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Empresa de casamentos de luxo deixa noivos na mão: 'Festa de R$ 250 mil'

O casamento de Iris e Pedro vai acontecer porque o casal contratou novamente alguns fornecedores, mas prejuízo passa de R$ 100 mil - Acervo pessoal
O casamento de Iris e Pedro vai acontecer porque o casal contratou novamente alguns fornecedores, mas prejuízo passa de R$ 100 mil Imagem: Acervo pessoal

De Universa, UOL

03/07/2022 04h00

"Minha irmã está fora de si, inconsolável". Foi assim que a diretora de marketing Letícia de Nadai explicou a Universa a situação de sua irmã após o Grupo Blue Moon, empresa de organização de casamentos com sede no Rio de Janeiro, sumir a 15 dias da celebração. A noiva, que prefere não ser identificada, mora em Londres com o namorado inglês e escolheu o Rio como local do grande dia. Deixou a irmã, Letícia, cuidando das coisas por aqui.

O contrato para a realização da festa foi firmado em 2020 e está quitado desde fevereiro deste ano. No total, o investimento foi de R$ 150 mil. Em março, a família contratou uma assessora para ajudar a cuidar dos detalhes. Foi ela, inclusive, que alertou sobre os problemas.

"Ela nos ligou e disse que estavam rolando burburinhos de que os fornecedores não tinham sido pagos e de que as festas em um determinado final de semana não seriam entregues. Já surgiram reclamações no Reclame Aqui e rolavam fotos no WhatsApp de uma festa que aconteceu na quinta-feira (30) servindo bisnaguinha em guardanapo", disse Letícia. Com essa informação, ela ligou para os fornecedores, que realmente confirmaram que não tinham recebido nada.

Com o advogado Pedro Menezes Reis a história é bem semelhante. Com festa marcada para a sexta-feira (8), ele descobriu que a empresa enfrentava problemas após ser alertado por sua decoradora, que disse não estar recebendo os pagamentos da forma adequada.

"Fizemos um cronograma de pagamento, pois ela não era uma fornecedora do local. Em março, foi depositado a parcela de R$ 12 mil, mas em abril, pagaram R$ 5 mil. O total do contrato era R$ 49 mil, a ser pago em cinco parcelas. Aí vimos que tinha algo errado", conta. Pedro, então, procurou a empresa que organizava a festa.

"Me disseram que estava tudo atrasado, que estavam com problemas, mas que o casamento sairia. Isso em junho. Um dos sócios da empresa disse que era uma fase difícil, mas que o evento aconteceria como contratamos", completa Pedro.

Depois, ele conseguiu falar com esse mesmo sócio na sexta-feira (30). "Ele me atendeu e disse que era tudo boato. Falei para ele que poderia se defender como quisesse, mas que o meu próprio contrato já tinha inadimplência com a fornecedora e DJ. Ele me falava que era um problema financeiro da empresa, mas que iam resolver. Fui lesado e estou buscando uma solução. Não dá para confiar na empresa que não pagou a decoração e o DJ", relata o advogado.

Agora, ele está organizando uma nova festa —sozinho, para poupar a noiva do sofrimento. Será no dia 8 de julho, como estava planejado anteriormente, mas alguns serviços que estavam no pacote de seu casamento com a Blue Moon tiveram que ser recontratados. Por enquanto, seu prejuízo ultrapassa os R$ 100 mil.

"Primeiro, pagamos para o grupo cerca de R$ 150 mil pelo pacote básico, mas contratamos outras coisas, então já tinha um acréscimo de R$ 100 mil. Agora fechei novamente um buffet e o bar, e mais gastos extras", conta Pedro.

"A gente não imagina que uma empresa desse porte, que estava expandindo para São Paulo, com nove casas no Rio de Janeiro, fosse passar por isso", opina Letícia. Antes de fechar contrato, como ela trabalha em um escritório de advocacia, pediu para que os registros financeiros do local fossem checados. E estava tudo certo. O problema começou a acontecer a partir do meio de junho. Até então, não tinham reclamações sobre o serviço do local.

"O sonho acabou"

Letícia pediu para que um amigo advogado intermediasse a conversa com os donos do grupo. Ele conseguiu contato com os sócios, e uma reunião chegou a ser marcada para a terça-feira (5), mas, ao longo da tarde da sexta-feira (1º), o contato parou, os sócios desapareceram e o caso explodiu.

"Os clientes lesados criaram um grupo de WhatsApp, são quase 300 pessoas em absoluto desespero. Pessoas que chegavam aos locais das suas festas e não tinha nada", diz Letícia, que perdeu completamente o contato com a empresa.

"Não temos mais contato com ninguém. Quem tem condição, está organizando e pagando tudo de novo. Tem uma cliente, uma mulher, que pegou um empréstimo no banco para fazer a festa e pagar até 2025. Para ela, o sonho acabou", diz.

Posição da empresa

O Grupo Blue Moon foi procurado pela reportagem por mensagem no WhatsApp, ligação e mensagens diretas via site, mas não se manifestou até a publicação deste texto.

Letícia afirma que a empresa não prestou nenhum tipo de esclarecimento à irmã e ao namorado dela, tampouco aos outros clientes com os quais ela está em contato. Apenas fizeram uma publicação no Instagram dizendo que "as semanas têm sido difíceis", mas que continuarão "trabalhando para isso logo passe". A empresa não deixa claro quais serão os próximos passos com as festas programadas nem falou sobre a situação financeira real que enfrentam.

Noivos podem nunca receber dinheiro de volta

Segundo o advogado Vitor Boaventura, sócio de Ernesto Tzirulnik Advocacia, especialista em direito do seguro e do consumidor, se a empresa decretar falência, por exemplo, e o juiz acatar o pedido, os noivos entram em uma lista de credores e podem ser os últimos a receber. Ou, pior, nunca mais ter seu dinheiro de volta.

No processo de falência, para conseguir quitar dívidas, empresa precisa vender seus bens. "Isso é feito com todo o patrimônio da corporação. Aí, pega-se esse dinheiro e começa-se a fazer o pagamento", explica Vitor. No critério de credores da Justiça, os primeiros a serem pagos são os funcionários por causa do laço trabalhista que têm com a companhia, explica.

O problema é que os noivos são credores comuns e não ficam em um lugar de privilégio nessa lista de pagamentos. Caso o dinheiro conseguido com os bens liquidados não for suficiente, eles podem não reaver nada do que foi investido. "Esse é o maior risco. Além da festa cancelada, eles pode não receber nada no fim do processo."