Universa Talks debate reencontros pós isolamento e impacto nas mulheres
Foram pouco mais de dois anos de privações até chegarmos ao que parece, enfim, a era do reencontro. Embora a covid continue entre nós, a pandemia finalmente dá sinais de estar arrefecendo e a vida, aos poucos, encontra um novo eixo. Ou, quem sabe, novos normais? No último dia 14, foi realizada a sexta edição de Universa Talks. E, tal qual na primeira realização do evento, foi possível reunir presencialmente convidadas especiais e uma pequena plateia, que acompanhou ao vivo o que toda a audiência de Universa pôde assistir virtualmente.
Em que ponto estamos, nesse reencontro com a nova realidade e vendo mudanças que começaram ou avançaram nos últimos anos, se consolidarem? Como será revertido o triste quadro de desemprego na força de trabalho feminina? Que revoluções são tão profundas quanto a maternidade? De que dinâmicas de relacionamentos estamos falando? O que nos influencia, o que desejamos a partir de agora? Essas e outras reflexões foram aprofundadas em painéis, entrevistas especiais e participações como as da atriz Tainá Muller e da cantora Paula Lima, com apresentação de Fabi Gomes, colunista de Universa e apresentadora do "E aí, Beleza?", produção das jornalistas Diana Cortez e Bárbara Therrie, e patrocínio de Genera.
UNIVERSA TALKS 2022 - Reencontros: confira os melhores momentos!
ABERTURA COM TAINÁ MÜLLER
Atriz, mãe de Martin, 6, dona de um refúgio sustentável na Serra da Mantiqueira, Tainá Muller foi a estrela da abertura. Entrevistada por Bárbara dos Anjos Lima, a protagonista da série "Bom dia, Verônica", enfrentou, como tantas mulheres, os desafios de conciliar durante a pandemia, a educação do filho, o trabalho e os planos que precisaram ser recalculados com a vida em compasso de espera.
O caminho para encontrar a paz na maternidade foi se dedicar a pensar e estudar uma educação mais focada no desenvolvimento do filho. A trajetória profissional foi revisada: o contrato de longo prazo com a maior emissora do país foi encerrado para dar espaço a outros projetos - uma decisão influenciada também pelas reflexões pós nascimento de Martin.
"Quando a gente tem filho, nosso tempo fora de casa precisa valer muito a pena. Queria que tudo que eu fizesse a partir daí fosse muito relevante para mim e todas as pessoas" Tainá Müller
Que horas elas voltam? Um discussão sobre carreira e pandemia
O fenômeno é mundial. Mulheres foram desproporcionalmente atingidas pelas consequências econômicas durante e pós pandemia, resultado de um triplo golpe: os primeiros setores mais impactados onde elas eram maioria, o posterior fechamento definitivo de vagas em áreas mais dominadas por elas e o fechamento de creches e escolas - no Brasil, a medida levou mais de um ano, foi o lugar onde instituições de ensino e cuidado para crianças e adolescentes passaram mais tempo fechadas.
O cenário não dá pistas de melhora e, a saída, em caráter emergencial, demandaria esforços conjuntos entre a iniciativa privada e o governo, apontam especialistas. Esse movimento, porém, não está acontecendo. Como e quando, então, as mais de seis milhões de brasileiras desempregadas conseguirão voltar para a força de trabalho?
O tema foi debatido no primeiro painel da programação de Universa Talks, com participação das executivas Helen Andrade, head de diversidade e inclusão da Nestlé, Raquel Virginia, CEO da consultoria para diversidade Nhaí, e Tijana Jankovic, presidente da RAPPI no Brasil.
"É preciso entender que projetos estão em jogo pelas nossas vidas. E como se converteram em legado para que estejamos mais protegidas." Raquel Virgínia
"Acredito que haveria um retorno muito rápido e muitos benefícios para o Brasil se o país investisse em ampliar a representatividade feminina" Tijana Jancovic
"Políticas públicas são essenciais para que direitos sejam garantidos. Porém, começa com a responsabilidade individual de cada um, de quem elegem quem está lá para pensar essas políticas" Helen Andrade
DE MÃE PARA MÃE
São diversas as revoluções que mulheres podem vivenciar ao longo da vida. Muito embora não exista um único caminho, há um consenso sobre um deles: a maternidade, o momento em que se deixa um pouco a casca da filha para abraçar a responsabilidade do cuidado parental e, em uma análise mais ampla, de maior entendimento dos desafios maternos.
No bate-papo mediado pela jornalista Mariana Kotscho, as cantoras Zizi e Luiza Possi, respectivamente mãe e filha, contaram sobre as experiências compartilhadas depois que Luíza deu à luz Lucca, 3 anos, e Matteo, 7 meses.
Além dos filhos de Luíza, Zizi assumiu ainda o posto da avó também de Miguel, enteado da filha. E, ainda que seja hoje a avó carinhosa e divertida, nem sempre encarou o papel com naturalidade. Enquanto Luiza, se viu enfrentando julgamentos, próprios e alheios, até chegar na mãe mais leve que mostra ser hoje.
"Julguei minha mãe, mas depois que tive filho eu a compreendi" Luiza Possi
"O julgamento é a peça da vez. Colocamos na cabeça que tal conceito é que vale e julgamos o tempo inteiro" Zizi Possi
Líquidos, instáveis, de curta duração
Estudos mostram que, não somente pela pandemia, mas com mudanças acentuadas por conta dela, das privações de encontros e de novos conceitos de afeto, a dinâmica dos relacionamentos tem mudado significativamente. No Brasil, uma pesquisa recente do Datafolha encomendada pela plataforma Omens, constatou: brasileiros estavam transando menos e broxando mais. Com a crise em alta e a libido em baixo, a frequência do sexo diminuiu.
Em "Líquidos, instáveis e de curta duração", Camila Brandalise, editora de Universa, Elisama Santos, psicanalista e escritora, e Cris Bartis, co-fundadora do Mamilos, plataforma de inovação social, e sócia da agência B9 Company, debateram estes e outros assuntos. Como a monogamia, campeã de audiência nas conversas sobre relacionamentos, que perde cada vez mais adeptos, embora poliamor ainda seja visto, sobretudo por quem não o pratica, como um território sem regras. O que, concluíram em consenso as participantes do debate, é justamente o contrário de bagunça.
"Ficar anos casada não quer dizer ficar anos juntos. O tempo de relação já não é atestado de sucesso." Elisama Santos
"Poliamor é diferente de bagunça. Não monogamia também precisa ter acordos." Cris Bartis
Você me influencia
Algumas transformações foram mais perceptíveis aos olhos enquanto muita gente passava mais tempo em casa. Neste contexto em que as redes sociais se tornaram a janela mais acessível e segura para outras realidades, um dos terrenos que precisou ser repavimentado foi o de produtores de conteúdo digital, também conhecidos como influenciadores.
É fato que muitos dos questionamentos sobre responsabilidade já eram frequentes antes mesmo da ordem mundial ser paralisada pela pandemia. No entanto, estudos como o relatório divulgado pelo Pinterest em dezembro passado, apontaram que alguns inimigos do engajamento vieram para ficar.
Para falar sobre o assunto, Barbara dos Anjos Lima, editora de Universa, recebeu a influenciadora e ex-BBB Rafa Kalimann, a apresentadora e empresária Bielo Pereira, e a CEO da agência Obvius, Marcela Ceribelli, em "Qual o papel das influenciadoras ao falar de aceitação, beleza e maternidade?".
A desaceleração foi percebida como a tendência mais cristalizada, ao lado da busca por lifestyles mais simples e conectados com a natureza, alvo de 95% das pesquisas realizadas por usuários da plataforma. Cresceu ainda a exigência por responsabilidade e mais democracia e representatividade. O que deixou muitas personalidades desse ambiente online em situações de constante cobrança. Se posicionar quase virou regra, assim como o receio do cancelamento. Estará o equilíbrio a caminho?
"Antes, queríamos ver onde as pessoas estavam para sair de casa com elas. Quando a pandemia veio, a questão passou a ser o que o influenciador consegue oferecer para me tirar daqui?" Bielo Pereira
"Para além da imagem que entregamos, o que temos para falar, para trocar com quem nos segue?" Rafa Kalimann
"Quando falamos a terra de ninguém, dos cancelamentos e opiniões, é preciso ter muito cuidado em nossa fala" Marcela Ceribelli
SOBREVIVÊNCIA E REENCONTRO CONSIGO MESMA
A expectativa do reencontro é boa quando ele é uma possibilidade. Mas e quando tudo que resta é um reencontro com si mesma, com uma nova vida onde muito e muitos estão faltando? Sobreviver a grandes tragédias ou desastres, tendo a vida diretamente colocada em risco ou após a perda de pessoas muito amadas traz a sensação de que não haverá recomeço possível. Especialistas até chamam esse conjunto de sensações de "síndrome dos sobreviventes".
Porque o primeiro passo, após acontecimentos extremos, talvez seja sobreviver para, então, voltar a viver. Mas essa jornada é possível? Esse foi o ponto central das entrevistas conduzidas pela jornalista Juliana Linhares, com Isabel Martins da Costa, advogada que sobreviveu ao desastre em Capitólio e salvo cinco crianças, e Helena Taliberti, que perdeu filhos e nora na tragédia de Brumadinho, e hoje dirige o Instituto Camila e Luiz Taliberti, em homenagem aos filhos e para que catástrofes evitáveis como a que vitimou sua família não se repitam.
Ao fim da programação, a cantora Paula Lima também dividiu sua experiência de luto e recomeço com Fabi Gomes, ao contar como rumou ao reencontro com si mesma após perder o marido, seu empresário e companheiro há duas décadas, que faleceu em maio passado.
"Parece um surto de autoestima o que vou falar. Mas hoje sei a mulher que sou, do que dou conta e o que fui capaz de fazer. Ter sobrevivido a esse acidente foi bom porque hoje eu me vejo" Isabel Matins
"Mudei muito, hoje sou uma pessoa que tem preocupação com tudo, de meio ambiente a questões sociais. Foi a herança que me deixaram, herdei um legado enorme." Helena Taliberti
"Estou me reencontrando ainda. Quando você passa muito tempo com a pessoa, você e ela se tornam um. Sinto muita falta, mas tenho amigos incríveis que nem sabia que tinha." Paula Lima
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