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Denunciantes de Melhen fazem carta às mulheres da Caixa: 'Batalhas duras'

Após denúncias de assédio, Pedro Guimarães pediu demissão do cargo de presidente da Caixa nesta quarta (29)                              - JÚLIO NASCIMENTO/PR
Após denúncias de assédio, Pedro Guimarães pediu demissão do cargo de presidente da Caixa nesta quarta (29) Imagem: JÚLIO NASCIMENTO/PR

Rafaela Polo

De Universa, São Paulo

01/07/2022 14h45

A mulheres que foram à justiça denunciar o ator e diretor Marcius Melhem por assédio sexual vieram a público nesta sexta-feira (1) demonstrar apoio para aquelas que também falaram sobre os assédios sexuais realizados pelo ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães.

"Nós não sabemos seus nomes, mas conhecemos e respeitamos a sua coragem", começa o documento. "Conhecemos os desafios que aparecem ao enfrentarmos um homem em posição de poder, que usa a sua força e o seu cargo para constranger e calar as pessoas" afirma e completam "a luta de vocês não acabou. Estejam preparadas, porque as próximas batalhas serão tão ou mais duras."

Universa conversou com a assessoria de imprensa da atriz e comediante Dani Calabresa e com a advogada Mayra Cotta, que representa as mulheres que estão movendo um processo contra Melhem. Ambas confirmaram a veracidade do documento.

Em outubro de 2020, a advogada das vítimas Marcius Melhem deu uma entrevista para a Folha de S. Paulo dizendo que ele teria agido de forma violenta contra muitas mulheres da TV Globo, entre elas, Dani Calabresa, que foi a primeira a levar o caso à tona. Ela fez a denúncia em dezembro de 2019, de que foi vítima de assédio sexual e procurou o compliance da emissora.

A partir dessa iniciativa, mais 11 mulheres resolveram denunciar Melhem. O caso segue em segredo de justiça. O ator e diretor nega as acusações, mas foi desligado da emissora em agosto de 2020. O ator nega todas as acusações.

Na investigação que está em curso na Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), no Rio de Janeiro, Dani Calabresa e outras cinco mulheres acusam Melhem de assédio sexual e outra por assédio moral. Não há prazo para a conclusão do caso.

Caso Caixa

O ex-presidente da Caixa Econômica Federal pediu demissão de seu cargo na última quarta-feira (29) em carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro após se tornar o centro de denúncias de assédios sexuais sofridas por funcionárias da constituição.

Guimarães foi acusado de forçar toques íntimos, fazer abordagens inadequadas e convites incompatíveis à relação de trabalho durante viagens e eventos da estatal. As denúncias foram feitas ao site Metrópoles e reveladas na quarta-feira (28). De acordo com a reportagem, os casos estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal e foram ouvidos ao longo de semanas, sob sigilo. Mas, antes disso, segundo a denúncia publicada no O Globo, ele já teria tentado, por exemplo, beijar à força uma funcionária da área de private banking (grandes clientes) do banco Santander em uma festa de final de ano. Ele foi demitido da instituição em 2004.

Às mulheres que denunciaram o assédio sexual na Caixa Econômica Federal,

Nós não sabemos seus nomes, mas conhecemos e respeitamos a sua coragem. Sabemos como foi difícil passar por tudo o que vocês passaram. Os assédios, as pressões, as ameaças. E a força que foi necessária para romper o silêncio e fazer as denúncias.

Conhecemos os desafios que aparecem ao enfrentarmos um homem em posição de poder, que usa a sua força e o seu cargo para constranger e calar as pessoas. Mas vocês falaram. Vocês foram às autoridades, contaram suas histórias, mostraram sua verdade. O medo de falar é enorme, sabemos. Mas a coragem para romper o silêncio é maior ainda. E como foi importante revelar a verdade e desafiar o poder. Ao fazer isso, vocês não apenas se defenderam, mas protegeram outras mulheres que poderiam ser vítimas do mesmo assédio.

Estamos aqui para, metaforicamente, segurar suas mãos e reforçar seu movimento: não se calem, não cedam, não esmoreçam. Vocês não estão sozinhas. Queremos, num abraço por escrito, tentar apaziguar a dor de tudo que vocês vêm vivendo, pois sabemos exatamente o que vocês sentem. Cada uma de nós sente a dor de cada uma de vocês. E
sabemos, não somos poucas.

Esse assédio que vem disfarçado como piadas, como falsa amizade, como a insistência que precisa ser tolerada, sem que possamos reclamar. Do chefe que se impõe, que invade os espaços. Do assédio que é sexual, mas também é moral, porque é feito para calar testemunhas e assustar as pessoas.

A luta de vocês não acabou. Estejam preparadas, porque as próximas batalhas serão tão ou mais duras. O sentimento principal talvez seja o medo. Medo da retaliação do poderoso denunciado, medo pelo futuro de nossas carreiras, medo de que nossa reputação seja posta em jogo, simplesmente porque fizemos o que era correto.

O único fio que temos para nos segurar é a certeza de que essa era nossa única opção. Não podíamos suportar mais.
Os assediadores, quando expostos, seguem o mesmo roteiro: o ataque às vítimas. Nos desqualificam como forma de se defenderem, como se houvesse uma justificativa legítima para o assédio. Sabemos que não há. "Foi ela quem pediu". "Era só uma brincadeira". "Veja as roupas que ela usava". Ou, "dei em cima, mas não foi assédio".Como se a culpa fosse das mulheres. Mas não é.

Ou então, a velha pergunta: "por que não denunciaram antes?". Como se fosse fácil. O assédio, por definição, é um exercício de poder. Assediadores são poderosos. Têm em suas mãos empregos, carreiras, famílias. O ato de denunciar, seja quando acontecer, é um ato de extrema coragem. Vocês foram bravas.

A culpa não é de vocês, como não era nossa. A culpa é de quem assedia. E das pessoas que sabem e ainda assim protegem os assediadores.

Nós não sabemos quem são vocês. Nunca nos falamos, nunca nos vimos e se nos cruzássemos na rua não teríamos como saber que passamos uma pela outra. Mesmo assim temos agora um laço inquebrantável. É por causa de mulheres como vocês que nós seguimos lutando. Daremos forças umas para as outras e não pararemos até que
todas as histórias sejam contadas.

Acreditamos que a inspiradora fibra que vocês demonstram, bem como a nossa, é o material com o qual se construirá um futuro mais promissor. Um futuro em que todas as mulheres possam trabalhar sem serem assediadas.

Um forte abraço, do GRUPO de vítimas denunciantes de Marcius Melhem,
Somos Muit@s."