Topo

'Ainda o agradeci por tudo', diz nova possível vítima de anestesista preso

Vendedora que foi totalmente sedada pelo anestesista preso por estupro abraça a mãe - Acervo pessoal
Vendedora que foi totalmente sedada pelo anestesista preso por estupro abraça a mãe Imagem: Acervo pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro

12/07/2022 11h54

Uma vendedora de 23 anos, grávida de gêmeos, foi uma das pacientes que foi totalmente sedada durante uma cesariana realizada no último dia 6 no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde o anestesista Giovanni Quintella Bezerra foi preso por estupro na segunda-feira (11).

A paciente acredita que também tenha sido vítima do médico. Assim que o reconheceu nas notícias sobre a prisão, a família lembrou que a jovem retornou para o quarto com o rosto manchado de branco. A paciente foi limpa com lenço umedecido. Em entrevista para Universa, a jovem disse que foi dopada, que se sente revoltada e lembrou que chegou a agradecer o atendimento ao anestesista.

"Após acordar, ele me perguntou como eu estava, lembrei dele, ele me disse: 'você é a mãe dos gêmeos'. Ele aplicou mais remédios e agradeci a ele por tudo', contou a vendedora que mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

Paciente ficou sedada 12 horas

O casal enfrentou problemas durante o parto dos gêmeos. A mulher foi submetida a um parto normal e a uma cesariana no dia seguinte. A cirurgia começou sem a realização de uma ultrassonografia e segundo a família, a equipe médica enfrentou dificuldades para localizar o bebê durante o parto.

A mãe da paciente contou que a filha ficou mais de 12 horas sedada após o procedimento. "Foram muitas horas sedadas. Isso não é normal, mas estávamos muito preocupados com os bebês".

Devido a demora do parto, um dos gêmeos faleceu um dia após a cesárea. O outro, que nasceu de parto normal, segue internado.

O marido contou ainda que permaneceu apenas dois minutos no centro cirúrgico. Giovanni pediu que ele se retirasse do local. A decisão não foi questionada. "É uma sensação de revolta, sua mulher entra no hospital, você acha um lugar seguro, e vê tudo isso. Ele [Giovanni] mesmo estava me orientando a colocar o hospital na Justiça".

A alta sedação dos pacientes foi uma das atitudes que levaram a equipe de enfermagem do hospital a desconfiar do anestesista.

A sedação total da gestante é considerada desnecessária. Em depoimento à polícia, uma técnica de enfermagem e uma enfermeira relataram ainda que Giovanni tinha o hábito de montar "uma cabana" com o uso de um capote - o que dificultava a visão da paciente.

Entenda o caso

Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (11) pelo crime de estupro de vulnerável.

Um vídeo gravado com um celular escondido na sala de cirurgia do Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti (RJ), mostra o profissional colocando o pênis na boca da paciente, que está dopada para o nascimento do bebê.

O vídeo foi gravado e entregue à polícia por enfermeiras da unidade, que desconfiaram da quantidade de sedativo usado pelo anestesista em outras ocasiões e da movimentação dele próximo à paciente, segundo a Polícia Civil.

Nas imagens gravadas, a mulher aparece deitada e inconsciente durante o parto. Do lado direito do lençol, sempre usado em cesarianas, o médico aparece colocando o pênis para fora e introduzindo o órgão da boca da mulher. O ato dura dez minutos. Do outro lado do lençol, a menos de um metro de distância, está a equipe médica trabalhando no nascimento do bebê.

A reportagem teve acesso às imagens, mas optou por não publicá-las para preservar a vítima.

O pai da criança foi comunicado sobre o crime e, até a saída da polícia da unidade de saúde, a vítima ainda não havia tomado conhecimento do estupro.

Antes de ser flagrado, o anestesista já havia participado de outras duas cirurgias e apresentado o comportamento suspeito.

Universa tentou contato com a defesa do médico, o advogado Hugo Novais, por telefone e por mensagem de aplicativo, mas ele apenas afirmou que se pronunciará em breve. A reportagem será atualizada assim que haja uma manifestação.

O crime de estupro de vulnerável tem pena prevista de 8 a 15 anos de prisão.