Agustin, amigo maquiador de Michelle Bolsonaro: 'Temos vínculo especial'
Entre posts de viagem e de trabalho, o maquiador e empresário Agustin Fernandez também compartilha com seus mais de 4 milhões de seguidores no Instagram cenas de Michelle Bolsonaro se maquiando. Amigo íntimo da primeira-dama, ele afirma que expor a amizade na rede social foi a forma que encontrou para quebrar a imagem de que seria maquiador dela. "Não quero, de forma alguma, que pensem que eu recebo algum benefício do governo", afirma.
De sua casa em São Paulo, o Agustin conversou com Universa e foi enfático: ele não é maquiador da primeira-dama. "Nós temos uma amizade de muito respeito e admiração. Sei que ter esse título poderia dar ainda mais fama a qualquer maquiador, mas não acho correto fazer business com alguém com quem tenho um vínculo tão especial, não vejo meus amigos como oportunidades de gerar valor no mercado."
Segundo Agustin, Michelle tem ótimas habilidades quando o assunto é maquiagem. "Ela se maquia muito bem, em dez minutos e até no carro em movimento", diz ele, mostrando um vídeo de Michelle usando um curvex no carro. "Até fiz um meme falando que uma mulher que faz isso é capaz de dominar o mundo", diverte-se.
"Me acusam de viajar com a FAB"
A relação entre Agustin e Michelle começou por meio do Instagram, com admiração mútua, e cresceu pessoalmente quando eles começaram a realizar trabalhos sociais juntos. O primeiro deles foi no Hospital do Câncer, em Barretos, interior de São Paulo.
"Quando fazemos esses trabalhos, preciso me encaixar ao esquema de segurança dela. Muita gente já me acusou de ficar viajando com a FAB (a frota de aviões da Força Aérea Brasileira, usada por autoridades do governo em viagens oficiais), mas foi só essa vez e uma outra para um casamento comunitário em Brasília, que eu também fui trabalhar com ela. Fora dessa cena eu nem dirijo ou tenho carro, prefiro andar de Uber, acho até mais seguro por causa da minha ansiedade", conta.
Há alguns dias, os veículos brasileiros publicaram notícias anunciando que Michelle havia voltado de uma viagem para Israel com a ex-ministra Damares Alves (agora candidata ao Senado) e com Agustin. Nas matérias, o uruguaio, que há muitos anos vive no Brasil, é indicado como maquiador da primeira-dama.
A insistência no rótulo incomoda Agustin: "Comecei a guardar todos os comprovantes, um hábito que não tinha. Se alguém achar que estou fazendo coisa errada, posoo provar que não. Sempre que estou com Michelle tem gente que insinua que aquilo poderia estar sendo pago com dinheiro público, e isso me deixa mal, esse é um assunto sério e seria muito errado. Sempre me preocupei com o que as pessoas pensam de mim".
Desconfortos como esse já aconteceram algumas vezes, mas Agustin acredita que as coisas estão mudando. "Já cheguei a mandar comprovantes para veículos da imprensa depois da publicação de matérias erradas, me acusando de uso de dinheiro indevido. Eles até corrigiram, mas aí já é tarde demais, né? Quem leu a matéria raramente vai ler a correção", pontua.
Entretanto, no Instagram, ele percebe comentários de apoio mesmo de quem não é fã: "Às vezes, aparecem pessoas falando que nem gostam de mim, mas que veem que sou trabalhador e esforçado".
Cachorros, orações e terapia
Normalmente, Agustin tem uma vida regrada. De manhã, estuda inglês para negócios e cuida dos seus cachorros. Ele tinha cinco e acabou adotando mais três abandonados no pet shop que frequenta. "Agora são oito. Levo para passear em dois turnos porque são de tamanhos diferentes. Dá trabalho, mas sou apaixonado", conta.
De hábitos noturnos, só engata mesmo no trabalho depois do almoço. Ultimamente, porém, esses dias têm sido atípicos. A volta das agendas internacionais aumentaram o ritmo das viagens, mas disso ele não reclama. "Tenho três passaportes cheios e me sinto realmente livre quando viajo."
Foi em um desses roteiros que encontrou Michelle Bolsonaro, dando o pontapé a toda a polêmica. "Ela estava num roteiro religioso, eu estava fazendo um passeio turístico e a acompanhei em algumas cerimônias porque tinha vontade de ver. Mas eu que paguei pela viagem", reforça.
Para cuidar do seu lado espiritual, Agustin é "a favor de tudo". É fiel à terapia, vai à igreja, gosta de frequentar um retiro Adventista no interior de São Paulo e não tem rejeição a tomar remédio, se for necessário. "O retiro tem uma alimentação vegana e leve, não serve café, um vício meu. Não tem culto, mas me deixa perto da natureza. Também carrego sempre comigo um remédio de resgate, um conceito que muita gente não gosta, mas que serve para crises agudas", relata.
Lar disfuncional e ansiedade
As crises de ansiedade e de pânico começaram cedo e, ultimamente, estão mais controladas devido a um combo de terapias e cuidados. Na infância, Agustin vivia em um lar disfuncional. Em várias ocasiões, o influenciador, que ganhou notoriedade no Brasil ao postar fotos com maquiagens exuberantes, compartilhou as dores de crescer em um ambiente tóxico e de ter sofrido abuso sexual.
Aos 16 anos, ainda no Uruguai, saiu de casa foi morar com uma mulher que havia acabado de abrir um salão. O combinado entre eles era de que ela daria comida e abrigo ao garoto, e ele, em troca, seria seu assistente. Foi assim que Agustin aprendeu primeiro a lavar cabelos, depois a secar, cortar, fazer maquiagem e até depilação e unhas. Com 18 anos, veio para o Brasil, onde se aperfeiçoou e ganhou fama.
Divo: personagem "montado" faz sucesso nas redes sociais
O sucesso chegou não só por ser maquiador, mas também por causa das redes sociais. Com seu perfil no Instagram, Agustin virou o Divo, um personagem sempre "montado" e elegante.
A exposição pública é um desafio para Agustin, que afirma ser uma pessoa introvertida. "Gosto de passar despercebido, mas entendi que o Divo era uma forma de me destacar no Instagram. O visual impactante atrai e fica marcado. Tenho feito um esforço, porém, para explicar para as pessoas que ele é apenas uma parte de mim", diz ele, que chega a ser reconhecido na rua, especialmente quando sai de batom vermelho.
"Mas isso é mais uma realidade hoje em dia. Antigamente, sofri muito preconceito por ser um homem de barba com trejeitos afeminados e que andava maquiado", lembra..
Preconceito
Augustin afirma que foi recusado por muitas marcas quando se ofereceu para parcerias. Diz também que foi esnobado pela comunidade LGBTQIA+.
"Quem me acolheu foram as pessoas conservadoras e as mulheres. Percebi que a comunidade me condenava. Não entrava no padrão esperado, sentia que não tinha como me desenvolver emocionalmente ali.
"Fui criando uma rejeição que hoje já está mais bem resolvida, mas ainda assim acredito que a comunidade tenha que resolver muitos problemas internos para realmente abraçar todos", opina.
Apesar da relação delicada com a comunidade LGBTQIA+ e de polêmicas em 2018, quando Agustin manifestou apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PL) apesar das acusações de homofobia, ele acredita que precisa fazer sua parte, não só dar as costas a quem não lhe estendeu a mão. "Quero que as pessoas recebam o carinho e a ajuda que eu não tive, mas que desejava ter tido."
Fora os trabalhos voluntários em casas que recebem a população trans, também advoga para que cada vez mais empresas contratem profissionais trans. "A maquiadora estrela da minha marca é travesti. Muitos outros advogados, médicos, dentistas, arquitetos são homoafetivos e poderiam ter mais funcionários trans para demonstrar apoio a essa população, mas têm medo da reação das pessoas a serem atendidas", diz.
Maquiador e empresário
Os cursos ao redor do mundo e o contato constante com as brasileiras em salões, trabalhos voluntários e, principalmente, na internet, ajudaram Agustin a compreender as necessidades quando o assunto é maquiagem e os espaços no mercado.
Da sua percepção surgiu a marca de maquiagem e skincare que leva seu nome, um sucesso de vendas que foi sucedido por uma marca de semijoias.
Os produtos 100% nacionais (com exceção da máscara facial, produzida na mesma fábrica da Chanel) também começaram a ser procurados por brasileiros no exterior e alunos de Agustin em cursos internacionais. Vendo que, no site, muitos carrinhos não eram fechados porque estavam fora da área de cobertura das entregas, ele resolveu expandir a marca internacionalmente, criando uma filial na Flórida, nos Estados Unidos.
Falando de futuro, a perspectiva do maquiador e empresário é conquistar algo que, para ele, é muito mais importante e valioso do que dinheiro. "Quero ser reconhecido pela pessoa que sou e pelo que construí. Fico realizado vendo que sou útil na vida das pessoas, que estou causando alguma transformação. Não me sinto à vontade quando as pessoas pensam que consegui o que tenho por acaso ou pela mão de alguém."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.