'Recebi o diagnóstico de câncer de mama e uma promoção ao mesmo tempo'
"Entrei na Nivea no final de 2017, na área de proteção solar e hidratante labial. Depois de três anos e meio, fiz uma movimentação e fui para a área de cuidados faciais. Foi quando passei a trabalhar nessa categoria que descobri que estava com câncer de mama, após fazer meus exames de rotina.
O caminho até saber que eu estava com câncer foi acontecendo em doses homeopáticas. No ultrassom, a médica que fez o exame percebeu um nódulo. Ela olhou o exame do ano anterior e viu que eu não o tinha. Pedi se ela poderia liberar o laudo o mais rápido possível e fiquei um pouco tensa. Um dia depois, falei com meu ginecologista, ele acessou o resultado e pediu para que eu fizesse uma biópsia. Mas me acalmou: pelas imagens, ele não acreditava ser um tumor maligno.
O diagnóstico
Acho que os dias mais difíceis da minha jornada foram esses: a espera pelos resultados. Era véspera de feriado de janeiro e fui viajar, mas era difícil não pensar nisso. Fui fazer a biópsia e, mais uma vez, a médica do laboratório me disse que não parecia ser nada sério e que é protocolo pedir uma biópsia. Fiz o exame na quinta e a expectativa era que o resultado saísse na sexta. Estava de malas prontas porque viajaria no domingo. Sábado, enquanto eu almoçava com a minha mãe, resolvi olhar se já tinha saído. Estava lá, mas com termos muito técnicos que não entendi. Mandei um print para o meu médico perguntando.
Ele me respondeu perguntando se poderia me ligar. Já era um sinal. Estava no telefone na frente da minha mãe e tentando replicar a maior quantidade de informações possíveis para ela entender o que estava acontecendo.
Ele me perguntou, com muita delicadeza, se eu tinha visto que o resultado não foi bom. Foi aí que percebi o primeiro tabu da doença. Nem o médico quis verbalizar que eu estava com câncer de mama.
Ele me falou que estava no início, que era um nódulo de dois centímetros, o que não é tão pequeno, mas que íamos resolver. Só que não é fácil ficar tranquila com uma notícia como essa.
Como era aniversário da minha mãe, toda a minha família iria para a nossa casa. O que foi bom, porque receberíamos apoio. Inclusive, falei para minha mãe que ela não precisava esconder o diagnóstico e que podia conversar com as amigas dela sobre a doença. Acho que, para ela, que é mãe, é mais difícil do que pra mim. E poder falar com alguém ajudaria muito.
No mesmo momento começamos a procurar um mastologista. Perguntei para meu médico se teria algum que me atenderia no sábado mesmo. Ele mandou mensagem para dois e um deles respondeu prontamente. Por trabalhar todo dia com isso, e ser um expert no assunto, ele me passou uma tranquilidade e uma naturalidade que foram importantes para mim. Segunda de manhã eu já começaria minha bateria de exames.
Por isso digo que meu diagnóstico foi chegando em doses homeopáticas: primeiro achei que fosse benigno, depois descobri que era um câncer e por fim me falaram que eu não escaparia da quimioterapia. Para minhas amigas, falei que faria cirurgia, ia tirar e resolver, mas o resultado dos exames me deu um choque de realidade. Descobri que existem vários tipos de câncer de mama, com diferença de tamanhos e posições. É muito complexo.
Descobrir isso foi uma das coisas mais difíceis. Meu cabelo nunca tinha estado tão longo, sabe? Minha mãe e amigas já tinham criado um grupo e fiquei arrasada com a notícia. Minha mãe pediu para que elas viessem me dar apoio porque, assim como eu, ela estava muito chateada e não tinha condição de ser a força que eu precisava.
Elas foram, ficaram comigo e no fim do dia uma delas insistiu que eu me arrumasse para irmos jantar. Quando mandei a foto desse momento para minha mãe foi muito simbólico. Havia poucas horas eu não parava de chorar e, de repente, estava arrumada e indo jantar.
'Decidi que tinha de enfrentar e ia enfrentar. Ia viver aquela experiência, aprender e tirar o melhor dela'
Foi a primeira vez que pensei que estava passando por aquilo porque tinha um propósito maior na minha vida. Na época, a Nivea estava fazendo umas jornadas para estimular seus funcionários a descobrirem seus propósitos. Esse foi meu empurrão. Acho, inclusive, que essa entrevista é o meu primeiro passo. Muitas mulheres têm câncer de mama. O tratamento não é mais como há alguns anos. Esse tema não precisa ser um tabu. É claro que é um susto e que não é legal, mas a forma como você lida com o assunto faz toda a diferença.
Pesquisei pouco na internet sobre câncer de mama, mas vi um médico falando que, ao receber o diagnóstico, é muito importante cuidar da saúde emocional. É claro que os sintomas não são psicológicos, mas a nossa mente consegue amenizar alguns efeitos colaterais. Minha saúde era minha prioridade, mas não queria deixar de viver outras experiências durante o tratamento.
Eu precisava cortar o cabelo. Fiz um tratamento com touca de resfriamento que evita a queda, mas ele age melhor quando os fios estão curtos. Liguei no meu cabeleireiro, expliquei a situação e disse que queria cortar meu cabelo com a presença da minha mãe, minha cunhada e minhas amigas. Ele pediu para que fôssemos na hora do almoço que era mais tranquilo. Eu cortei na altura dos ombros, minha mãe e minha cunhada também cortaram.
Quando você imagina uma pessoa passando pela quimioterapia, vem à cabeça alguém frágil, vulnerável e indisposto. Não era assim que eu me sentia. Não deixei de trabalhar nenhum dia, nem com o tratamento e nem com o diagnóstico. Mesmo que fossem poucas horas. Às sextas, quando eu fazia quimioterapia, me conectava de manhã e rendia o máximo possível até a hora de sair de casa. O que era bom, porque eu não ficava só pensando no tratamento do câncer.
É claro que alguns dias eu consegui trabalhar normal, outros entrei mais tarde, saí mais cedo ou precisei me recuperar na hora do almoço. Mas eu me sentia produtiva falando de outras coisas que não era o câncer. E o home office me ajudou também, porque eu tinha toda a estrutura na minha casa. Eu ainda estou em tratamento, na próxima semana tenho minha última sessão de quimioterapia. E, depois disso, vem a cirurgia.
'Ser promovida foi uma surpresa'
Trabalhar nesse período me dava uma alegria maior porque eu esquecia um pouco das quimioterapias, sabe? Mas a promoção, que veio quando eu estava em tratamento há menos de um mês, foi uma surpresa. Foi algo muito importante e que eu estava me preparando profissionalmente para alcançar. Só não imaginava que seria naquele momento. Não só pelo câncer, mas pela configuração da empresa.
Quando a diretora de marketing me ligou e ofereceu a promoção foi muito emocionante. Ela disse que eu poderia ficar à vontade para só assumir o papel quando me sentisse bem. Mas, na verdade, falei que aquilo era uma motivação para mim, para eu querer acordar sempre bem disposta.
Eu estava buscando essa nova colocação há muito tempo, mas nem tudo acontece na hora que a gente quer. Fiquei bem feliz em poder ter essa felicidade na minha vida naquele momento.
Mesmo dizendo que queria, ainda deixei claro na Nivea que a minha prioridade naquele momento era a minha saúde. Questionei se estava tudo bem para eles colocarem uma pessoa para trabalhar naquela posição que poderia não aparecer em uma reunião por não estar se sentindo bem, por exemplo. E, mesmo assim, fui promovida a gerente executiva de Cuidados Pessoais. Tive o diagnóstico dia 29 de janeiro, comecei as quimioterapias dia 11 de fevereiro e fui promovida dia 8 de março.
Descobri essa semana que o nódulo sumiu, mas há uma área que aparece na ressonância que continua lá. Então, junto aos médicos, eu decidi tirar os dois seios e colocar silicone, para o bem da minha autoestima. Isso vai preservar minha saúde, mas vai ser uma cirurgia maior, mais complicada. E o cuidado, mais longo também. Tento olhar pelo lado positivo. Pelo menos, com silicone, vou ter peitos bonitos para sempre.
Uma amiga da minha mãe disse que eu tinha que seguir os F 's: foco, força e fé. E eu, como boa marketeira que sou, incorporei isso na minha vida, mas acrescentei mais um: o fod*-se. Porque, às vezes, você precisa dele também. É força para enfrentar as sessões de quimio, mas fod*-se se o cabelo começar a cair. Não tem o que fazer a respeito.
Como se tornou meu lema, produzi umas 30 ou 40 camisetas com essas quatro palavras bordadas. Distribuí na minha família, entre amigas e para os meus sobrinhos (mas a deles, sem o palavrão). Toda sessão de quimioterapia, minhas amigas e minha família me mandam uma foto usando a camiseta. E isso me dá energia e muita força." Vanessa Verea, 36 anos, gerente executiva de Cuidados Pessoais da NIVEA, em São Paulo
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.