Com uma garrafa térmica e um isopor, ela criou empresa e fatura R$ 25 mil
Em 2014, após um tratamento de câncer e o nascimento de sua filha caçula, Antonia Lopes, hoje com 46 anos, decidiu realizar um sonho: deixar o emprego formal e empreender. Seu negócio teve início na porta de uma faculdade em Guarulhos (SP), onde vendia tortas e bolos. Ali, nasceu a Doce Encanto, que tinha um faturamento mensal de aproximadamente R$ 1.000. Com a busca pela capacitação e a expansão da empresa, Antonia hoje emprega seis mulheres e fatura R$ 25 mil mensais.
A empreendedora conta a Universa que se especializou em eventos corporativos, mas, com a chegada da pandemia do novo coronavírus, teve toda a agenda presencial cancelada. O baque lançou sobre ela um novo desafio: recomeçar sua trajetória profissional. Atualmente, explica ela, a Doce Encanto atende tanto o público corporativo quanto pessoas interessadas em seus doces e salgados.
"Desde criança tenho o sonho de ser dona de um restaurante. Minhas brincadeiras eram sempre entre panelas, queria ter minha própria cozinha profissional e me aventurava em decorar pratos, claro, conforme as condições humildes em que vivia. Por ter me casado muito cedo, esse sonho ficou adormecido e dediquei 15 anos de carreira ao trabalho em escritório", diz.
Aos 34 anos, Antonia recebeu o diagnóstico de um câncer raro de tireoide que abalou a família —mas ela se manteve firme e correu atrás dos tratamentos. Pouco tempo depois, outra surpresa: Antonia descobriu que estava grávida da filha caçula.
Jamais pensei em desistir. Após essas turbulências, reacendeu em mim a vontade de realizar meu sonho. Foi então que fiz um acordo no trabalho e, com o valor da rescisão, comprei uma garrafa térmica, uma caixa de isopor e, abastecida de uma incandescente vontade de vencer, fui para a porta de uma faculdade em Guarulhos vender tortas, bolos e café na traseira de um Kadett.
Em pouco tempo ela ficou conhecida como "a tia da torta" e os pedidos foram se multiplicando proporcionalmente ao reconhecimento. "O famoso boca a boca foi um grande aliado nessa fase", comenta.
O passo seguinte foi investir em uma Kombi, a fim de ter maior espaço. Como já atendia pedidos de salgados nos fins de semana, realizou cursos de confeitaria e começou a trabalhar com kits para festas até o ano de 2018. Nessa época, chegou a trabalhar mais de 12 horas por dia, às vezes seguindo noite adentro, e não conseguia ver resultado financeiro.
"Eu tinha um produto excelente, uma clientela em crescimento, cada vez mais pedidos, mas ainda assim não conseguia ver resultado. O faturamento, que era em média de R$ 1.000 por mês, era reinvestido em produtos e nada de enxergarmos o lucro. Foi quando me inscrevi no Sebrae para aprender sobre empreendedorismo e nunca mais parei de estudar", diz Antonia, acrescentando que o conhecimento a salvou.
"Logo após o término do curso, participei do processo seletivo do Consulado da Mulher, um projeto de ação social da marca Consul que visa capacitar mulheres empreendedoras e, por meio da assessoria deles, pude me capacitar ainda mais, ampliando meus conhecimento em finanças, marketing, manipulação de alimentos, etc.."
Expansão apesar dos obstáculos
A fase boa finalmente chegou. Antonia se regularizou, se tornou MEI (Microempreendedor Individual) e passou a emitir nota fiscal. A mudança possibilitou à Doce Encanto atender grandes empresas com serviço de Coffee Break e Kits Aniversariantes do Mês. Esse novo nicho de clientes deu origem à Doce Encanto Food, que de cara elevou o faturamento em quase 600% e trouxe a perspectiva de montar uma equipe para dar oportunidades a outras mulheres empreendedoras.
"No início de 2020, já tínhamos uma agenda de eventos recheada de reservas até o mês de setembro daquele mesmo ano. Mal esperávamos o novo e gigante obstáculo que estava por vir: a pandemia. O 1º lockdown caiu como uma bomba. Toda a agenda foi cancelada, os nossos clientes corporativos foram trabalhar em home office e, novamente, tivemos de nos reinventar. Então, desenvolvemos kits para comemorações em casa, e o nosso Kit Arraial na Caixa foi o grande sucesso de vendas em 2020", relembra.
Mesmo conseguindo sobreviver ao primeiro ano de pandemia, o impacto foi enorme e refletiu tragicamente na Doce Encanto. A equipe foi reduzida de oito para duas pessoas. Mais uma vez, Antonia mobilizou esforços a fim de não desistir e passou a oferecer bolos personalizados e kits para festas desenvolvidos de acordo com a demanda de cada cliente.
"Entramos em 2021 com muita vontade de fazer acontecer. Começamos a investir no marketing digital e, por meio de muita pesquisa, procurei entender a real necessidade dos meus clientes que antes estavam em ambiente corporativo e que viviam também as dificuldades desse novo cenário criado pela pandemia", continua.
Segundo ela, empreender é não ter medo de cair e levantar quantas vezes forem necessárias. Cada erro ajuda a fortalecer o trabalho lá frente, aponta a doceira. Respeitando todas as normas de segurança dos protocolos da covid-19, o negócio chegou ao período da Black Friday 2021 e, com a venda dos novos kits, voltou a crescer.
"Como resultado de todo esse recomeço, fechamos o ano 2021 com mais de 700 pedidos atendidos, além da conquista de outro grande marco: a Doce Encanto Food quase triplicou a carteira de clientes corporativos. Aprendi diante de tantos desafios que a informação, a busca pelo conhecimento e a vontade de fazer dar certo são características que nós, empreendedoras, temos de perseguir incansavelmente", destaca.
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