Pílula contínua: o que a medicina diz sobre viver sem menstruar
Há muitos mitos em torno da menstruação - e mais ainda sobre a ausência dela. Quem toma pílula anticoncepcional de forma contínua pode se deparar com a dúvida: será que estou fazendo mal para o meu corpo? Mas isso não é verdade. Especialistas afirmam que tanto o anticoncepcional via oral contínuo quanto o com pausa causam os mesmos efeitos nas mulheres.
"Se você não está tomando nenhum hormônio, não menstruar significa um problema. Mas com a pílula, contínua ou com pausa, não. Em termos de saúde, esse não menstruar pode trazer mais conforto para a paciente, que não fica com sintomas", diz a ginecologista Giórgia Lauriano Pasquali, colaboradora da Plataforma Sexo sem Dúvida.
Nós sabemos que a pílula ajuda a evitar a gravidez, mas ela não age apenas nos nossos ovários. Ela afeta também uma glândula do nosso cérebro. "O anticoncepcional hormonal faz um bloqueio na hipófise, que controla os nossos ovários. Ela produz alguns hormônios e estimula a região a produzir os óvulos, dando o gatilho para que eles sejam liberados no corpo", diz a ginecologista Lilian Fiorelli, especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia pela USP.
Os comprimidos indicam para a hipófise que já existe no corpo estrogênio e progesterona, os hormônios responsáveis pela menstruação. Assim, os ovários não precisam ser estimulados. A longo prazo, ao contrário do que muitas mulheres pensam, o uso desse anticoncepcional não afeta a nossa quantidade de estoque ovular e nem a fertilidade. "A nossa quantidade de óvulos é fixa, desde o momento em que a gente nasce. A cada mês, perdemos cerca de mil deles, ovulando ou não", diz Lilian.
Por isso, mulheres que param para "dar uma limpada no corpo antes de engravidar" podem ficar grávidas muito rapidamente após a interrupção do uso do medicamente. Basta interromper seu uso para voltar a ovular no próximo mês.
É claro que cada caso é um caso. "Se uma paciente usa pílula há muito tempo, com ou sem pausa, é natural ela ter um atraso em suas tentativas para engravidar. Isso não significa que a pílula cause problemas ao organismo, e sim, que o ovário ficou mais 'preguiçoso' nesse período e precisou de um tempo pra engrenar", diz Giórgia.
Se o tempo normal de tentativa de engravidar de um casal, antes que sejam necessárias investigações na saúde, é de um ano. Com o uso da pílula, seja ele contínuo ou não, pode chegar a um ano e meio.
Pílula pode mascarar sintomas
Nem o corpo e nem a saúde da mulher é prejudicada pelo uso de anticoncepcional. Mas, a presença constante de hormônios no organismo, sem que o corpo precise fazer esforço para gerá-los, pode mascarar alguns sintomas de problemas que saberíamos com mais facilidade sem o uso da pílula.
"A pílula pode, sim, melhorar os sintomas de cólica, TPM, sangramento abundante. Se a paciente faz uso desde a adolescência e tiver, por exemplo, endometriose ou miomas, ela pode demorar mais para ter um diagnóstico, mesmo com exames regulares", diz Giórgia. E se a mulher faz uso da opção contínua ela pode, ainda, não perceber alguns sintomas que sinalizam a chegada da menopausa.
"O principal sintoma da menopausa é a ausência da menstruação. E quem usa pílula contínua vai demorar para perceber isso. Se a paciente já tem idade para entrar nessa fase é necessário parar o uso e investigar questões hormonais", diz Giórgia.
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