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Aluna sofre transfobia ao ser tratada por pronome errado na Ufal: 'Deboche'

Aluna trans afirma que, apesar de ser corrigido por ela, funcionário insistiu por três vezes em tratá-la pelo pronome masculino - Reprodução/Instagram
Aluna trans afirma que, apesar de ser corrigido por ela, funcionário insistiu por três vezes em tratá-la pelo pronome masculino Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para Universa

03/06/2022 14h17Atualizada em 03/06/2022 14h17

Acusado de transfobia, um funcionário terceirizado da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) foi afastado pela instituição esta semana, após uma aluna transexual vir a público para reclamar do desrespeito com que foi tratada no restaurante universitário do campus A.C. Simões, em Maceió.

Nefertiti Souza, estudante de Letras, publicou um vídeo em seu perfil no Instagram onde conta como foi por diversas vezes tratada com o pronome masculino por um funcionário do restaurante, mesmo após tê-lo alertado sobre o seu incômodo com a situação. Na sua opinião, existe um despreparo da comunidade acadêmica no tratamento dessa questão.

"Quando eu o corrigi, ele o fez mais três vezes, com certeza em forma de deboche. A gente acabou tendo uma discussão por causa disso. Minha companheira, que estava comigo, foi perguntar o nome dele, falando que a gente ia tomar uma medida, que a gente ia entrar em contato com a pró-reitoria estudantil e ele respondeu: 'Eu não preciso trabalhar aqui, sou concursado no interior'", diz a aluna.

"Ele já fez isso várias outras vezes, já foi corrigido várias outras vezes, e nunca tinha nos tratado assim, com tanta violência. Ele gritou, enfim, foi muito desconfortante", lamentou.

Nefertiti afirmou que os alunos estão organizando uma manifestação dentro do restaurante universitário, para protestar contra a atitude do funcionário, que ela classificou como agressiva e violenta contra pessoas trans nas universidades. Em vídeos publicados nos stories do Instagram, ela informou que chegou a registrar um boletim de ocorrência contra o funcionário.

"Estou aqui como mulher preta e trans para repudiar esse ato e para pedir um atendimento de qualidade na universidade. Cobro da instituição uma medida a respeito disso. Que isso não ocorra mais, em nenhum setor. Que eu não precise mais justificar o meu gênero para ninguém dentro da universidade, que é um campo de inclusão. Que seja feita essa inclusão, porque eu não me sinto incluída, e vocês [universidades] não estão preparadas para nos receber. Esse despreparo é vivenciado, e é extremamente traumático", disse.

Ufal afasta funcionário

Em comunicado publicado nas redes sociais, a Ufal informou que abriu procedimento administrativo para apurar o ocorrido e avisa que pediu à empresa contratada para gerenciar o restaurante o afastamento imediato do funcionário acusado de transfobia. Confira a nota, na íntegra:

Tivemos conhecimento, na noite de ontem (31/05/2022), de uma ocorrência envolvendo funcionário de uma empresa terceirizada, que presta serviço no Restaurante Universitário (RU) do Campus A.C. Simões, e uma estudante moradora da Residência Universitária Alagoana (RUA).

A estudante alega ter sido vítima de tratamento homofóbico por parte do funcionário durante atendimento realizado no RU no dia de ontem. Informamos, de antemão, que repudiamos qualquer espécie de ataque homofóbico, seja ele ocorrido dentro ou fora do espaço universitário. Em pleno 2022, não pode haver mais espaço para esse tipo de desrespeito. Lembramos ainda que, desde 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a homofobia está enquadrada como crime inafiançável e imprescritível. Por isso, incentivamos a todos aqueles que se sentirem desrespeitados por sua orientação sexual ou identidade de gênero que registrem Boletim de Ocorrência (o que já foi feito pela estudante) para que, dentro da lei, as autoridades competentes realizem a investigação dos fatos.

Por parte desta Pró-reitoria, informamos que, ainda na noite de ontem, notificamos a gerência do RU sobre o ocorrido. No dia de hoje, abrimos processo administrativo para registro da denúncia. Em consequência disso, a gerência do RU solicitou, à empresa contratada, o imediato afastamento do funcionário de suas funções no restaurante. Além disso, será realizada reunião com todos os colaboradores do restaurante, a fim de reforçar a necessidade e importância do pleno respeito às diferenças no atendimento ao nosso público.