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Homem é flagrado agredindo mulher trans a socos em SP: 'Quebrou meu dente'

Vídeo que circulou nas redes mostra Priscyla sendo agredida com socos por um homem no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo - Arquivo Pessoal
Vídeo que circulou nas redes mostra Priscyla sendo agredida com socos por um homem no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Businari

Colaboração para Universa

10/06/2022 14h45

Um homem ainda não identificado jogou baldes d'água e agrediu com socos no rosto e na cabeça uma mulher trans no Planalto Paulista, bairro nobre da zona sul de São Paulo. Priscyla Rodrigues Jonson, 26, ficou com escoriações pelo corpo, hematomas e ainda perdeu um dente por conta da violência com que foi agredida.

Ela abriu um boletim de ocorrência na delegacia do Campo Limpo, onde também passou por exame de corpo de delito. O crime foi registrado como lesão corporal, mas gerou protestos do advogado que a representa, que pede que se apure transfobia.

O caso aconteceu na manhã de ontem (9), na esquina da Alameda dos Quinimuras com a Avenida Irerê, tradicional ponto de prostituição da capital paulista. Priscyla, que se preparava para voltar para a casa, foi abordada pelo homem, que mora em uma casa nas proximidades, com um balde de água fria.

pry - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Priscyla, 26, diz que está com muito medo de retornar ao bairro onde foi agredida
Imagem: Arquivo Pessoal

"Fiquei perguntando a ele por que tinha feito aquilo. Ele voltou para a casa dele e retornou com um outro balde. Jogou a água em mim e partiu para cima, me dando um soco atrás do outro no rosto e na cabeça. Ele era tão forte que eu não consegui reagir. De repente, ficou tudo escuro e eu caí na calçada. Fiquei toda machucada, foi assustador", contou ela ao UOL.

Ele procurava acertar o meu rosto. Cabeça e rosto. Tanto que quebrou meu dente da frente com a força dos socos. Eu vivo da minha imagem, como vou fazer agora? Ele acabou com o meu sorriso. Acho que ele queria me deixar feia.

A ação do agressor foi gravada em vídeo por uma amiga da vítima e compartilhada nas redes sociais com denúncia de agressão pelo ativista dos direitos LGBTQIA+ Agripino Magalhães.

"Esse é o retrato de uma violência que a população LGBTQIA+ sofre todos os dias. Muitas vezes, quando a gente relata que é vítima da violência e do ódio, as pessoas dizem que é 'mimimi', não levam a sério. No caso da Priscyla, fica claro no vídeo que o crime foi de transfobia. Mas registraram como lesão corporal comum. Vamos tomar providências e levar o caso à Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância)", declarou.

O vídeo que circulou nas redes sociais - e que Universa não publicará para preservar a vítima - mostra o momento em que o homem desfere socos contra a cabeça de Priscyla. Cambaleando, ela começa a gritar para algumas pessoas que assistem à cena que chamem a polícia.

Homem é morador do bairro

O homem que aparece nas imagens, diz a vítima, mora em uma casa na rua onde ocorreu a agressão. Ele já foi gravado em vídeo anteriormente jogando água em suas amigas. Priscyla diz que ele se mudou para lá há cerca de dois anos e que não havia demonstrado outros comportamentos agressivos.

"Pelo contrário, ele cumprimentava as meninas que trabalham naquele local. Mas, de uns dois meses para cá, ele se transformou. Começou a perseguir minhas amigas, a jogar água nelas. Até os cachorros ele já soltou para cima das meninas. Não sabemos o que aconteceu para ele ter se transformado desse jeito"

Uma das vizinhas do homem foi quem chamou a polícia. "Ele saiu correndo e se escondeu dentro de casa. Quando os policiais tocaram a campainha, quem saiu foi a esposa dele, dizendo que ele não estava em casa e eles foram embora".

Advogado da vítima, Cauê Machado, disse que o caso de sua cliente demonstra que, apesar das leis que preveem tratamento diferenciado a esse tipo de crime, a polícia ainda reluta em fazer o que é correto. Ele contou que, no plantão policial, ela teve que pedir para ser tratada pelo nome social. No boletim de ocorrência, consta o nome de batismo.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que a transfobia não é uma natureza criminal. "O caso foi registrado como lesão corporal e a vítima orientada quanto ao prazo de seis meses para representar contra o autor, já que o crime em questão é de ação pública condicionada. Uma vez feita, a investigação confirmará a motivação do crime", declarou o órgão.

Mas o advogado pensa de forma diferente. "O Ministério Público precisa pedir a prisão do agressor, pela ordem pública. As agressões estão se tornando progressivas. Ele começou xingando as meninas, depois jogando água nelas e agora agredindo fisicamente. O próximo passo pode ser ele praticar um feminicídio contra as meninas", disse.

Preparando-se para ir ao hospital fazer exames para conferir a gravidade das lesões, Priscyla afirmou que espera que a polícia tome alguma providência com relação ao agressor. "Eles sabem onde ele mora, só não sabem ainda a identidade dele. A gente fica com medo. Não dá para contar com a sorte. Quem começa agredindo assim, pode acabar matando".

Não tolere violência, saiba como procurar ajuda

O Ligue 190 é o número de emergência indicado para quem estiver presenciando uma situação de agressão.

A Polícia Militar poderá agir imediatamente e levar o agressor a uma delegacia.

Também é possível pedir ajuda e se informar pelo número 180, do governo federal, criado para mulheres que estão passando por situações de violência. A Central de Atendimento à Mulher funciona em todo o país e também no exterior, 24 horas por dia. A ligação é gratuita.

O Ligue 180 recebe denúncias, dá orientação de especialistas e encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico. Também é possível acionar esse serviço pelo WhatsApp. Nesse caso, acesse o (61) 99656-5008.