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Mulher retida por médico relata danos de cirurgia: 'Buraco na barriga'

De Universa, em São Paulo

19/07/2022 10h39Atualizada em 19/07/2022 17h51

A paciente que denunciou o médico Bolivar Guerrero Silva por cárcere privado contou detalhes sobre as complicações que vive após passar por uma cirurgia plástica com o profissional, no Hospital Santa Branca, unidade de saúde particular em Duque de Caxias (RJ).

Daiane Chaves Cavalcante, 36, está internada em estado grave desde junho, com "várias complicações". A acompanhante da mulher procurou a polícia para prestar queixa depois de o cirurgião ter supostamente dificultado a transferência dela para outro hospital.

"Meu peito está todo necrosado e eu estou com dois buracos na barriga, um embaixo do umbigo. Eu não vejo meu umbigo. Me falaram que não era para eu contar pra ninguém que eu estava assim, não era pra eu contar para a minha família", afirmou a paciente em entrevista ao "RJTV", da TV Globo.

"Não podia andar pelo corredor, não podia fazer nada, só podia ficar trancada no quarto em que eu estava. Meu sentimento é de 'apavoramento', de dor, de angústia, de querer ir embora, de querer sair daqui", acrescentou ela.

Após a denúncia da colega da vítima, os policiais foram até o hospital, atestaram que a paciente corria risco e conseguiram uma liminar para que ela deixasse o local. Depois que a notícia foi divulgada, outras quatro mulheres já buscaram a delegacia, segundo a delegada Fernanda Fernandes, da Delegacia de Atendimento à Mulher da cidade fluminense, responsável pelo caso.

Bolivar foi preso temporariamente no domingo (17) dentro do centro cirúrgico do Hospital Santa Branca. Ele vai responder por cárcere privado e associação criminosa.

Até a tarde de ontem, Daiane continuava na unidade de saúde, enquanto sua família ainda decidia para onde ela iria ser transferida.

"O que ele fez na barriga da minha filha não é brincadeira não, aquilo ali é demais. Ela queria 'ficar vaidosa', se ajeitar, não merecia isso", declarou o pai da mulher, Paulo Lacerda, em entrevista à emissora carioca, na porta do hospital.

Cirurgião já foi preso

Bolivar trabalha em Duque de Caxias desde 1996. Ele já havia sido preso em 2010, na operação "Beleza Pura", da Polícia Civil do Rio, acusado de aplicar um medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa. O profissional responde a outros 19 processos, segundo informações das autoridades do estado.

Entre eles, está o movido pela família da paciente Cintia Fernandes de Oliveira, de 39 anos, que morreu na sala de cirurgia, em 2016, durante uma lipoescultura feita pelo cirurgião. Os parentes da mulher afirmam que ela foi vítima de imprudência.

Já o Hospital Santa Branca, em que foi realizado o procedimento de Daiane, também já foi alvo de investigação. Em janeiro de 2017, a vigilância sanitária estadual interditou a central de material esterilizado, após averiguar irregularidades no local.

Equipe de equatoriano negou cárcere

Pelas redes sociais, a equipe de Bolivar negou que o médico equatoriano tenha mantido a paciente em cárcere privado, afirmando que "ela estava fazendo curativo e sendo assistida no hospital dele por ele, mas queria ser liberada sem ter terminado o tratamento e ele como médico seria imprudente de liberá-la".

"Ele disse que poderia liberá-la se ela assinasse a alta a revelia — documento no qual a paciente se responsabiliza por qualquer coisa que acontecer após sua liberação — e ela não quis assinar. Como ela não assinou, ele não liberava", afirmou a nota, publicada no Instagram do médico, onde ele acumula quase 40 mil seguidores.

O comunicado ainda declarou que "em breve, o próprio doutor irá se explicar".

Em outubro de 2018, apesar das inúmeras denúncias em seu nome, Bolivar foi homenageado na Câmara dos Vereadores de Caxias com o título de cidadão caxiense, concedido pelo então vereador Junior Reis (MDB), irmão do ex-prefeito de Caxias Washington Reis.

"O que a gente tem agora são algumas outras vítimas procurando a delegacia e a gente vai registrar todas as ocorrências, de todas as vítimas que estão entrando em contato, inclusive por telefone", afirmou a delegada Fernandes, em entrevista coletiva na noite de ontem.

A diretoria do hospital também negou que Daiane tenha sido mantida em cárcere privado e afirmou que "zela pela saúde física e mental das pessoas internadas na unidade".

O Conselho Regional de Medicina do Rio abriu sindicância para apurar o caso.