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Namorado novo na área: tem tempo certo para dizer de parceiro aos filhos?

A psicanalista Júlia Bárány, mestre em psicologia transformacional, salienta que colocar os filhos em primeiro lugar é fundamental - nensuria/Getty Images/iStockphoto
A psicanalista Júlia Bárány, mestre em psicologia transformacional, salienta que colocar os filhos em primeiro lugar é fundamental Imagem: nensuria/Getty Images/iStockphoto

Thaís Lopes Aidar e Claudia Dias

Colaboração para Universa

18/06/2022 04h00

Há dois anos, Luciane Santos, 51 anos, decidiu se abrir para um novo amor. Assim, junto dos bons momentos de um relacionamento, veio também a dúvida sobre como contar para o filho Armando, na época com 10 anos, sobre esse novo capítulo de sua vida. Diante da situação, resolveu apresentar o namorado como "amigo da mamãe".

"Começamos a namorar em março e a apresentação aconteceu três meses depois, com o Carlos sendo um amigo da mamãe e também professor de judô. Nesse dia, eles lutaram e meu 'amigo' ficou o dia todo em casa. Com o tempo, começou a passar os finais de semana, mas dormindo ainda em cama separadas. Era o primeiro namorado que apresentei após 4 anos de divórcio e minha maior preocupação era meu filho não aceitar", relembra.

No entanto, a estratégia e, sobretudo, o respeito com o tempo de Armando renderam a boa aceitação. Tão boa que, certo dia, o filho questionou à mãe, da maneira mais "adulta" possível, se ela e Carlos estavam namorando.

"Ele disse que queria perguntar algo, para eu ser sincera e não ter medo. E que, independentemente da resposta, que ele gostava muito do Carlos". A partir daí, os dois passaram a agir como um par. No último fevereiro, começaram a morar juntos. Sugestão do filho, diga-se.

Existe momento adequado?

Antes de decidir a melhor abordagem para esse encontro acontecer, é preciso pensar se realmente chegou o momento adequado. Segundo o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Sexualidade, é necessário considerar, em primeiro lugar, se o novo namorado está mesmo pronto para conhecer os filhos e avaliar, igualmente, o grau de resistência das crianças ou adolescentes em conhecê-lo.

É importante lembrar que promover essa aproximação é diferente de contar a novidade. Informar os filhos sobre a nova relação é algo que deve acontecer antes, justamente para "preparar" o terreno.

"Acredito que, antes de apresentar, a mãe deva ter uma conversa com eles, dizer que tem se envolvido e está gostando de alguém, até o momento em que ela sinta que os filhos estão prontos para receber o namorado em casa", recomenda o psiquiatra.

O comportamento do casal

Conseguir vencer os obstáculos e realizar o encontro entre as partes já é uma grande vitória nesse processo. Entretanto, mesmo a relação sendo de conhecimento de todos, dentro de casa, alguns cuidados continuam sendo necessários, sobretudo nas primeiras visitas.

Vale destacar, principalmente, a importância de evitar muitos contatos físicos no começo, uma vez que a criança pode estranhar (ainda mais) ver um de seus pais tendo essas atitudes com outra pessoa - até então, desconhecida.

"Além disso, recomenda-se haver um ambiente mais acolhedor com esse novo indivíduo. Ele também precisa ser preparado para acolher os filhos, entender a resistência deles e ir conquistando, aos poucos, o carinho - puxando assunto, brincando, isso é muito importante."

Resumindo: é essencial discrição e um ambiente favorável, enfrentando essa resistência devagar, com carinho e respeito.

Abordagens estratégicas

A psicanalista Júlia Bárány, mestre em psicologia transformacional, salienta que colocar os filhos em primeiro lugar é fundamental. "Eles precisam se sentir importantes e serem prioridade para a mãe e o pai. Quanto menor a idade, mais isso precisa existir, pois é o que traz segurança para os filhos. O namorado que entrar já deve saber que nunca será prioridade número 1 da mãe. Assim, ou ele se torna um bom colaborador ou, então, não tem vez", argumenta.

Contudo, isso não quer dizer que as crianças e/ou adolescentes não devam respeitar esse novo integrante da família. A especialista adverte que é imprescindível haver respeito e educação, tanto pelo namorado quanto pela relação, mesmo que, a princípio, surja ciúme.

Do mesmo modo, é superimportante que essa nova figura não tente assumir o papel de um dos pais. A ideia é agregar, ou seja, ser mais um exemplo e não uma substituição.

Outro fator a ser considerado nessa abordagem de aproximação é a idade do filho. Nesse sentido, Júlia recomenda atividades lúdicas para as crianças menores e reforça a importância de adequar um passeio ou atividade para a faixa etária. Afinal, enquanto os pequenos podem curtir uma volta no parque, os adolescentes tendem a detestar.

Falando neles, a dica é pensar em algo que eles gostem de fazer, desde que seja um hábito comum entre mãe e filho. Do contrário, ele provavelmente não vai querer participar da atividade, ainda mais com o novo namorado. Nesses casos, uma presença silenciosa pode funcionar melhor.

Por fim, jamais se deve tentar "comprar" a aceitação do novo par, presenteando os rebentos ou concordando com algo que eles reivindiquem diante da situação. Amor não é mercadoria, da mesma forma que o namorado deve ser aceito por quem é e não pelo que tem ou pode oferecer.

Erros e imprevistos também acontecem

É impossível prever comportamentos e reações, sobretudo em situações novas. Logo, os filhos podem reagir de uma maneira inesperada e até ruim, negando-se a conhecer o novo amor da mãe.

Nesse caso, a psicanalista Júlia ressalta a necessidade de conversar, mas não se curvar a essa ordem, afinal, trata-se de uma decisão da mulher. Do mesmo modo, o psiquiatra Eduardo garante que conversa e respeito são o caminho para mãe e filho se entenderem.

Uma eventual recusa normalmente provém de inseguranças, portanto, é preciso mostrar para crianças e adolescentes que eles continuam sendo prioridade e que essa relação tem feito bem e é positiva para a mãe deles.

Ocorre que, em alguns casos, o erro também pode estar na atitude da mãe, mais especificamente na forma como a aproximação está sendo conduzida. Nesse sentido, ambos os especialistas apontam que forçar o momento é extremamente negativo.

Isso porque, como a relação ainda não está madura, os excessos motivados pela pressa tendem a colocar tudo a perder.