Beth Szafir sobre perdas, atritos e vaidade: 'Queria ter 20 anos a menos'

"Olha, eu não gosto de falar coisa ruim", avisa Beth Szafir, 75 anos, ao telefone logo após dizer que responderia a tudo que Universa perguntasse.

O tom era esperado: estrela de "Os Szafirs", que chegou em junho à segunda temporada no canal pago E!, a empresária que nasceu no Rio de Janeiro e mora há 40 em São Paulo faz questão de externar no reality um lado bem-humorado e de autoestima elevada, entre risadas e palavrões.

E de enterrar as polêmicas envolvendo seu nome como ter declarado, em 2019, não sentir falta da neta Sasha, fruto do relacionamento entre o filho Luciano Szafir e a apresentadora Xuxa. Ela pediu desculpas na época, mas depois foi proibida de citar o nome da modelo no programa. Também não foi ao casamento de Sasha com o cantor gospel João Figueiredo, em maio do ano passado.

"Quando tudo aconteceu, cheguei a pedir desculpas para a Xuxa e pronto. A partir do momento que me desculpei, estou super tranquila. Mas o que falam não me incomoda, porque sei a verdade e não estou disposta a ficar explicando, porque são curiosidades ridículas. Jornal de ontem não interessa", avisa Beth.

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Apresentada —e conhecida— como socialite, a filha do casal Israel e Chana Lebelson, que chegou ao Rio fugindo da guerra civil russa na década de 1920 e fundou a famosa rede Lebelson Modas, diz que sempre trabalhou porque gosta, não porque precisa, e que a maioria das mulheres da alta classe social é antenada e não vive no mundo da fantasia.

Demonstra ainda preocupação com a imagem, e em alguns momentos do reality reclama do peso: "Uma amiga disse que eu tenho que olhar no espelho e me gostar, mas estou odiando porque sou muito vaidosa". Afirma também não descartar uma nova companhia. Ela está viúva desde 2017 do empresário Gabriel Szafir, morto pouco menos de um ano após perder a caçula Alexandra, vítima de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica).

"Se hoje eu achasse um relacionamento agradável, por que não, uma vez que sou viúva? Queria. Mas não permitiria invadir um o sentimento do outro."

UNIVERSA: Em um dos episódios do reality você diz que está acostumada com o luxo. Mas já te faltou algo?
Beth Szafir: Claro. Houve época que sim. Meus pais chegaram da Rússia fugidos da guerra, sem nada, e minha mãe abriu uma loja de moda vendendo a roupa do corpo. Mas teve um sucesso extraordinário, foi das melhores lojas do Rio de Janeiro. Só não trabalhei com eles porque era um assunto que não me seduzia. Queria trabalhar com viagem, que é o que amo [Beth atuou na Embaixada de Israel]. E nem precisaria, mas gosto. Sempre fui dirigida por mim mesma e por Deus. Nunca ninguém me incentivou ou me obrigou a trabalhar.

Você sempre é apresentada como uma socialite. O termo não está ultrapassado?
Sim. E hoje o sentido da palavra é até diferente do que há 20 anos, porque as mulheres, principalmente, não têm só este rótulo mais. A grande maioria trabalha, é antenada e não vive no mundo da fantasia. E socialite é um termo que eu particularmente nunca usei, porque em inglês significa "luzes da sociedade", e não me considero nenhuma luz da sociedade. Antigamente, as mulheres viviam em torno dos jantares da alta sociedade. Havia muito mais glamour e era tudo muito diferente. Vivi esse período mas sempre trabalhei, fui curiosa e morei fora do país [na Suíça].

O Luciano chega a te comparar com a Leila Diniz, por considerar que você sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Você concorda?
Sim, porque não critico ninguém. Vejo pessoas com metade da minha idade com as quais não consigo conversar porque acho limitadas, e não vão alcançar muitas vezes o que acho da vida. Não que eu queira que pensem como eu. Não faz parte do meu caráter modificar as pessoas. Aceito as pessoas como são, apenas não consigo me comunicar com algumas.

Mas você chega a debater ou mesmo levantaria bandeiras por temas como LGBTQIA+, aborto ou direitos iguais?
Não. Não entro em debates específicos nem vou a jornais falar sobre. Tem gente mais competente para isso. E não faço a menor questão de levantar bandeira nenhuma, mas ter meu próprio pensamento e pronto.

Quais suas expectativas com as próximas eleições?
Não entendo muito de política. Tenho minhas preferências, as quais prefiro não falar, mas não me preocupo tanto. Torço para que seja o melhor para o Brasil e que as pessoas tenham uma vida mais digna.

Você diz, no reality, que chegou a se separar do seu marido porque ele não aceitava sua independência. Como foi isso? Chegou a se ver vítima de violência de gênero?
De violência, nunca. Há muitos anos tomei a atitude de sair de casa e montei outro apartamento. Ele ficou desesperado, e entendeu que se eu voltasse poderia ter meus amigos gays, minha vida livre, e que eu poderia viajar a hora que quisesse. E sem sair da rotina certa do meu casamento, porque quando a pessoa quer fazer coisa errada, não precisa viajar. Apenas gostava de determinadas pessoas que ele não incentivava a relação. Ele também não gostava de viajar, então às vezes eu ia com amigos. Mas aceitou e passamos a ter uma convivência pacífica.

Os casamentos, na grande maioria, são falidos porque ou a mulher ou o marido perde a identidade total. É importante poder fazer o que quiser. Não que eu não seja uma pessoa romântica. Se hoje achasse um relacionamento agradável, por que não, uma vez que sou viúva? Queria. Mas não permitiria invadir um o sentimento do outro.
Beth Szafir

Você perdeu uma filha e logo depois o marido, e recentemente viveu o drama do Luciano, que teve sérias sequelas após ser diagnosticado com covid. Onde você encontra alento para suas perdas e dores?
Sou muito religiosa e acredito muito em Deus. Meu lado espiritual é muito forte, não só para passar pelas adversidades, mas para agradecer pelos momentos de leveza. Mas não gosto desse assunto. Não que eu tenha esquecido. Nunca vai sair de dentro de mim, ainda mais filho. Não deveria existir isso de perder um filho. E sobre o Luciano, foi muito angustiante, mas já passou.

Você tem problema pulmonar. Achou que poderia acontecer algo durante a quarentena?
Fiquei bem angustiada lá atrás. Agora menos. Não tive covid porque talvez tenha sido protegida de alguma forma lá em cima. Mas fumava muito, e quando tive pneumonia detectaram DPOC [Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica], e realmente não seria nada bom se pegasse [covid]. Mas estou vacinada e não vai acontecer nada, se Deus quiser.

Muitas mulheres acima dos 50 anos falam que se sentem melhores do que há 20 anos, e que muita coisa melhorou, inclusive sexualidade, o corpo. Como você se sente?
Acho ridículo. Queria estar com menos 20 ou 30 anos. Que graça tem sentir dor na coluna, doença pulmonar? Vejo amigas que não conseguem andar direito, gente que tem Alzheimer quando mais velho. Prefiro ser mais jovem e com saúde. Mas não penso na velhice nem tenho a cabeça correspondente à minha idade.

Já fez plásticas?
Fiz plástica há uns 20 anos, na lateral do rosto. E vou de seis em seis meses fazer botox. A parte de rosto, acho que está em ordem. Ruim é o corpo. Tento disfarçar porque não sou boba, né? Mas me olho no espelho e a minha roupa não me serve, porque passei a pandemia comendo que nem um dragão. Estou preocupada e sei que não deveria. Uma amiga disse que eu tenho que me olhar no espelho e gostar do que vejo. Até tentei, mas estou odiando porque sou muito vaidosa. Em matéria de cuidado, tem mais ninguém igual. Mas estou super saudável, tomo 18 vitaminas por dia.