Anestesista preso é filho de médico e elogiado por ex-colega: 'Era ótimo'
À medida que surgem informações sobre a vida do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, 32 anos, preso em flagrante pelo crime de estupro de vulnerável contra paciente dopada para o nascimento do bebê, no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, mais as pessoas próximas se chocam com os detalhes de suas atitudes. Isso porque até então, dizem as pessoas próximas a ele e ouvidas por Universa, Giovanni jamais teria apresentado qualquer sinal de que seria um criminoso em potencial. Além disso, Giovanni é filho de um elogiado obstetra.
Um enfermeiro de 24 anos que conversou com Universa disse que conhecia e acompanhava Giovanni pelas redes. Sem querer ser identificado, o morador de Manaus (AM) disse que durante suas conversas o anestesista se mostrava sempre muito atencioso. "Ele era uma ótima pessoa. Não sabia desse lado dele, mas a gente nunca sabe o que outro está pensando. Nunca imaginei que ele faria essas coisas. Fiquei abismado."
Um colega de faculdade da UniFOA (Centro Universitário de Volta Redonda), onde Giovanni se formou em 2017, disse por mensagem de texto à reportagem que jamais ouviu qualquer reclamação contra o anestesista. "Se tivesse relatos de desvio de conduta do sujeito enquanto aluno na época ele teria sido desligado", garante.
Logo após as imagens que mostram Giovanni cometendo o crime de estupro de vulnerável se espalharem, representantes do UniFoa emitiram uma nota de repúdio em que dizem que ao longo dos seus 54 anos de existência vem formando profissionais para que exerçam suas profissões com responsabilidade, ética e respeito.
A nota informa ainda que repudia veementemente a prática exercida por qualquer uma das pessoas que tenham feito ou façam parte do seu corpo social.
Em conversa com apoiadores sobre o crime, porém o presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o ensino de "ideologia" nas universidades e questionou: "Qual é a educação desse cara? O que que ele aprendeu na faculdade?"
Universa procurou a assessoria de imprensa da instituição para repercutir a fala do presidente e também apurar se já houve alguma denúncia de comportamento abusivo por parte de Giovanni na unidade, mas por e-mail a instituição informou que seu pronunciamento será somente a nota de repúdio e também que não poderia compartilhar informações sobre o ex-aluno devido à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
Para o aluno ouvido por Universa, questionar a "ideologia" do lugar onde Giovanni se formou é "transferir responsabilidade". Ele escreveu: "Como se a índole, o caráter das pessoas fosse matéria de grade curricular."
Pai de anestesista preso é médico elogiado
Além de ter atuado em pelo menos 10 hospitais públicos e privados, Giovanni é sócio do pai, que é ginecologista e mastologista, numa clínica de exames de imagem no bairro Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro.
O pai de Giovanni é especialista em videolaparoscopia, tem consultório em Vila Isabel e na Barra da Tijuca e abriu a Femi Video Clinica Ltda em 1997. O estabelecimento executa serviços de pré-natal/parto e nascimento e fica em Vila Isabel. Giovanni entrou na sociedade em janeiro de 2018, logo após ter se formado médico no Sul Fluminense.
Em sites de busca, comentários elogiam o médico como "excelente profissional", "o melhor médico do mundo", "de total confiança" e "melhor mastologista."
Universa tentou entrar em contato nos telefones disponíveis do seu consultório, mas ninguém atendeu.
Já a mãe de Giovanni, Andrea Quintella Bezerra, é mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial e professora na Universidade Estácio de Sá, onde coordena o curso de Administração.
Segundo reportagem do jornal O Globo, desde que Giovanni foi preso, seus pais têm ido até o local em que ele morava sozinho de aluguel na Avenida Lúcio Costa, na Barra, para desocupar o imóvel.
A matéria aponta que a dupla chega ao local entre 6h e 7h com um semblante sério e sai sem falar com ninguém. O pedido para liberar o apartamento o mais rápido possível veio do proprietário, que ficou chocado com o crime, ainda segundo o jornal.
Moradores ouvidos pelo jornal informaram que Giovanni era extremamente reservado e não costumava conversar com ninguém no condomínio, e que todo dia ia para a academia que fica ao lado do prédio em que morava para treinar com um personal.
A Polícia Civil do Rio investiga mais de 30 possíveis casos de estupro de pacientes que foram atendidas pelo anestesista. A delegada Bárbara Lomba, responsável pelo inquérito, informou que a Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) vai analisar caso a caso. "São mais de 30 pacientes identificadas [também] em outros hospitais e nós vamos continuar identificando. Não são relatos ainda. Nós precisamos investigar. Primeiro fazer uma triagem, saber o tipo de procedimento, o que aconteceu e aí vamos aprofundando", ela explica.
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