'Ataques me dão mais força', diz vereadora trans ameaçada de morte no RJ
Um dia depois de denunciar ter recebido ameaças de morte do deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB-RJ), a vereadora de Niterói (RJ) Benny Briolly (PSOL-RJ) disse, a Universa, que lida com a barbárie enquanto tenta exercer o mandato —ela foi a primeira mulher trans eleita na cidade fluminense— mas que, de certa forma, os ataques a "dão mais força para trabalhar e lutar".
Na última sexta-feira (24), Benny revelou, pelo Twitter, ter recebido um e-mail do endereço oficial do gabinete de Amorim na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro), afirmando que estaria "contando as balas" e que "fecharia sua boa para sempre".
No e-mail, o deputado se refere à vereadora com pronomes masculinos, e faz ofensas racistas e LGBTfóbicas, chamando Benny de "boiola", "viado nojento, e "macaco preto fedorento".
Veja prints da mensagem em publicação da vereadora:
Benny, que desde o início de seu mandato, em janeiro de 2021, é alvo de constantes ataques e ameaças, disse que dessa vez foi diferente justamente porque teria vindo do e-mail oficial do gabinete de um parlamentar: "Geralmente os e-mails chegam anônimos, dessa vez, veio de um e-mail real e assinado".
As ameaças me dão mais força para trabalhar e lutar. Elas vêm na tentativa de me silenciar e interromper meu mandato, mas eu vou na contramão: quanto mais sou atacada, mais penso em políticas públicas para o povo preto, para as mulheres e para a população LGBTQIA+".
A Universa, a vereadora lembrou que, em 17 de junho, no plenário da Alerj, Rodrigo Amorim se referiu a ela como "belzebu" e "pessoa com testículos"; desde então, passou a tratar a vereadora apenas com pronomes masculinos, práticas "racistas e transfóbicas" que ela denunciou à Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância). As ameaças foram feitas uma semana depois da denúncia.
Vereadora aguarda respostas e pede escolta
Benny Briolly criticou, ainda, a inércia da Câmara Municipal de Niterói, da Alerj e do Ministério Público, que, segundo ela, até o momento não deram respostas aos pedidos de providências feitos por seu gabinete.
"Não sei a quantas andam as investigações. Já são mais de 20 ameaças de morte [direcionadas a ela desde o início do mandato] e até agora absolutamente nada foi feito, nem para prever minha segurança, tampouco para identificar os autores das ameaças", fala. Agora, ela pede escolta para si e toda sua equipe.
"Não é fácil gerir minhas funções com tantas ameaças porque, ao mesmo tempo que eu tenho um mandato para tocar, tenho que lidar com uma série de restrições. Eu e todos os meus assessores estamos em risco. É muito cruel."
Segundo levantamento realizado pelo Instituto Marielle Franco, em 2021, a violência política de gênero afeta especialmente parlamentares trans e negras.
Todas as parlamentares pretas que eu conheço já foram ameaçadas de alguma forma. Todas as travestis eleitas que conheço também estão sob ameaça. Pautar e combater a violência política de gênero nas eleições deste ano é mais que urgente
Outro lado
Em áudio enviado ao UOL, Amorim negou que o e-mail tenha sido enviado de sua conta institucional.
"Eu não enviei e não sou o autor da citada mensagem. E todos que me imputarem esse crime vão responder na Justiça. Ontem mesmo o episódio já foi registrado na DRCI (Delegacia de Repressão a Crimes de Informática) e também foi informado ao presidente da Alerj, à Mesa Diretora e a todos os deputados da Casa", afirmou o deputado.
"Não tiro uma palavra que eu tenha proferido no plenário ao longo do meu mandato [em referência às falas racistas e transfóbicas de 17 de junho]. Tudo que falo ou me manifesto é de forma pública e transparente. Jamais utilizaria um e-mail com conteúdo tão chulo, tão vil".
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