'Não monogamia também precisa ter acordos', diz criadora do Mamilos

Os relacionamentos, definitivamente, não são os mesmos de tempos atrás e eles foram o tema do painel "Líquidos, instáveis e de curta duração", durante o Universa Talks 2022. O debate contou com a participação de Cris Bartis, cofundadora do Mamilos e sócia do B9 Company, e de Elisama Santos, psicanalista e escritora. As duas falaram sobre os acordos que precisam ser firmados nos relacionamentos.

Durante o painel, elas comentaram sobre a situação de uma mulher casada, mas que tinha alguns relacionamentos fora do relacionamento. A pessoa tinha dúvidas sobre como agir e revelou medo de magoar o companheiro. A fundadora do Mamilos disse que, mesmo em relacionamentos não monogâmicos, é preciso existir acordos. Do contrário, estamos falando de traição.

"A gente tem filho, a gente vira pro filho e fala: 'você não pode ter tudo'. A gente vê um monte de adulto hoje com expectativa de que vai ter tudo, ao mesmo tempo que vai ter o marido incrível, vai ter o caso, vai ter tudo o tempo todo. Se casou com o cara legal: 'ah, mas é monogâmico'. Agora é poli, mas 'vou ter um caso que nenhum dos dois sabe'", disse ela.

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A gente vai juntando um monte de gente em volta numa teia lodosa de emoção que ninguém mais sabe porque está ali, falta limite.

"A gente tem de colocar limites antes de explodir. Por que não estamos fazendo isso depois de adulto, porque conversamos tanto dessa relação de novas parentalidades para os filhos e não está levando para o relacionamento adulto? Dá para refazer acordos. Você precisa suportar a frustração de tomar um não", aconselhou.

Elisama Santos seguiu na mesma linha e citou a situação do marido. "Se o marido dela não sabe, qual o acordo entre eles? A gente está querendo só a parte boa da vida —quero uma relação em que ele me mime, que eu tenha alguém para passar Natal, Réveillon, mas também quero uma novidadezinha em nosso sexo, quero ter tudo", afirmou.

Risco de ouvir um 'não'

Elisama também fez uma reflexão sobre a questão de magoar a outra pessoa. "Interessante, ela fala que tem medo de magoá-lo. Seu medo não é maior do que atender o desejo que você quer, o foco em você mesma. Então seu medo de magoar não é tão grande assim", disse ela.

"Como a Cris falou, podemos fazer acordos, mas o risco de ouvir não e, talvez, o que eu queira, é fazer algo escondido. Ela fala, gosto de adrenalina, não é sobre o prazer de estar com eles somente, a proibição, a rebeldia, faz parte do prazer. E aí, amiga, é terapia", completou.

Cris Bartis também explicou que o poliamor é bem diferente da "bagunça" que algumas pessoas pensam que é.

"A gente já falou sobre poliamor e uma das coisas que essas pessoas detestam é que as pessoas acham que é bagunça. Não é, existem acordos que são feitos para sustentar relações desse tipo."