'Vote com orgulho': parada LGBT+ volta às ruas após 2 anos. Acompanhe
Depois de dois anos sem ser realizada presencialmente por conta da pandemia da Covid-19, a Parada LGBTQIA+ volta neste domingo (19) para a Avenida Paulista, em São Paulo. Nesta 26ª edição do evento, a expectativa é que o público chegue a três milhões de pessoas.
"Estamos com a expectativa lá em cima. O tema deste ano é 'Vote com Orgulho por Políticas que te representa', que é muito importante, principalmente agora. Nossa identidade visual tem, inclusive, uma urna, para dizer que confiamos na urna e que ela é uma ferramenta pela democracia", diz Luiz de França, um dos diretores da Parada LGBT de SP.
Ele afirma que a Parada não vai puxar gritos especificamente contra ou a favor algum candidato. Mas já se ouve alguns gritos contra o Presidente da República, especialmente dos jovens que estão aqui. "Quem está a favor da democracia e da população LGBT a gente sabe", diz Luiz.
Universa conversou com participantes para sentir o clima de estar de volta as ruas depois de dois anos.
A professora Nancy Frajote, de 64 anos, participa da parada desde sua primeira edição, em 1997. Ela espera um grande público e acredita que o tema, que defende a democracia, é pertinente para o momento atual. "Estamos em ano de eleição e precisamos ter uma consciência melhor na hora de votar, principalmente nessa comunidade e simpatizantes, que têm o dever de votar certo", diz. Para ela, o tema da organização tem como intuito trazer a discussão política, mas não impor votos.
Marcos Lelis, de 61 anos, é estilista e também acompanha o evento desde sua primeira edição. Para ele, a conscientização das pessoas está melhor agora. "Apesar da bandalheira, assalto e falta de proteção, acho que as pessoas estão mais conscientes e procuram uma legislação a nosso favor. Não precisa votar em quem todo mundo está falando, mas alguém que nos valoriza", disse defendendo o tema escolhido para a edição de 2022.
Felipe Wendel, de Barueri, estava morrendo de saudade de ir à Parada. "É muito bom esse calor. O ponto alto será beijar na boca", disse em conversa com Universa. Ele, que sempre participou, defende a importância dos votos e da luta pela liberdade da comunidade LGBTQIA+.
E claro, para além das cores do arco-íris, as fantasias voltaram para a Avenida Paulista. Xazzi, de 44 anos, que participa fantasiada pela quarta vez, disse que a sua estava no forno nos últimos dois anos. "A Parada é um movimento de libertação e expressão. De poder ser quem a gente quiser e colocar tudo para fora", disse. Para ela, o ponto alto do dia não são as atrações que se apresentarão nos trios elétricos, e sim, as pessoas que fazem parte do evento.
Política e religião ganham a Avenida
Considerada uma das maiores Paradas LGBTQIA+ do mundo, São Paulo recebe pessoas de todos os estados. Leônidas Ferraz, de Betim, Minas Gerais, tem 36 anos e estava na cidade para participar de um Simpósio Nacional da Rede Gay do Brasil. "Viemos encerrar aqui na Parada", conta. Já é a sua sétima participação no evento de São Paulo.
Ele, que é coordenador do único movimento organizado em Betim e do Estado de Minas Gerais da Rede Gay do Brasil, já regulamentou um conselho de políticas públicas do município onde mora e é presidente no momento, acredita que 2022 é um ano de renovação. "Depois de dois anos sem Parada e sofrendo nos últimos quatro, viemos mostrar que somos livres e que o voto é nossa voz", disse.
Comumente citado como pecado dentro das religiões, as pessoas da comunidade LGBTQIA+ têm dificuldades de serem acolhidas dentro da igreja. O pastor Átila Augusto dos Santos, de 49 anos, que está à frente da Igreja da Vila, que está presente na Parada, explica que eles são uma instituição inclusiva e pentecostal. "Vamos completar 6 anos e estamos tentando derrubar opressões por meio das religiões cristãs que, por vezes, não acolhem as pessoas homossexuais", disse. A igreja tem, inclusive, um recorte racial.
Na semana em que a cantora gospel, Bruna Karla, fez declarações homofóbicas durante uma participação em um podcast, Paulo Vitor, Ministro de Louvor da Igreja da Vila, de 37 anos, fala que a intenção dessas pessoas com fala preconceituosas é afastar os homossexuais da igreja, quando na verdade o evangelho prega o amor.
"Jesus, o personagem principal da Bíblia, nunca falou nada a respeito dos LGBTs. Ele é o centro do cristianismo e nunca fez uma fala dessas. Quando Bruna Karla faz o que fez, ela destaca a opressão para fazer com que as pessoas sigam a normativa heterssexual dentro da igreja. E quem não for, se sinta oprimido, afastado e em pecado, em vez de se sentirem livres na comunidade cristã", disse.
Passeio em casal
Daniel Moisés, de 21, e João Vitor, de 23 anos, estavam juntos caminhando pela Avenida Paulista antes mesmo do evento começar. Para Daniel, a Parada tinha perdido um pouco de sentido nas edições anteriores. "Era mais bagunça do que protesto, do que se orgulhar do que somos", disse. Ele acredita que o tema político seja necessário para que a comunidade tenha mais voz e convicção de ser. "Espero que não aconteçam coisas trágicas e homofóbicas aqui hoje, como já vi antes da pandemia", diz.
Essa é a primeira edição que João Vitor participa. "Estou curtindo para caramba, mas entendendo a vibe. Espero não sofrer assédio e homofobia, mas estou muito feliz e animado de estar aqui", disse.
Cacau Melo, de 27 anos, está em sua décima parada. Ela participa desde seus 16 anos. Raquel Caroline dos Santos, 22 anos, veio pela segunda vez. "Confesso que estava ansiosa para vir, porque estamos há dois anos sem. Gosto muito da Parada, de reivindicar os direitos e lutar pelo o que acreditamos", diz Cacau, que achou que o tema pró-democracia cai bem pelo momento que vivemos na política. "Precisamos acordar e mudar. Colocar mais pessoas LGBTQIA+ para lutar pelos nossos direitos", completa.
O casal do nordeste, que mora em São Paulo e está junto há 1 ano e sete meses, Sara Alves da Silva, de 20 anos, e Lizandra Silva, de 22 anos, veio para a Parada pela primeira vez. Elas estão animadas pelo show da Pablo, mas torcendo para que a atração surpresa seja a Gloria Groove. "Me emocionei quando cheguei aqui. Você acha que existem poucas pessoas LGBTQIA+, mas o público é gigante. Como um casal, já passamos por situações constrangedoras e ver todos juntos por uma causa é incrível", diz Sara.
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