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Casais processam Villa Country após agressões por homofobia durante show

Villa Country, casa noturna na zona oeste de São Paulo - Instagram/Villa Country
Villa Country, casa noturna na zona oeste de São Paulo Imagem: Instagram/Villa Country

Anahi Martinho

Colaboração para Universa, em São Paulo

25/06/2022 04h00

Uma família está processando a casa de shows Villa Country, na Zona Oeste de São Paulo, alegando ter sofrido agressão física e homofobia dentro do local. Jackeline Paixão, 28, e a esposa, Lana Camargo, 27, foram ao show da dupla Jorge e Mateus no dia 26 de maio. Elas estavam acompanhadas do primo de Jackeline, Arthur Veloso, e o namorado dele, Matheus Felício. O UOL teve acesso aos registros de ocorrência e à íntegra do processo.

Os dois casais relatam ter sofrido agressões de um frequentador do local, que seguiu curtindo a apresentação musical mesmo após a segurança do local ter sido acionada. O homem, identificado como Jefferson Alves de Oliveira, 36, teria se incomodado com a presença dos quatro e iniciado uma confusão, terminando por agredir violentamente Lana e Arthur. Durante a briga, Lana ainda diz que teve seu aparelho celular furtado pelo suspeito.

A Universa, Jefferson negou as agressões de cunho homofóbico e disse que "briga de balada é assim".

Segundo Jackeline, o suspeito estaria desde o início do show arrumando confusão com outras pessoas. Esbarrava e, em seguida, pedia desculpas — e por vários momentos encarou os dois casais. Ela contou ainda que ela e Lana perceberam que o clima estava perigoso e resolveram ser mais discretas. Porém, após um beijo entre Matheus e Arthur, o homem teria iniciado uma confusão.

Em determinado momento tocou uma música romântica e meu primo e seu namorado se beijaram. Nesse momento, a gente percebe que o rapaz em questão está de braços cruzados encarando a cena. Meu primo olha para o moço e pergunta: 'Quê?'. O homem simplesmente xinga meu primo e lhe dá uma cabeçada no nariz. Nesse momento, minha noiva o empurra para afastar do meu primo, que já estava sangrando. Ele dá um soco na minha noiva e ela cai no chão.
Jackeline Paixão

O casal conta que o grupo buscou a ajuda de um segurança da casa, mas que o profissional apenas teria tentado amenizar a situação e manter o quarteto afastado do agressor. Logo depois, uma mulher que presenciou a briga avisou que Jefferson teria pegado o celular dela. Ao ser questionado sobre o aparelho, Jefferson teria convocado os casais para "resolver [a discussão] lá fora".

"Elas saíram e avistaram Jefferson com o celular na mão. Ele provocava, dizia palavras de cunho homofóbico, 'sapatão', 'viado', e dizia que, se quisessem o celular [de volta], teriam que enfrentá-lo", relata a advogada da família, Eliane Alves Peixoto.

"Você não quer ser homem? Tem que apanhar que nem homem", teria dito o homem.

Após a chegada da Polícia Militar, acionada por seguranças da casa, Lana e Jackeline registraram boletim de ocorrência por roubo e agressão. Jefferson não foi levado à delegacia e permaneceu na casa de shows.

Em um e-mail enviado à casa de shows, Jackeline relatou o ocorrido e pediu ressarcimento financeiro pelos ingressos e pelo celular roubado no local. A mensagem ficou sem resposta. Ela diz que chegou a procurar um gerente, mas que nada foi feito para ajudá-los.

A advogada da família entrou com processo civil contra a casa de shows, pedindo reparação por danos morais. "Seria a devolução do ingresso que elas compraram, no valor de R$ 240, o valor da nota do celular, um iPhone 7, e danos morais por uma noite que era para ser de diversão e foi de terror, ainda sem assistência nenhuma da casa". O valor total da ação é de R$ 10 mil.

Procurado ao longo das quinta e sexta-feira desta semana por Universa, por telefone, e-mail e mensagem, o Villa Country não respondeu aos questionamentos da reportagem a respeito da conduta dos profissionais de segurança e o suporte oferecido aos casais. O espaço segue aberto para manifestação e será atualizado tão logo haja um posicionamento.

Lana e Jackeline ainda estão abrindo uma queixa-crime na esfera criminal contra o suspeito. Elas tiveram acesso ao boletim de ocorrência apenas um mês depois do ocorrido e não é mais possível fazer o exame de corpo delito.

"Se pegou o soco nela, eu não vi"

Procurado pelo UOL, o empresário Jefferson Alves de Oliveira negou as agressões de cunho homofóbico e disse que "briga de balada é assim".

Se pegou o soco nela, eu não vi. Ela que entrou no meio da briga. Briga de balada funciona assim.
Jefferson Alves de Oliveira, empresário

Ele também negou ter roubado um aparelho celular na ocasião.

Tenho R$ 5 milhões no bolso, sou vice-diretor de uma empresa de bonecos de colecionador, por que eu roubaria um celular?.

Ele afirma que também foi vítima de furto por parte do grupo e que teriam levado a aliança de sua esposa. Ele, no entanto, não descreve como o crime teria ocorrido.

No boletim de ocorrências feito pela Polícia Militar na madrugada do ocorrido, Jefferson se colocar na condição de agredido, denunciando os casais e alega que a esposa dele recebeu uma cabeçada durante a confusão.