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Antonieta de Barros: 1ª negra eleita no país deve virar Heroína da Pátria

Antonieta de Barros (1901-1952), primeira mulher negra eleita deputada no país - Udesc/Divulgação
Antonieta de Barros (1901-1952), primeira mulher negra eleita deputada no país Imagem: Udesc/Divulgação

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

08/06/2022 11h42

A primeira mulher negra eleita no Brasil, Antonieta de Barros, deve ser a próxima personalidade a entrar para o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria -a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou na terça-feira (7) a inclusão de seu nome e, agora, a proposta vai para o Senado.

"Antonieta de Barros foi uma personagem de grande importância na história de luta contra os preconceitos de cor, classe e gênero no Brasil, tendo dedicado sua vida a combater o analfabetismo de adultos carentes, na crença de que a educação era a única arma capaz de libertar os desfavorecidos da servidão", falou o deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), relator da proposta, ao defender a indicação de Antonieta.

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, também conhecido como Livro de Aço, fica no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e reúne cerca de 50 nomes, entre eles Zumbi dos Palmares, Dom Pedro I, Ana Néri e Luís Gama, além de ex-presidentes, como Getúlio Vargas e Tancredo Neves.

O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília - Wikimedia Commons - Wikimedia Commons
O Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília
Imagem: Wikimedia Commons

Mas, além de ter sido pioneira ao alcançar o posto de deputada estadual por Santa Catarina, em 1934, Antonieta de Barros tem outras conquistas tão impressionantes quanto: abriu um curso popular para alfabetizar adultos, criou o Dia do Professor, é considerada a primeira mulher negra a trabalhar na imprensa em Santa Catarina, tendo dirigido um jornal e uma revista, e foi a primeira mulher a assumir a presidência de uma assembleia no Brasil.

Conheça mais sobre a história dela:

Educação para todos e todas

Antonieta de Barros já era uma mulher adulta quando aprendeu a ler e escrever, ensinada por estudantes que viviam em sua casa, que sua mãe, uma escrava liberta que trabalhava como lavadeira, transformou em pensão para completar a renda da família.

Para Antonieta de Barros, a educação era a ferramenta que poderia reduzir a desigualdade para mulher e negros no Brasil.

Em defesa desta bandeira, fundou um curso popular para alfabetizar adultos, enquanto lecionava em escolas de elite de Florianópolis. O Curso Particular Antonieta de Barros funcionou em sua casa até 1952, quando ela morreu.

Mais tarde, já eleita, foi responsável por criar leis que concediam bolsas de estudos em cursos superiores para alunos pobres, que não poderiam pagar a mensalidade, e também que criavam concursos para o magistério, para elevar a qualidade dos profissionais que ensinavam nas escolas públicas de Santa Catarina.

Foi responsável, também, por criar o Dia do Professor e transformar a data em feriado escolar em Santa Catarina. Duas décadas mais tarde, a data se tornaria feriado escolar em todo o país.

Antonieta de Barros foi alfabetizada por estudantes que viviam em sua casa, onde funcionava uma pensão - Divulgação/Memorial Antonieta de Barros - Divulgação/Memorial Antonieta de Barros
Antonieta de Barros foi alfabetizada por estudantes que viviam em sua casa, onde funcionava uma pensão
Imagem: Divulgação/Memorial Antonieta de Barros

"Mulheres não devem ser 'virgens de ideias'"

Antonieta foi a primeira mulher negra eleita no país -e foi, também, uma das três primeiras mulheres a ocupar mandatos populares.

Ela chegou à Assembleia Legislativa de Santa Catarina em 1934, mesmo ano que a médica Carlota Pereira de Queirós alcançou o posto de deputada federal por São Paulo, e sete anos depois que Alzira Soriano se tornou prefeita em uma cidadezinha do Rio Grande do Norte, primeiro estado brasileiro a permitir candidaturas femininas.

Enquanto exercia o mandato de deputada, ela fundou e dirigiu durante alguns anos um jornal, "A Semana", e uma revista quinzenal, "Vida Ilhoa". Nas duas publicações, defendia as bandeiras da educação e da participação das mulheres e dos negros na vida pública.

Em suas colunas, em que criticava colegas parlamentares e respondia a ofensas feitas em plenário, assinava como Maria da Ilha, mesmo pseudônimo que usou para publicar o livro "Farrapo de Ideias", em 1937.

Dizia, em seus textos, que as mulheres não deveriam ser "virgens de ideias".