Mulheres protestam em frente à Suprema Corte: 'Meu corpo, minha decisão'
Logo após o anúncio da decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre a revogação do direito ao aborto, em vigor no país desde 1973, centenas de pessoas se reuniram em frente ao tribunal para um protesto. Aos gritos de "meu corpo, minha decisão", as pessoas, em sua maioria mulheres, pediam que o aborto se mantenha legal no país.
Entre elas está a americana Julia Adams, 25, que vê como extremamente necessário protestar no dia de hoje para "mostrar que é um grupo numeroso de mulheres que apoiam o aborto, que estamos bravas e que não vamos tolerar essa decisão". Questionada se algum dia pensou que isso poderia acontecer, ela responde que sim.
"Isso era realidade diária na vida de milhares de mulheres. Mas eu também sei que sou branca, cis e, nesse país, esse direito sempre vai estar disponível para mim. Esse é um privilégio que eu reconheço totalmente", diz ela, completando que, por isso mesmo, acredita ser necessário apoiar as demais mulheres, principalmente as não brancas.
As latinas, com os lenços verdes das campanhas pela legalização do aborto na América Latina, também estiveram presentes. Élida Caballero, que é panamenha e representante da ONG Womens Equality Center, mora nos Estados Unidos há 17 anos e diz que a decisão terá um impacto enorme. "Será terrível, sobretudo para as populações mais vulneráveis", reclama.
"Essa decisão terá um impacto desproporcional na comunidade latina, nas mulheres de cor, na comunidade indocumentada e em todas as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade" -- Élida Caballero, panamenha e moradora dos EUA, em manifestação em frente à Suprema Corte americana.
Calcula-se que mais de 40 milhões de mulheres no país deixarão de ter acesso ao aborto com essa decisão logo que passe a ser aplicada nos estados mais conservadores. Élida diz esperar que os outros estados sigam lutando para manter as legislações vigentes que têm e possam se proteger.
"Nós, que trabalhamos na América Latina, vimos nos últimos anos que a criminalização total do aborto só serve para afetar a nossa comunidade", comenta.
Em seu trabalho como ativista, ela destaca o caso de El Salvador, onde "há uma criminalização total do aborto e as mulheres são enviadas à prisão por até 40 anos por sofrer emergências obstétricas ou abortos espontâneos", lamenta.
"Então nós sabemos o que vem por aí e estamos muito preocupadas pela criminalização dos profissionais que trabalham nos serviços de aborto, das mulheres que não vão ter como acessar o procedimento. Basicamente, o que a Corte Suprema fez hoje foi criminalizar a pobreza", finaliza.
Claudia, que preferiu não dar seu nome completo com medo de exposição e ataques, diz que nunca pensou em viver um dia como o de hoje. "Nós vimos muitas coisas nos últimos três anos, mas não imaginamos que chegaria a isso. Então, percebemos que as coisas podem mudar, e para pior", diz ela, que é afroamericana e tem 58 anos.
Para ela, protestar é importante pelo fato de ela ser uma mulher, mãe, professora e "uma cidadã negra dos Estados Unidos". "Essa decisão de hoje representa para mim um momento crítico na nossa história, um sério retrocesso para este país."
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