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Maria Beltrão: 'Envelhecer incomoda, mas é muito bom entender quem você é'

Maria Beltrão estreará no "É de casa" no próximo dia 9 de julho - TV Globo/Victor Pollak/Divulgação
Maria Beltrão estreará no 'É de casa' no próximo dia 9 de julho Imagem: TV Globo/Victor Pollak/Divulgação

Luiza Souto

De Universa, do Rio de Janeiro

08/07/2022 04h00

Era outubro de 1996 quando a então recém-formada em jornalismo Maria Beltrão dava o pontapé na carreira junto com a GloboNews, o primeiro canal com 24 horas de notícias do país. Vinte e cinco anos depois, ela diz em entrevista a Universa cheia das risadas já conhecidas que tem sentido as mesmas borboletas no estômago daquela época: ela estreia como apresentadora do "É de Casa" neste sábado (9), após quatro anos maturando novos voos na carreira.

"Não sei exatamente o que esperar, e isso me faz ficar mais animada e querer dar mais ainda de mim. Me faz rejuvenescer. Estou com 50 anos, mas cheia de borboletas no estômago", celebra ela, antes de entregar que vem tentando não assistir ao canal pago para desapegar. Maria apresentava o "Estúdio I", hoje sob o comando de Andréia Sadi.

Mas ela já ela vem colocando o trabalho de casa em dia. Após passar anos sem cozinhar, Maria conta que o programa já mudou a sua rotina e a fez até resgatar os tempos à beira do fogão, para alegria da família. No cardápio, pão, risoto de camarão, polenta, sobremesa de pera. O bacalhau ainda não deu certo, mas ela segue tentando.

"Eu me tornei a louca da cozinha, e meu marido e minha filha estão adorando", fala ela, casada com o advogado Luciano Saldanha, e mãe de Ana, de 19 anos.

Muito criticada no início da carreira, por "falar com a mão", "errar muito" e "ter o quadril continental", Maria ensina que a beleza de envelhecer, para ela, é justamente contemplar suas experiências, saber exatamente quem é e lidar com as negativas da vida.

Na conversa ocorrida exatamente três dias antes de entrar oficialmente na menopausa, fala que lida "de forma sensacional" com o período e garante que a reposição hormonal ajuda a mulher a "subir no lustre". "Essa parte está tudo bem, graças a Deus, salve salve!"

Na foto, Maria Beltrão há 25 anos, na estreia da GloboNews, ao lado do jornalista Marcio Gomes

UNIVERSA: Você foi a primeira jornalista a ser contratada pela GloboNews, há 25 anos. Como tem trabalhado sua cabeça em meio a tantas mudanças?
Maria Beltrão:
Com meus amigos, com a família que construí na GloboNews. Trabalhei meu emocional dessa maneira, e vou continuar convivendo com os meus. Não está sendo fácil, mas já foi pior. Depois que houve essa decisão de eu sair da GloboNews, mas continuava lá, parecia que vivia uma eterna despedida. Tanto que tento não assistir. Mas foi uma decisão que maturei por quatro anos, um desejo de ousar. A GloboNews me fez a profissional que eu sou.

Essa mudança também tem a ver com o avançar da idade?
Não. Escrevi um livro durante a pandemia, "O Amor Não Se Isola", em que eu colocava no papel o que vinha na minha cabeça. E comecei a olhar para o meu passado e a ter orgulho da minha história. Fiz balanços da vida e pensei: "Nossa, vou fazer 25 anos de GloboNews, 50 de idade. Acho que estou fechando um ciclo." E pensei que estava na hora de buscar coisas novas.

Você tem medo de envelhecer?
Não. É dificil, mas acho lindo e amo envelhecer. Me acho mais interessante com a experiência que tenho hoje. Me dá mais tranquilidade saber quem eu sou e os "nãos" que tenho que lidar. Ao mesmo tempo tenho o olhar curioso de 10 anos de idade. Eu quero olhar a vida com olhar de criança, de quem quer conquistar muita coisa.

Maria Beltrão (Reprodução/GloboNews) - Reprodução / GloboNews - Reprodução / GloboNews
"No início falavam que eu era ruim, que falava muito com as mãos, que não tinha padrão de apresentadora", diz Maria Beltrão
Imagem: Reprodução / GloboNews

Mulheres de 50 falam muito que estão melhores hoje que aos 20. Você tem essa percepção?
Claro que ao envelhecer a gente fica de saco cheio. Às vezes, falo: "Deus do céu, não é possível essa pálpebra caída." Claro que me incomodo com as coisas. Eu tenho minha vaidade. Mas com toda sinceridade, é muito bom você entender quem você é, e isso só vem com a idade. Depois que você entende o que você gosta, quem você é de verdade, você passa a ser muito mais feliz. Você não faz concessões para coisas que às vezes nem pensa que está fazendo para agradar uma pessoa.

Quando você descobre que todos somos seres exclusivos, intransferíveis e irrepetíveis e consegue entender que não dá para ser perfeito, mas tem que tirar de você a sua melhor versão, você se gosta mais.
Maria Beltrão

Como você lida com a menopausa?
De forma sensacional. Entrei na menopausa no fim de junho. Quando a menstruação começou a pular foi muito desgastante. É uma fase muito chata, porque ficava dois meses sem vir, depois voltava... Vi muita amiga sofrendo, se transformando em outra pessoa, ficando irritada e não se reconhecendo, então já vinha me preparando, estudando sobre reposição hormonal junto com ginecologista e endócrino. Fiquei bem alerta a qualquer tipo de sintoma e percebi uma variação de sono estranho, uma insônia, tristeza. E eu sou uma pessoa zero triste.

Comecei a reposição mesmo antes de completar um ano sem menstruar. E tudo ficou maravilhoso. Tive aquela crise aos 48, achando que os 50 seriam pesados, mas aos 49 estava achando ótimo e aos 50 estou na maior animação.

Esse processo prejudicou a sua libido?
Posso garantir que está tudo bem nesse departamento. E é muito importante falar sobre isso porque têm mulheres que entram na menopausa e não percebem, mas depois que fazem a reposição hormonal até se penduram no lustre. E também não dá para colocar a culpa toda na menopausa. Existe um milhão de possibilidades que ajudam a passar por essa fase. Dá até para fazer o laser vaginal para melhorar a libido, e se eu tiver que fazer, pego até a senha.

Você procura tratar com mais leveza as notícias. Sempre foi assim na vida?
Sou animada desde criancinha. Era bagunceira e serelepe. E acho que é um serviço que a gente faz para as pessoas, o de trazer leveza em meio a notícias difíceis. O bem não faz ruído e o ruído não faz bem. Geralmente a notícia é ruim mas tem que lembrar que a vida é boa. Só se combate o mau com abundância do bem, e levar leveza é minha vocação. É óbvio que há momentos muito tristes na vida, mas não deixo subir à cabeça.

Você já chorou no ar dando notícia, como a morte do menino Henry Borel. O que tem feito para manter a sanidade?
Eu não sou nada sem Deus. Acordo, peço ajuda e por isso vou em frente. Sou católica e trabalhar a espiritualidade, para mim, ajuda até a envelhecer melhor, e a ver as tragédias com o olhar da fé. Em vez de perguntar por que, questiono para que. A gente vai ficar triste, arrasado, vai ter dificuldade de entender por que as coisas acontecem, mas rezo todo dia para ter essa musculatura espiritual para todas as adversidades.

Maria Beltrão estreará no programa 'É de casa' dia 9 de julho - TV Globo/João Cotta/Divulgação - TV Globo/João Cotta/Divulgação
Maria Beltrão estreará no programa 'É de casa' dia 9 de julho
Imagem: TV Globo/João Cotta/Divulgação

Sempre se sentiu acolhida no ambiente de trabalho?
Sim. Foi muito difícil o começo da GloboNews. A gente levou muito tombo, eu era muito criticada por que tinha saído direto da faculdade, errava muito, ninguém sabia fazer uma televisão 24 horas, e não existia o improviso na TV. Mas estávamos todos juntos naquela aventura. A gente apanhava muito. mas isso criou um laço indelével.

E foi a Hebe Camargo que te incentivou a continuar na carreira, né?
Eu tô aqui graças à Hebe, porque quando estava recebendo muitas críticas, a encontrei num karaokê. Ninguém me conhecia muito, mas ela olhou para mim, sorriu, e perguntou: "Você não é a aquela gracinha da GloboNews?". Falei que sim, mas que estava triste porque falavam que eu era ruim, que falava muito com a mão, que não tinha padrão de apresentadora pois era muito grande e na época eram todas mignon. Aí ela disse: "Persista, não desista, é assim mesmo. Enfrenta. Crítica é pra gente crescer". E tô aqui até hoje.