Agito, distração e irritabilidade: mães falam de rotina de filhos com TDAH
Agitação, distração e irritabilidade fazem com que crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, cujo dia internacional é hoje, sejam confundidas com mimadas e birrentas. Mas não é nada disso. O TDAH tem grande impacto na vida familiar, escolar, e nas interações sociais. "É um transtorno do neurodesenvolvimento cujos principais sintomas são falta de atenção, agitação e baixa tolerância à frustração", diz o neuropsicólogo Damião Silva.
Segundo o especialista, geralmente, quem sinaliza para os pais e consegue perceber a presença do transtorno de maneira mais clara são os profissionais das escolas. A avaliação é feita durante algumas sessões, com conversa, observação e questionamentos. Se houver a confirmação do diagnóstico, é indicada terapia comportamental e, em alguns casos, medicação.
O TDAH geralmente tem uma apresentação combinada com sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, mas nem todo mundo que tem o transtorno é igual. "Algumas pessoas apresentam desatenção ou somente hiperatividade e impulsividade. Além disso, podemos classificar em leve, moderado ou severo, de acordo com a intensidade dos sintomas", diz Rubens Wajnsztejn, médico neurologista da infância e da adolescência e diretor da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil.
Muitas vezes a sobreposição de sinais e sintomas de outros quadros pode confundir a equipe no momento da conclusão do diagnóstico. Conversamos com três mães que contam como descobriram que seus filhos eram TDAH, nos três casos, como dissemos no começo da matéria, a sinalização veio da escola.
'Fui estudar psicologia para ajudar meu filho'
"O Miguel sempre foi agitado, em casa corria muito, pulava no sofá toda hora, demorava muito para dormir, mas eu achava que era uma demanda comum da maternidade, nada demais.
Aos dois anos, ele já estava na escola e comecei a receber na agenda anotações sobre o comportamento dele. Além da agitação, era bravo, não tinha paciência. Com os colegas perdia a paciência ao interagir e acabava brincando sozinho. A escola não sabia lidar e eu acabava recebendo somente reclamações.
Levei para a psicóloga e ela falou que havia alguns traços de hiperatividade e mesmo sem fechar diagnóstico, passou a fazer terapia comportamental. Nas sessões passou a aprender a lidar com frustração, e a aceitar figuras que tinham alguma autoridade sobre ele. Na época, diante de alguma frustração ele chorava sem parar, tremia de raiva, se debatia.
Eu trabalhava com recursos humanos e decidi estudar psicologia, pois queria entender meu filho e ajudá-lo principalmente na escola. Me especializei em transtornos do desenvolvimento. Passei a trabalhar acompanhando crianças autistas em sala de aula e via muita semelhança de comportamento e desconfiava de que o Miguel poderia ser autista, por causa da dificuldade de lidar com frustração. Ele estava respondendo bem à terapia, eu e meu marido também fomos fazer terapia para ajudá-lo em casa.
Foi difícil, a gente até deixava de sair de casa porque muita gente olhava e ele não ficava um segundo na cadeira do restaurante, por exemplo.
Quando ele tinha cinco anos, fiquei sabendo que um instituto de psiquiatria estava fazendo um mapeamento e diagnosticando crianças com TDAH. Levei meu filho e depois dos testes, o laudo. Além disso, recebeu o diagnóstico de TOD, Transtorno Desafiador Opositor, que explicava a questão de não saber reagir a 'nãos' e ter dificuldade em obedecer.
Depois fui estudando e descobri que, se não for tratada, a criança, aos 18 anos, pode se transformar em alguém com problemas sérios de conduta e convivência em sociedade.
Ele continua o tratamento comportamental, faz aulas de circo e capoeira e está se desenvolvendo bem sabendo lidar com suas questões. A gente também. O que me preocupa hoje é que ele seja respeitado, que não seja visto como uma pessoa diferente nos ambientes por causa da hiperatividade e da falta de traquejo social. A impulsividade dele não é frescura." Bruna Ament, 32 anos, psicanalista, mão de Miguel, de 7 anos,São Paulo, SP
'Com o diagnóstico dele acabei descobrindo que também sou TDAH'
"O Kael era muito agressivo em certas situações e ficava nervoso quando algo saía errado. Na creche, pediram para levar no neuropediatra. Além da questão do comportamento, ele aprendia as coisas de maneira muito rápida e tinha uma coordenação motora muito boa para a idade e isso são características do transtorno.
Nas primeiras avaliações houve suspeita de autismo por causa de características comuns, mas no decorrer das sessões ficou fechado que era déficit de atenção com hiperatividade. O diagnóstico foi rápido, com o primeiro médico. E, como ele era muito pequeno —tinha 4 anos—, não foi receitada nenhuma medicação. Ele é uma criança agitada, mas tem um bom desenvolvimento na escola, está aprendendo a escrever.
A maior questão hoje é o sono, pois ele só dorme se estiver muito cansado. Então, ele tem que ter uma rotina puxada, de brincadeiras, artesanato e também musicoterapia e aulas de dança.
Eu percebi que era também TDAH quando comecei a pesquisar o assunto para acompanhar meu filho. Na escola o pessoal falava que eu era agitada, hiperativa, mas minha mãe não tinha condições de levar a gente ao médico. Sabendo que tenho, passei a pesquisar mais. Aprendi a lidar melhor com minha ansiedade, a não ficar nervosa quando quero algo, com expectativas e cobranças." Josiane Soares, 30 anos, vendedora, mãe do Kael, de 4 anos, de Indaiatuba, SP
'Tenho um filho autista e uma filha TDAH: aqui é animado'
"Eliseu, meu primeiro filho, está com oito anos. Ele teve atraso na fala, era uma criança muito quieta, fica na dele o tempo todo —recebeu o diagnóstico de autismo aos três.
Aos 4 anos, começou a fazer acompanhamento e está superbem. Foi complicado receber o diagnóstico de autismo, eu chorei muito. Conversando com uma prima, que era professora de autistas, recebi o melhor conselho. A questão não era como mudar a criança, mas como ajudar no processo de crescimento para que ele pudesse ser o que quisesse na vida.
Depois veio a Zoe, hoje com 6 anos, que também teve atraso na fala. Só começou a falar depois dos quatro, na mesma idade em que conseguimos fechar o diagnóstico. Os primeiros sinais foram percebidos na creche quando tinha dois anos. Ela não conseguia ficar na sala, mas não havia muita atenção por parte dos profissionais. Aí, resolveram colocar uma monitora para ela. A notícia de que era TDAH ajudou para que a gente pudesse saber com o que estava lidando e orientar a escola, fazer tratamento.
Hoje minha maior questão é a inclusão escolar. Este ano mudei a Zoe para uma escola estadual, para que ela pudesse ficar perto do irmão e facilitar nossa rotina. Só que não há escolas do estado para TDAH, só para autistas.
Isso me preocupa, pois ela não para quieta e precisaria de adaptações —atividades de curta duração, com intervalos, mais tempo para fazer provas, essas coisas.
O fato de já ter um filho autista não fez o diagnóstico ser pior, não. Cada um tem seu jeito, eles se amam, se dão muito bem. Ele mais quietinho, ela mais agitada." Alessandra Sabino, 42 anos, advogada, mãe da Zoe, de 6 anos, de Governador Valadares, MG
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