'Meu filho se apegou ao meu ex': como agir quando o namoro acaba?
Assim como contar para os filhos que começou um novo relacionamento após a separação não é fácil, dar a notícia de que o namoro acabou também não costuma ser tão tranquilo. Isso porque, depois de tantas tentativas em aproximar as crianças ou adolescentes do par, na maioria dos casos, surge um apego entre ambas as partes. Como fica esse sentimento?
Priscila Rocha Campos, 31 anos, viveu isso com o filho Victor Henrique, 13. Após três de relacionamento, o menino e o hoje, ex namorado haviam se aproximado muito. Por isso, ela resolveu esperar um tempo para contar, com calma, sobre a separação. A psicóloga clínica Erica Amanda de Oliveira, professora da Faculdade Estácio, de Curitiba, indica, porém, que o ideal é não demorar muito para ter essa conversa. "Quando mais demorada, mais chance de confundir o filho, que percebe as mudanças no humor da mãe", afirma.
Após separação, como lidar com apego de filhos a ex?
Apesar de Victor Henrique ter resistido bastante quando ela contou sobre o novo relacionamento, três anos atrás, Priscila conta que logo ele e o namorado dela já estavam se dando bem, conversando bastante e se divertindo. Sempre que possível, estavam juntos nos finais de semana, o que reforçou a amizade entre o garoto e o novo namorado.
Quando o relacionamento acabou, menos de um ano depois, Priscila conta que levou um tempinho para contar ao filho que os dois não estavam mais namorando.
"Não queria que ficasse triste por não ter mais a convivência, já que ele estava bem adaptado com a ideia de futuramente nos mudarmos. Quando contei, não fui muito clara porque ele não tinha idade para entender sobre sentimentos, problemas de um relacionamento, necessidades, desentendimentos etc.", conta, em entrevista a Universa.
Ela optou por falar que não estava no momento ideal para viver outro relacionamento em tempo tão curto pós-casamento, que tinha acabado menos de dois anos antes do começo do novo namoro. "Senti necessidade de ter mais tempo pra mim e colocar minhas ideias e planos no lugar. Com o tempo, meu filho entendeu e viu que estava tudo bem", relata.
No começo, Victor perguntava se não voltaria a ver o ex-namorado e Priscila falava que provavelmente não. "Contornava a situação pra não entrar em detalhes. Não achei viável incentivar o contato num primeiro momento. Preferi dar espaço para o meu ex seguir em frente e eu segui em frente também", diz.
Hoje, com esse relacionamento do passado bem resolvido, Priscila mantém contato com o ex quando precisa de serviços da área de atuação dele. "Nessas ocasiões, aproveitamos para conversar. Meu filho gosta de interagir com meu ex e conversar sobre jogos", cita.
Mães que namoram: o perfil nos apps
Pesquisa realizada entre os usuários do aplicativo de relacionamentos Inner Circle, 26% das usuárias brasileiras são mães. Entre elas, 62,5% têm apenas um filho e 31,4%, dois. Mesmo sabendo que ainda existe certo preconceito e/ou tabu em relação a "mães solteiras", 89,6% delas preferem revelar no perfil que têm filhos.
Conversar é um dos caminhos
Impossível ditar regras na hora de contar às crianças e adolescentes que o relacionamento da mãe não deu certo. Cada caso é sempre um caso, exigindo diálogo, respeito e carinho. A única norma é, antes de tudo, se recompor emocionalmente, pois a forma que os adultos se portam diante da situação interfere na vivência dos menores.
"Essa conversa precisará ocorrer em algum momento. Quando mais demorada, mais chance de confundir o filho, que percebe as mudanças no humor da mãe. Para preservar a criança de situações estressantes desnecessárias, sugere-se que o diálogo seja leve, calmo e com tempo para desenvolver o assunto sem pressa, com espaço para ela perguntar e diluir suas dúvidas", pontua a psicóloga clínica Erica Amanda de Oliveira, professora da Faculdade Estácio, de Curitiba.
De acordo com o psicólogo Yuri Busin, mestre e doutor em Neurociência do Comportamento e pós-graduado em Psicologia Positiva e em Terapia Cognitivo Comportamental , outro cuidado importante é não apresentar um outro namorado (se houver) já na sequência, evitando que os pequenos fiquem confusos.
É preciso que eles entendam e vivenciem o término do relacionamento anterior. "Tem que existir um trabalho com a criança para ela compreender que não está sendo abandonada por nenhum dos lados", argumenta.
Se os filhos criaram laços afetivos com o parceiro e, diante do término, querem vê-lo mesmo assim, a verdade é que dois lados lutam entre si: o da mãe, que não se vê pronta para encontrar o ex, e o do filho, que sente saudade dele.
"É importante acolher e ouvir com calma, entender o que está por trás dessa solicitação, pois se foi estabelecido vínculo afetivo e laço emocional, a criança pode experimentar o sentimento de perda, abandono e/ou desamparo. Nesse caso, orienta-se que ela seja acolhida e receba suporte emocional da mãe e da rede de apoio para lidar com essa distância", recomenda Erica.
Apesar do momento delicado, a psicóloga reforça que ninguém deve fazer nada apenas por obrigação. Ou seja, a mãe deve avaliar se é viável promover o contato do ex com o filho, considerando suas limitações e receios para tomar uma atitude madura e livre de julgamentos.
"Caso considere o encontro como saudável e possível, ela deve estabelecer limites e horários, além de poder requisitar alguém para acompanhá-la. É fundamental que se sinta segura", acrescenta a especialista.
Como ajudar no processo
A vontade de encontrarem o ex-parceiro da mãe pode fazer com que crianças e adolescentes lamentem com frequência por não terem mais aquela figura em casa, brincando e participando de suas atividades, sobretudo quando os encontros pós-separação não são viáveis.
Quando essas queixas acontecerem, o conselho de Erica é a mãe dizer que entende o estranhamento, mas lembrar aos filhos que logo eles vão se acostumar com essas mudanças. "Dizer: 'enquanto isso, a mamãe continua aqui para brincar com você!' é positivo", lembra a psicóloga e educadora.
Após esse diálogo, se for oportuno, a dica é oferecer um chamego e convidar o filho para alguma atividade que ambos gostem de fazer juntos, como passear ou assistir a um programa na tevê. O importante é demonstrar disponibilidade e suporte emocional nesses momentos de fragilidade e saudade.
"Crianças muito pequenas têm mais dificuldade de entender todo esse processo. Já adolescentes, com certa maturidade, conseguem compreender um pouco melhor o que é uma relação, que não haverá um abandono. Neste sentido, a conversa tende a ser mais fácil", complementa Yuri.
Ainda assim é difícil para o filho e ainda mais para a mãe encarar a situação, porque, além de ela vivenciar o término amoroso, precisa lidar com as reações e frustrações da criança ou adolescente.
Assim, esse tipo de situação pode desencadear comportamentos e atitudes completamente errados para o momento e, também, para a vida dessa mãe. Nessa fase, ela deve evitar três comportamentos:
- Culpar-se por se relacionar e terminar o namoro. É imprescindível lembrar que, além de mãe, também se é mulher e deve dar continuidade em outras áreas da vida.
- Fechar-se para novas relações por medo da reação dos filhos. Ser mãe exige mais responsabilidade, todavia, não restringe sua autonomia em tomar decisões que fazem bem.
- Fazer dos filhos confidentes. Ainda que a intenção seja trazê-los para perto e criar familiaridade, é melhor escolher previamente o que vai compartilhar, pensando no efeito desejado e, também, em possíveis limites do que pode (ou não) ser dito.
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