Podcaster foi indiciada por oferecer vaga a mulheres negras: 'Assustada'
A podcaster Déia Freitas, do programa "Não Inviabilize", descobriu na última sexta-feira (10) ter sido indiciada por ter anunciado, em janeiro, uma vaga de assistente de roteiro apenas para mulheres negras e indígenas.
Na época, Déia, que também é psicóloga e roteirista, sofreu uma série de ataques machistas e racistas nas redes sociais, recebeu ameaças e foi alvo de fake news que diziam que ela praticava esquema de pirâmides, estelionato e até tráfico de drogas. "Fiquei muito assustada quando li a intimação. Na época do anúncio da vaga, fui acusada de coisas absurdas. Agora parecia que aquele pesadelo ia voltar", disse, a Universa, no sábado (11).
Foi instaurado contra ela um inquérito por veiculação de anúncios discriminatórios, mas que o Ministério Público investigou e indeferiu a denúncia, entendendo que não há nada de ilegal em divulgar uma vaga afirmativa.
No Twitter, Déia contou que só teve acesso à intimação nesta semana porque, na época dos ataques, o e-mail que havia criado para receber currículos para a vaga, foi invadido e bloqueado.
A reportagem teve acesso ao documento do Ministério Público do Trabalho que decide por indeferir o pedido de instauração de inquérito por "discriminação racial e de gênero" contra Déia.
Nele, a promotora Elisa Maria Brant de Carvalho Malta argumenta, ao longo de dez páginas, que a vaga divulgada "configura louvável exemplo de ação afirmativa destinada a garantir, em igualdade material e real de oportunidades, o ingresso de negras, pardas e indígenas no mercado de trabalho" —citando, inclusive, uma entrevista da podcaster a Universa, publicada em 16 de janeiro último.
"Fiquei feliz quando que entendi que ela [a promotora] e o sistema apoiam iniciativas de vagas afirmativas. Eu nunca quis estar fora da lei", disse Déia.
No trecho da entrevista dada pela podcaster e citado pela promotora no documento, Déia fala a Universa que acredita que o que gerou tantos ataques foi o valor oferecido para a vaga: R$ 22 mil para quatro meses de trabalho, considerado alto por alguns seguidores.
"Como eu restringi o público [para mulheres pretas, pardas e indígenas], muita gente questionou: 'Como assim eu não posso?'. Mas eu não estou tirando nada de pessoas brancas, só oferecendo uma oportunidade de trabalho, que não é nenhuma loteria, para pessoas pretas, pardas e indígenas. Eu sei que muita gente precisa de trabalho, mas as pessoas brancas acham que têm mais direito à vaga", disse, na época.
Desde que a vaga foi anunciada, há quase seis meses, o "Não Inviabilize" perdeu cerca de 1.500 apoiadores —ouvintes que pagam uma assinatura mensal do programa para ter acesso a episódios exclusivos.
O formato de histórias curtas, enviadas por ouvintes e contadas em clima de fofoca, que vão do primeiro date a relatos de traições, casos de firma a brigas em família, levou o "Não Inviabilize" a ocupar o segundo lugar no ranking dos programas mais ouvidos do Spotify em 2021, com mais de 550 mil ouvintes e 50 milhões de reproduções. Além disso, já há um contrato para as histórias virarem uma série.
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