Festa só para mulheres faz sucesso em cidades brasileiras: 'Muita pegação'
"Beijar na boca de outra mulher sem ser interrompida por um homem". Essa é uma das principais vantagens de curtir uma festa voltada só para mulheres, segundo a designer Luísa Assaf, 22. Com mais de 500 mil seguidores no TikTok, a influenciadora de São Paulo bombou recentemente com um vídeo em que aparece em uma balada exclusiva para o sexo feminino —o registro teve mais de 300 mil visualizações e despertou curiosidade.
"Nunca tinha visto nada igual. É um lugar em que nos sentimos mais seguras, podemos usar o que quiser e fazer o que quiser sem sermos roubadas. Não estou culpando os homens, mas existe uma relação direta entre um ambiente feminino e a segurança. É uma festa de muita pegação, além de ter muita mulher bonita por metro quadrado. Socorro! Eu estou solteira e, claro, aproveitei muito", diz a tiktoker, que comanda um perfil voltado a temas da comunidade LGBT, empoderamento, autoaceitação e dicas de locais para curtir na cidade.
Para ela, o olhar de rejeição, presente em muitos lugares, passa bem longe desse tipo de festa.
"O que mais me incomoda é o assédio dos homens como, por exemplo, interromper um beijo entre mulheres. Tem ainda aqueles que insistem em ficar com uma mulher, mesmo ela falando que não gosta e que não quer. Isso é muito comum acontecer em outros eventos", diz Luísa.
Me lembro das minhas primeiras experiências com 14 anos, ao beijar uma mulher. Uma vez foram quase 10 homens diferentes tentando interromper o meu beijo na festa. É uma situação muito chata.
A Festa Fancha, como é chamada, já é conhecida na comunidade lésbica no eixo Rio-São Paulo. A primeira edição aconteceu em 2017 na capital fluminense. A criadora da balada, Isabela Catão, conta a Universa que o evento retornou recentemente após o período de isolamento na pandemia e agora é realizado uma vez por mês.
"Fancha nada mais é do que um sinônimo para lésbica, sapatão e mulheres que se relacionam com outras mulheres. Na primeira festa já teve muita gente que gostou da ideia. Fizemos a última no dia 10 de junho em São Paulo, com 300 pessoas. Você encontra de tudo: tem quem quer só pegação e quem só quer curtir. A programação musical vai do pop ao funk", afirma a organizadora.
A cada edição da festa, um grupo no WhatsApp é criado para deixar as frequentadoras mais à vontade.
"Os grupos servem para fazer amizades e buscar companhia para ir à festa. Geralmente, são mulheres de 20 a 30 anos que frequentam os nossos eventos. Algumas vão sozinhas. Quem não se sente à vontade pode participar do 'Projeto da Fancha', um rolê para quem procura algo mais tranquilo, como ir a um bar. A gente faz algumas atividades para esse público que é acima dos 40 anos", descreve Isabela.
'Espaços ainda são machistas'
Atrair um público totalmente feminino para uma única festa não tem sido problema para a organizadora da Fancha. O evento tem recebido pedidos do público para que edições sejam realizadas em outras cidades brasileiras. A grande dificuldade é encontrar um espaço que aceite a programação.
"Quero muito rodar o Brasil. Sempre que posto algo da festa tem muita gente que pede para irmos para Bahia e Belo Horizonte, por exemplo. Muitos espaços com os quais entramos em contato ainda são bem machistas, infelizmente. Eles não querem um evento 100% feminino. Acham que as mulheres não consomem muito, não vão dar lucro e não vão encher o lugar. A gente já mostrou que não é assim e que sempre damos lucro para a casa. O pedido de colocar somente funcionárias mulheres também tem sido uma dificuldade na organização", afirma.
A próxima edição da festa já tem data marcada e será no dia 9 de julho, no Ganjah Lapa, no Rio de Janeiro.
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