Namorado novo na área: tem tempo certo para dizer de parceiro aos filhos?
Há dois anos, Luciane Santos, 51 anos, decidiu se abrir para um novo amor. Assim, junto dos bons momentos de um relacionamento, veio também a dúvida sobre como contar para o filho Armando, na época com 10 anos, sobre esse novo capítulo de sua vida. Diante da situação, resolveu apresentar o namorado como "amigo da mamãe".
"Começamos a namorar em março e a apresentação aconteceu três meses depois, com o Carlos sendo um amigo da mamãe e também professor de judô. Nesse dia, eles lutaram e meu 'amigo' ficou o dia todo em casa. Com o tempo, começou a passar os finais de semana, mas dormindo ainda em cama separadas. Era o primeiro namorado que apresentei após 4 anos de divórcio e minha maior preocupação era meu filho não aceitar", relembra.
No entanto, a estratégia e, sobretudo, o respeito com o tempo de Armando renderam a boa aceitação. Tão boa que, certo dia, o filho questionou à mãe, da maneira mais "adulta" possível, se ela e Carlos estavam namorando.
"Ele disse que queria perguntar algo, para eu ser sincera e não ter medo. E que, independentemente da resposta, que ele gostava muito do Carlos". A partir daí, os dois passaram a agir como um par. No último fevereiro, começaram a morar juntos. Sugestão do filho, diga-se.
Existe momento adequado?
Antes de decidir a melhor abordagem para esse encontro acontecer, é preciso pensar se realmente chegou o momento adequado. Segundo o psiquiatra Eduardo Perin, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Sexualidade, é necessário considerar, em primeiro lugar, se o novo namorado está mesmo pronto para conhecer os filhos e avaliar, igualmente, o grau de resistência das crianças ou adolescentes em conhecê-lo.
É importante lembrar que promover essa aproximação é diferente de contar a novidade. Informar os filhos sobre a nova relação é algo que deve acontecer antes, justamente para "preparar" o terreno.
"Acredito que, antes de apresentar, a mãe deva ter uma conversa com eles, dizer que tem se envolvido e está gostando de alguém, até o momento em que ela sinta que os filhos estão prontos para receber o namorado em casa", recomenda o psiquiatra.
O comportamento do casal
Conseguir vencer os obstáculos e realizar o encontro entre as partes já é uma grande vitória nesse processo. Entretanto, mesmo a relação sendo de conhecimento de todos, dentro de casa, alguns cuidados continuam sendo necessários, sobretudo nas primeiras visitas.
Vale destacar, principalmente, a importância de evitar muitos contatos físicos no começo, uma vez que a criança pode estranhar (ainda mais) ver um de seus pais tendo essas atitudes com outra pessoa - até então, desconhecida.
"Além disso, recomenda-se haver um ambiente mais acolhedor com esse novo indivíduo. Ele também precisa ser preparado para acolher os filhos, entender a resistência deles e ir conquistando, aos poucos, o carinho - puxando assunto, brincando, isso é muito importante."
Resumindo: é essencial discrição e um ambiente favorável, enfrentando essa resistência devagar, com carinho e respeito.
Abordagens estratégicas
A psicanalista Júlia Bárány, mestre em psicologia transformacional, salienta que colocar os filhos em primeiro lugar é fundamental. "Eles precisam se sentir importantes e serem prioridade para a mãe e o pai. Quanto menor a idade, mais isso precisa existir, pois é o que traz segurança para os filhos. O namorado que entrar já deve saber que nunca será prioridade número 1 da mãe. Assim, ou ele se torna um bom colaborador ou, então, não tem vez", argumenta.
Contudo, isso não quer dizer que as crianças e/ou adolescentes não devam respeitar esse novo integrante da família. A especialista adverte que é imprescindível haver respeito e educação, tanto pelo namorado quanto pela relação, mesmo que, a princípio, surja ciúme.
Do mesmo modo, é superimportante que essa nova figura não tente assumir o papel de um dos pais. A ideia é agregar, ou seja, ser mais um exemplo e não uma substituição.
Outro fator a ser considerado nessa abordagem de aproximação é a idade do filho. Nesse sentido, Júlia recomenda atividades lúdicas para as crianças menores e reforça a importância de adequar um passeio ou atividade para a faixa etária. Afinal, enquanto os pequenos podem curtir uma volta no parque, os adolescentes tendem a detestar.
Falando neles, a dica é pensar em algo que eles gostem de fazer, desde que seja um hábito comum entre mãe e filho. Do contrário, ele provavelmente não vai querer participar da atividade, ainda mais com o novo namorado. Nesses casos, uma presença silenciosa pode funcionar melhor.
Por fim, jamais se deve tentar "comprar" a aceitação do novo par, presenteando os rebentos ou concordando com algo que eles reivindiquem diante da situação. Amor não é mercadoria, da mesma forma que o namorado deve ser aceito por quem é e não pelo que tem ou pode oferecer.
Erros e imprevistos também acontecem
É impossível prever comportamentos e reações, sobretudo em situações novas. Logo, os filhos podem reagir de uma maneira inesperada e até ruim, negando-se a conhecer o novo amor da mãe.
Nesse caso, a psicanalista Júlia ressalta a necessidade de conversar, mas não se curvar a essa ordem, afinal, trata-se de uma decisão da mulher. Do mesmo modo, o psiquiatra Eduardo garante que conversa e respeito são o caminho para mãe e filho se entenderem.
Uma eventual recusa normalmente provém de inseguranças, portanto, é preciso mostrar para crianças e adolescentes que eles continuam sendo prioridade e que essa relação tem feito bem e é positiva para a mãe deles.
Ocorre que, em alguns casos, o erro também pode estar na atitude da mãe, mais especificamente na forma como a aproximação está sendo conduzida. Nesse sentido, ambos os especialistas apontam que forçar o momento é extremamente negativo.
Isso porque, como a relação ainda não está madura, os excessos motivados pela pressa tendem a colocar tudo a perder.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.