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Miss Minas Gerais Kids é alvo de racismo: 'Suei frio, senti medo', diz mãe

Duda, miss minas gerais kids - Reprodução/Instagram
Duda, miss minas gerais kids Imagem: Reprodução/Instagram

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

14/07/2022 12h46

Quando inscreveu sua filha Maria Eduarda, de 4 anos, no concurso Miss Minas Gerais Kids —que elege a criança mais bonita para representar o estado no Miss Brasil Kids— a massagista Adriana Barbosa, tinha uma intenção clara: mostrar para a pequena que ela poderia ser uma princesa, mesmo que, na televisão, nenhuma princesa em filmes e desenhos tivesse o cabelo como o dela. Deu certo: em março, Duda foi eleita para representar seu estado.

Embora ela veja efeitos positivos na autoestima da filha, também viu a menina ser alvo de comentários racistas nas redes sociais. "Isso não é cabelo de princesa'', Tá mais para bruxa", escreveu o perfil de uma mulher, justamente nos comentários de um vídeo postado há uma semana, em que Duda fala sobre o cabelo.

"Os primeiros comentários foram mais brandos, falando que o cabelo não era bonito, que ela não tinha perfil para miss. Eu apagava, bloqueava a pessoa. Mas chegou um momento que ficou muito pesado pra gente", lembra Adriana. "Eu sabia que minha filha poderia ser alvo de racismo, claro, mas no futuro. Nunca imaginei que alguém atacaria uma criança tão pequena".

A menina não soube do comentário, afinal tem apenas 4 anos e não acessa as redes sociais, mas os pais foram profundamente afetados.

"Quando vi, suei frio. Não foi só um ataque racista, mas foi direto no sonho de uma criança, na autoestima dela. Comecei a chorar, queria apagar o perfil dela, tirar do concurso. A vontade era de pegar minha filha só para mim e proteger do mundo, mas sei que não sou eterna e não posso proteger ela de tudo".

"É cruel pensar que preciso preparar uma criança de 4 anos contra o racismo é muito cruel. Como mãe, tenho que fortalecê-la, garantir que ela tenha força e autoestima suficientes para reagir quando um ataque for direcionado a ela"

A decisão de Adriana, então, foi manter a filha no concurso: "Não é a Maria Eduarda que está errada, que tem que desistir do sonho dela".

Representatividade

A Universa, Adriana contou que a decisão de inscrever Duda —que já era uma pequena digital influencer, com as redes sociais administradas pela mãe- no concurso Miss Minas Gerais Kids surgiu depois que a menina percebeu que seu cabelo black não aparecia entre as princesas que gostava de assistir.

"Um dia, ela estava assistindo a um desenho e disse que também queria ser uma princesa. Eu falei que ia comprar um vestidinho e ela respondeu: 'Não adianta, mamãe, eu não tenho o cabelo caído'", lembra Adriana -a menina se referia ao próprio cabelo, que é black".

"Percebi que era o momento de empoderar ela, buscar referências, mostrar que tem princesas no perfil dela -mas procurei, procurei, e não encontrei. Mesmo as princesas negras têm cabelo cacheado, mas não black, 'para cima', como ela fala. Entendi que o melhor caminho era transformá-la numa princesa, assim ela também seria referência para outras meninas, que como ela também não têm referências nos desenhos, nos filmes".

Adriana mandou para o Miss Minas Gerais Kids todo o material de Duda —fotos, vídeos, tudo caseiro, afinal, não tinha como pagar imagens feitas em estúdio, por um profissional.

"Eu realmente não pensei que ela poderia ser escolhida. Mas quando mandaram a faixa de miss, nossa, foi uma alegria só. Ela ficou muito feliz, se sentiu uma princesa de verdade", conta.

Agora, a família se dedica à trajetória de Duda como influencer digital e modelo.

Segundo a mãe, a menina faz aulas de passarela e vai começar a estudar inglês. Em outubro, ela vai representar o estado de Minas Gerais no concurso Miss Brasil Kids. "Depois, o próximo passo é o Miss Universo", fala Adriana.