os efeitos da 'absoluta destruição' de Amber Heard?

A atriz Amber Heard durante julgamento em que enfrentou o ex-marido, Johnny Depp - Evelyn Hockstein/POOL/AFP
A atriz Amber Heard durante julgamento em que enfrentou o ex-marido, Johnny Depp Imagem: Evelyn Hockstein/POOL/AFP

Débora Miranda

De Universa, em São Paulo

03/06/2022 07h00

Esta é a versão online da edição desta sexta-feira (03/06) da newsletter de Universa, que fala da repercussão da decisão final do julgamento envolvendo os atores Amber Heard e Johnny Depp, além de trazer o melhor de Universa na semana e indicações do que lemos por aí. Cadastre-se e receba o boletim diretamente no seu email. Assinantes UOL podem ter 10 newsletters exclusivas toda semana.

"A absoluta destruição de Amber Heard vai ter um impacto." Enquanto leio a frase da advogada Mackenna White no "New York Times", penso em como o espetaculoso processo judicial em que a atriz se envolveu com o ex-marido, o ator Johnny Depp, foi ruim para todo o mundo. Pelo menos para todo o mundo que é mulher.

E aqui, que fique claro, não estou questionando a decisão do júri do estado da Virgínia, que considerou que a atriz prejudicou a reputação de Depp ao publicar um artigo no jornal "Washington Post" se dizendo uma "figura pública que representa a violência doméstica". E condenou-a.

Mas, sim, que consequências esse julgamento de seis semanas terá para as mulheres de forma geral?

A única certeza que a troca de acusações entre Amber Heard e Johnny Depp deixou foi a de que ambos agiram de forma violenta durante o casamento, que durou dois anos. A atriz destacou o uso de drogas do ex-marido. Ele apontou que ela já teve outros relacionamentos tóxicos. Outro ponto é que especialistas normalmente não acreditam na prática de abuso mútuo, já que, mesmo quando o comportamento agressivo vem de ambos os lados, há desigual força entre os envolvidos.

Por isso, ressalto uma vez: neste momento, o mais importante é olhar para os efeitos dessa batalha judicial além da côrte.

Quando a advogada entrevistada pelo "New York Times" fala em "absoluta destruição de Amber Heard", ela não está se referindo à condenação da atriz, mas ao que ela enfrentou durante o processo, no mundo aqui fora.

O fato de Amber Heard ter virado chacota mundialmente, de ter suas imagem estampada em inúmeros memes, de ter sido xingada, humilhada, desacreditada, ameaçada de morte, faz crescer exponencialmente o receio que muitas mulheres já têm de denunciar seus abusadores. É um momento difícil, de grande exposição e sensibilidade, e, aprendemos agora com Heard: sempre pode piorar.

"Se você é alguém que se preocupa com o que pode acontecer se fizer uma denúncia, isso pode ter o mesmo efeito assustador que estamos tentando reverter todos estes anos", afirmou White, que trabalha aconselhando pessoas sobre os riscos de tornar públicas acusações de má conduta sexual.

Aqui está meu ponto.

Para além de ganhar ou perder um processo, as mulheres que tornam públicas acusações de violência doméstica ou abuso sexual precisam de uma coragem descomunal para tomar essa decisão -especialmente quando enfrentam uma relação desigual com o acusado, seja por ter menos dinheiro, seja por estar abaixo dele hierarquicamente, seja por gozar de menos poder.

Decidir expor momentos íntimos, muitas vezes constrangedores, não é fácil. Quantas vezes já fui procurada, como jornalista, por mulheres que, indignadas com injustiças no ambiente de trabalho ou machucadas pela violência, decidem falar abertamente sobre isso? E quantas vezes, depois de um dia ou dois pensando, essas mulheres desistem de denunciar, por avaliar que as consequências de se posicionar podem ser avassaladoras para sua saúde mental, para sua carreira e até mesmo para sua vida familiar?

É a total destruição de Amber Heard que afeta todas nós, sem distinção, ainda de forma massiva. Óbvio que nem todos os casos virarão notícia nem se tornarão necessariamente esse show de horror. Mas, no pequeno universo de cada mulher, as consequências de enfrentar um processo assim ainda podem ser trágicas.

O medo de denunciar é algo que movimentos como o Mee Too vêm tentando extirpar. É um trabalho de longo prazo, que demanda diálogo, paciência, acolhimento. É mudar mentalidades e comportamentos.

Uma mulher apoia a outra. Uma denúncia pode ajudar a sustentar outra. É o senso de justiça se tornando coletivo, num momento em que a fragilidade é generalizada. E por isso é tão grave o que houve com Heard. E por isso sua total destruição pode significar um retrocesso imenso na luta feminina por um sistema mais justo -o que não significa que as mulheres sempre tenham de vencer as ações judiciais que iniciam, mas, sim, que sejam respeitadas durante esses processos.

O medo de denunciar é algo que grande parte dos homens provavelmente desconhece. Para Johnny Depp por exemplo, segundo suas próprias palavras, a Justiça deu a ele sua vida de volta. Já para Heard e tantas mulheres que, agora, sentem-se desencorajadas de denunciar seus agressores, o sentimento que fica é apenas de total destruição.

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