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Influencer revela que foi estuprada por namorado: entenda o estupro marital

Rebecca Vettore

Colaboração para Universa, de São Paulo

17/07/2022 12h24

Na semana passada, a criadora de conteúdo Alexandra Gurgel contou em sua rede social que foi estuprada pelo namorado aos 18 anos. No vídeo, a influenciadora disse ser a primeira vez que falava sobre o estupro marital publicamente, porque não queria ficar marcada e sentia uma vergonha enorme.

Alexandra afirmou que sua intenção era mostrar para outras pessoas que passaram pela mesma situação de violência e abuso que dava para seguir a vida e falar sobre o que aconteceu. "Sinto que é preciso falar. Quem puder e quiser, fale também. Que não aconteça com mais ninguém", disse.

Assim como a influenciadora, muitas mulheres são violentadas por aqueles que mais confiam: seus parceiros. Esse tipo de estupro é conhecido como marital e é entendido como a prática do ato sexual, seja do marido ou companheiro, de maneira forçada.

Estupro marital: lei e traumas

De acordo com a psicóloga Adriana Severine, de São Paulo, o estupro realizado por um conhecido abala ainda mais a vítima pois ela é violada por alguém que ama e confia, e não espera que aquilo aconteça. "A consequência desse tipo de estupro é muito pior porque quebra a confiança que a pessoa tem. A vítima se torna mais reclusa e a possibilidade dela cometer um suicídio se torna muito maior, porque não tem segurança dentro da própria casa", diz Adriana.

A psicóloga afirma que as consequência e os traumas na vida da vítima são muito sérios. "A mulher não descansa nunca, porque fica ansiosa, insegura e com medo. Fica sempre em alerta, precisa fugir o tempo todo e não consegue mais confiar nas pessoas. Essa falta de confiança vai afetar toda a vida, não só no aspecto amoroso, mas em todos os tipos de relacionamento que a vítima vai ter dali para frente. E ela pensa, se uma pessoa tão íntima teve coragem de fazer isso, o que uma pessoa que não conheço também pode fazer?", completa a psicóloga.

Esse tipo de estupro está previsto na Lei Maria da Penha, porém aspectos sociais, como a vergonha, a culpa e o medo, podem dificultar a realização da denúncia.

As normas sociais e a desigualdade de gênero também podem ser apontadas como responsáveis pela continuidade desses relacionamentos abusivos, porque elas permeiam as relações sociais e afetivas.

Além do próprio ato sexual, outras ações são classificadas como violência sexual, que muitas vezes acontece dentro de casa:

  • Quando o companheiro obriga a mulher a praticar atos sexuais que causam desconforto ou repulsa;
  • Quando a impede de fazer usar métodos contraceptivos;
  • Quando força a mulher ao matrimônio, gravidez ou prostituição por meio de coação, chantagem ou suborno;
  • Quando limita ou anula o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos da mulher.

Estupro marital no Brasil e no mundo

De acordo com um relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado em 2021, uma em cada quatro adolescentes e jovens, entre 15 anos e 24 anos, que esteve em um relacionamento, já sofreu violência de um parceiro íntimo.

Ainda segundo informações da organização, das 736 milhões de vítimas que sofrem com o problema, 641 milhões delas foram agredidas e violentadas pelo próprio marido, namorado ou companheiro.

A falta de leis pode ser apontada como um dos motivos por trás da falta de punição contra esse tipo de violência. De acordo com o relatório da Situação da População Mundial, do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) também divulgado em 2021, 43 países não têm nenhuma lei que criminalize o estupro marital.

Em 2018, as violências sexuais praticadas por cônjuge ou companheiro representam 13,15% dos crimes de estupro praticados no Brasil, segundo o Atlas da Violência.

No ano seguinte, os dados continuaram preocupantes. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, em 76% dos casos de violência sexual, o agressor é uma pessoa próxima da vítima, sendo muitas vezes o próprio parente ou vizinho. Apenas 7,5% das vítimas formalizaram a denúncia.