Inveja masculina em relações: 'Ele me ofendia por eu batalhar na carreira'

A advogada do Distrito Federal, Pâmela Ferreira, 28, viralizou no Twitter na última sexta-feira após compartilhar com os seguidores um conselho que recebeu do pai. "Hoje meu pai veio me alertar sobre homens que sentem inveja de suas parceiras bem-sucedidas", publicou no início de uma thread. Com quase 45 mil curtidas, o conteúdo chegou a outras mulheres que diziam já ter vivido o mesmo.

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"Passei por uma situação assim em meados de 2016. A pessoa me agredia verbalmente quando eu buscava um progresso na minha carreira", disse Pâmela a Universa. "Ele dizia que eu certamente poderia me envolver com algum homem de cargo alto para conseguir ganhar cargo ou subir na carreira", relembra ela.

"Também me ligava dez vez seguidas e mandava mensagens do tipo 'você acha que tem algum otário aqui? Eu sei o que você está fazendo', enquanto eu estava tendo aula de pós-graduação durante a semana."

Na época, diz Pâmela, ela não percebia exatamente o que estava acontecendo. "Achava que era uma forma de cuidado e proteção. Mas na verdade, como ele estava perdido profissionalmente, minava minha autoestima para que eu não pudesse ir em frente", contou.

Para a psicóloga Adriana Severine, esse comportamento é comum entre homens e muitas vezes eles nem percebem tais atitudes. "Estamos a anos luz de deixar de ser um país machista. Quando a mulher está um pouco acima do homem na carreira e nas conquistas, ele começa a ficar desconfortável consigo mesmo. Por causa disso, desqualifica as conquistas que a parceira atingiu", explica a especialista.

Segundo Adriana, o fato de a sociedade ter internalizado que homens têm que ganhar mais, serem mais velhos e até mais alto que as mulheres, é um dos agravantes para esse comportamento. "Esses paradigmas são muito fortes", explica. Nem mesmo a mulher tem essa noção muitas vezes.

"Foi quando ele começou a ficar mais violento com as falas que percebi o que estava acontecendo. Não era mais para me proteger. Depois que o relacionamento terminou ficou ainda mais claro", conta Pâmela.

O conselho dado pela pai foi depois da separação, já que, na época do namoro, nem ele nem a mãe dela sabiam o que se passava dentro do relacionamento. "Quando estamos em meio a uma situação abusiva, tentamos esconder. Mas minha mãe já achava estranho alguns comportamentos. Ele não queria nem que eu saísse com meus pais", conta.

Os traumas ficam

O resultado de tanta pressão psicológica para Pâmela foram dois anos de depressão profunda, ansiedade e o abandono do doutorado, que ela retomou agora. "Desenvolvi síndrome do pânico, tinha até dificuldade de andar na rua. Fiquei reclusa. Precisei do apoio dos meus pais para sair dessa", explica. Recuperada, ela acaba de passar em dois concursos públicos, para a Defensoria Pública e para o Tribunal de Justiça do Distrito Federal.

A autoestima é uma dos primeiros pontos atacados nesse tipo de relacionamento. "A gente acha que a pessoa quer nosso bem, mas ela começa a falar que você está mais cansada, que não cuida mais do seu cabelo, não se diverte mais. Isso vai minando o amor próprio", explica Adriana. Há casos, inclusive, de mulheres evitarem avanços na carreira por autoboicote, para evitar problemas com o parceiro.

"Você fica com medo de ser promovida, de crescer profissionalmente, e se bloquear. Vê aquela promoção que deseja, mas, no fundo, espera que ela não aconteça", diz Adriana. E de tanto deixar para depois para não incomodar o outro, os desejos próprios vão sendo deixados de lado.

Para Pâmela, ao primeiro sinal de que a mulher está sendo vítima de uma situação como essa, o ideal é terminar a relação. "Se a pessoa tentar minar sua autoestima e diminuir suas conquistas, saia urgentemente. A tendência é piorar", completa.