Debochada, ela lota teatros e tem stand up na Netflix: quem é Bruna Louise?
Bruna Louise acaba de fazer história como a primeira humorista brasileira a ter um show de stand-up comedy solo na Netflix, o espetáculo "Demolição", lançado no fim de junho. Para celebrar, ela projetou em prédios da região da Avenida Paulista, em São Paulo, uma foto sua com a hashtag #FogoNoPatriarcado. Em conversa com Universa, ela fala sobre seu lado feminista aflorado: "Luto pela equidade de gênero. Para reverter o machismo precisamos de união. É necessário sair da caixa que nos colocaram, a da competitividade", explica.
Além de atuar em "Demolição", Bruna conta que fez questão de cuidar de todos os detalhes da produção artística do espetáculo. O cenário traz projeção mapeada que acompanha os temas da peça, e o figurino também é mais uma quebra de paradigma nesse estilo e inspirado em uma guerreira do futuro: "Me inspirei na Trinity, de Matrix. Apesar de ela ser uma hacker famosa na trama, é sempre subestimada pela aparência frágil, e precisa ficar provando seu valor". O look é um preto total bem fashionista e que passa longe das roupas casuais usadas pela maioria dos comediantes de stand-up.
Aos 37 anos, nascida em Curitiba (PR) e formada em Artes Cênicas, ela transforma histórias pessoais —nem sempre tão engraçados na vida real— que envolvem relacionamentos afetivos, o "combo-família" e até traumas, como o abandono do pai, em momentos de reflexão e risada: "Sentei e chorei um milhão de vezes por causa do preconceito que envolve o humor feito por mulheres e por problemas particulares, mas meu choro sempre foi pensando no que fazer e nunca em desistir".
O solo na Netflix, porém, está longe de ser o ápice da carreira desta comediante. Bruna participará da segunda temporada de "Brincando com Fogo - Brasil", da mesma plataforma de streaming, estreia em julho uma temporada de stand-up no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro, e tem planos de se apresentar em Portugal.
UNIVERSA - Quando você descobriu que tinha jeito para a comédia?
Bruna Louise - Desde criança gostei de comédia, minha família é muito engraçada. Quando tinha 15 anos comecei a fazer teatro e a realidade é que as pessoas riam quando fazia drama, e eu gostava disso. Foram dez anos de teatro, e neste tempo achava stand-up muito assustador. Não tem ensaio, é diferente, mas viciante.
Como mulher e artista, qual o significado de estar na Netflix com um show solo?
Em momento algum achei que ser mulher fosse impedimento. Ouvi muito não, passei por preconceito, desmerecimento, ofensa disfarçada de elogio ("seu stand-up é bom por ser de uma mulher"). Neste lugar, ser mulher claramente é "menor". Superei isso acreditando que ser mulher me ajuda pela quantidade de coisas que conseguimos fazer ao mesmo tempo e por sermos fortes.
E como foi o processo para superar o domínio masculino no stand-up até chegar ao estrelato?
Sentei e chorei um milhão de vezes, mas meu choro sempre foi pensando no que vou fazer, nunca em desistir.
Uma das armas do machismo é a insegurança e sempre que me sinto assim tento tomar consciência de que fui doutrinada para ser desse jeito, e é preciso ir contra.
Mesmo que beire a arrogância, tenho que acreditar em mim. A gente precisa acreditar no nosso sonho, sei que sou talentosa, ou não subo em um palco para 1.000 pessoas, apesar de ter muito para aprender ainda. Enquanto eles estavam estudando a técnica do stand-up, eu estava lutando para superar barreiras.
É fato que muitas pessoas não entendem a ironia por trás das piadas do stand-up comedy. Como lida com isso?
Eu sei que nem sempre vão entender e que é impossível agradar todo mundo. Tento ser clara e didática, mas não dá para explicar piada. Além disso, vai ter gente que não vai gostar, sair de cara feia. Enquanto não for a maioria estou fazendo meu trabalho direito.
Em seus shows são abordadas diversas questões polêmicas, que envolvem a vida da mulher, o machismo, e você já chegou a fazer piada sobre AIDS, dependência química, entre outros temas. Como trabalha esse limite na sua profissão?
Eu preciso lutar pela liberdade de expressão, é uma escolha artística de cada qual. Tem piada de que não gosto, não consumo, mas enquanto artista preciso lutar pela liberdade, tenho senso crítico e sei que pode ser desserviço.
Você zoa as pessoas fora dos palcos como faz no stand-up? Sempre mantém o estilo "sincerona"?
Sim (risos). É o dia inteiro enchendo o saco de todos os meus amigos, mas a maior parte deles é de humoristas que têm entendimento. Sou sincera e fofa, uso essa sinceridade no palco direcionada mais para a vida do que para apontar o dedo para alguém. Tenho noção de que quando saio desse "lugar de conforto" as pessoas podem se incomodar.
Você também estará como apresentadora da segunda temporada do reality "Brincando com Fogo - Brasil", na Netflix. Conseguiria ficar sem sexo, mesmo encontrando uma pessoa de que goste, em troca do prêmio do programa?
Só digo uma coisa, estou no reality certo. É tão gostoso fazer a narração falando besteira, a série é muito divertida, tenho liberdade, me envolvo com as pessoas, tem quem eu não gosto e quem amo. Já me manter intacta... Amor, a minha vida é um brincando com fogo. Dou risada do perigo, fico meses sem fazer nada. Tento entender que vida apimentada é essa que as pessoas levam, eu sempre preciso de meses de conversa para conseguir alguma coisa (risos).
O que significa para você afirmar: "Não tô pegando gente que eu pegaria porque sou humorista"?
Ao longo da carreira ficou muito claro para mim que o homem não quer ficar no lugar que não seja o centro das atenções, eles não querem ser expostos.
Não namoro há anos, mesmo porque macho atrapalha para car***** (risos). Mas não é ser só humorista, sou uma empresária que coloca a carreira em primeiro lugar, e muitos não entendem que existem outras prioridades além deles.
Você acumula 16 milhões de seguidores nas redes sociais. Como é o seu relacionamento com a internet?
Gente, é um relacionamento tóxico para todo mundo. Você ama, abandona, não responde o WhatsApp (risos)... A internet é assim, mas tenho consciência de que dificilmente me encaixaria no padrão da televisão brasileira com o trabalho que faço. Também não sei se a Netflix iria me chamar se não tivesse um número expressivo de seguidores. O fato é que a chegada do streaming trouxe mais opções e não estamos mais na mão de uma emissora de TV.
Quais são as suas inspirações?
Minha mãe, Inês, que me criou com muita luta e dignidade depois que meu pai nos abandonou. Ela que me fez ser feminista e acreditar sempre no meu potencial. Já do lado profissional é a [atriz e humorista] Dercy Gonçalves. Ela sempre fez comédia de forma genial, transformou os problemas em piadas, encontrou no humor mesmo com todas as dificuldades uma forma de se tornar artista e ter uma carreira. É transformadora e genial. Sabemos por causa dela que o riso alivia muito. Por isso, mesmo chorando faço piada. É assim, fazer o quê?
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